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Le Monde/Brasil

Le Monde destaca "confissões ridículas" de Bia Doria, primeira-dama de SP

O jornal francês analisa a entrevista da mulher do novo prefeito de São Paulo, João Doria Jr, à "Folha de S. Paulo”. De acordo com o Le Monde, Bia Doria se considera "do povo” e deixa transparecer uma visão machista e ultrapassada da mulher brasileira. Declarações que trazem à tona as desigualdades da sociedade brasileira.

Beatriz Maria Doria, mais conhecida como Bia Doria
Beatriz Maria Doria, mais conhecida como Bia Doria wikipédia
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Segundo Le Monde, a crise e a decepção do Brasil com as elites levaram a população a se "consolar" com temas mais levianos, como a “paixão” pelas primeiras-damas. Um dos exemplos, cita o diário, é o debate sobre os vestidos de Marcela Temer, a mulher do novo presidente. A política do espetáculo, lembra o jornal francês, agora tem uma nova representante: Bia Doria, descrita pelo Le Monde como artista de fino-trato, ecologista chique e especialista em esculturas de madeiras.

Na entrevista concedida à Folha, diz o Le Monde, “madame Bia” não esconde seu desconhecimento total dos bairros populares de São Paulo, compara a favela de Paraisópolis, na zona sul da cidade, à Etiópia, e se apresenta como uma mulher do povo. “Eu me sinto como Evita Péron, eu me sinto do povo”, disse a primeira-dama na entrevista, garantindo que, muitas vezes, para consolar os mais pobres, “basta um abraço.”

Primeira-dama vira piada nas redes sociais

Nas redes sociais, Bia Doria virou motivo de piada. O jornal satírico “O Sensacionalista” divulgou uma “epidemia de náusea no café da manhã” com a leitura da entrevista. E há quem sugira que o governo instaure uma política de redução das desigualdades distribuindo abraços e apertos de mão.

O antropólogo Stéphane Malysse, professor da USP, entrevistado pelo jornal, vê em Bia Doria “o retrato da classe AAA, dos ultrarricos que viajam de helicóptero para evitar engarrafamento”.

Divisão maniqueísta da sociedade

Para o jornal, personagens como Marcela Temer e Bia Doria, retratos mais do que arcaicos da mulher brasileira, trazem à tona a divisão da sociedade brasileira depois da destituição da presidente Dilma Rousseff. É uma estratégia que revolta os progressistas e os jovens, mas revela um maniqueísmo evidente. Hoje no Brasil, diz Le Monde, a esquerda se opõe à direita, o passado ao futuro e os pobres aos ricos.

“A queda de Dilma, a descida ao inferno de Lula e a crise do PT, que pela primeira vez tentou romper as castas sociais no Brasil, oferecendo dignidade aos mais modestos, são percebidos como uma manobra da Casa Grande, a elite brasileira cuja única preocupação é preservar sua renda. Madame Doria defendeu, com doçura, sem dúvida, o discurso típico dos ricos que tomam conta de seus empregados, com quem mantém uma relação meio paternalista, meio humilhante.”
 

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