Partidos franceses à esquerda do PS denunciam "golpe" no Brasil
Os dois maiores partidos franceses, o Partido Socialista (PS) no poder, e o Les Républicains (LR, Os Republicanos), do ex-presidente Nicolas Sarkozy, não têm uma posição oficial sobre a atual crise política brasileira e o processo de impeachment da presidente Dilma Rousseff. Já os partidos Comunista (PCF) e de Esquerda (PG) denunciam um "golpe" no Brasil.
Publicado em: Modificado em:
Procuradas pela RFI, as direções do PS e do LR informaram que não adotaram uma posição conjunta e oficial sobre a crise brasileira. Pierre Lellouche, deputado LR e delegado de Relações Internacionais do partido, deu uma declaração lacônica dizendo que "segue com atenção a evolução da situação no Brasil, mas (a sigla) não tem posição oficial".
Pelo telefone, o secretário nacional de assuntos internacionais do PS, Maurice Braud, disse que o partido não vai divulgar nenhum comunicado porque "não quer dar nenhuma lição, fazer ingerência, ou estigmatizar alguém em um assunto que é interno." O PS avalia que o impeachment é previsto pela Constituição e que ele não pode questionar ou julgar um decisão democrática de um país.
No entanto, Maurice Braud considera o processo baseado nas pedaladas fiscais e não na corrupção "singular". Ele acha que a Justiça deve fazer seu trabalho e acontecer para todo mundo, independentemente dos acontecimentos, "inocentando os inocentes e condenando os culpados".
Para o secretário do PS, o verdadeiro assunto político que deve preocupar os brasileiros "é como sanear e tornar mais transparente as regras de financiamento da vida pública". Braud não teme pelo futuro do Brasil, que já superou outras dificuldades no passado. Ele diz que o PS está preocupado com a estabilidade internacional, mas confiante na capacidade das instituições políticas e judiciárias em tirar o país o mais rápido possível dessa crise e retomar o crescimento para "tranquilizar a comunidade internacional".
PCF condena "golpe de Estado institucional"
O Partido Comunista Francês (PCF) foi o único que publicou em seu site um comunicado condenando o “golpe de Estado institucional em curso” no Brasil. O texto informa que a aprovação do relatório pró-impeachment pela comissão parlamentar é “a nova etapa da ofensiva lançada pela direita, com o apoio de grandes organizações empresariais do agro-negócio e da indústria, assim que a presidente brasileira foi reeleita.”
O PCF avalia que as pedaladas fiscais, que servem de “pretexto” no processo de destituição de Dilma, “garantiram a continuidade dos programas sociais que beneficiam milhões de pessoas.” Os opositores da presidente brasileira, “que a acusam de colocar em risco o equilíbrio das contas públicas, sempre foram contrários a essas políticas de combate à pobreza” e a outras reformas importantes do país, diz o comunicado.
Para o Partido Comunista, o processo contra Dilma é político e comandado por uma oposição, que, envolvida em vários escândalos, não tem legitimidade para acusar a presidente de corrupção. O comunicado também condena o “espetáculo deplorável” da mídia e de boa parte do judiciário que “visa de maneira seletiva os militantes de esquerda.” O PCF se solidariza com os militantes do PT e da esquerda brasileira e conclui dizendo que “a direita tenta hoje no Brasil os mesmos métodos que levaram aos golpes de Estados institucionais contra o presidente paraguaio Fernando Lugo, em 2012, e contra o hondurenho Manuel Zelaya, em 2009.”
Volta da direita na América Latina
O Parti de Gauche (PG, Partido de Esquerda) do líder Jean-Luc Mélenchon, quarto colocado no primeiro turno das eleições presidenciais francesas de 2012, não divulgou um comunicado sobre a atual crise brasileira, mas denuncia "o golpe de Estado jurídico em curso e o conjunto das ilegalidades constatadas". O coordenador político do PG, Éric Coquerel, disse, em entrevista à RFI, que o contexto no país “entristece”. Ele lamenta a situação vivida pelo Brasil que “confirma a inversão da tendência e o retorno da direita na América Latina.”
Coquerel analisa que a crise brasileira é resultado da crise econômica, iniciada em 2008, que “penalizou a política de redistribuição de riquezas”, e do financiamento dos partidos políticos, que favorece a corrupção. “O PT se encontra envolvido em uma história de corrupção que não nasceu com ele. Isso é um grave problema, ninguém parece ter mãos limpas!”, afirmou. Lembrando que o PG é contra a política de austeridade adotada pela presidente, Coquerel disse que "Dilma tem a escolha de voltar a ser um partido de ruptura."
NewsletterReceba a newsletter diária RFI: noticiários, reportagens, entrevistas, análises, perfis, emissões, programas.
Me registro