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Economia/ G20

Temores sobre Brasil e emergentes vão marcar cúpula do G20

As reuniões preparatórias para a cúpula ministerial do G20 neste final de semana em Sydney (Austrália) demonstram que as preocupações sobre os rumos das economias emergentes estarão no foco dos debates. O ministro da Fazenda do Brasil, Guido Mantega, cancelou a presença no encontro para preparar os anúncios de cortes no orçamento, divulgados ontem (20). O congelamento das despesas públicas e a redução da estimativa do crescimento do PIB foram mais uma etapa do governo para reconquistar a confiança dos mercados.

Ministros de representantes de organizações internacionais se reúnem em Sydney para o G20.
Ministros de representantes de organizações internacionais se reúnem em Sydney para o G20. REUTERS/Dan Himbrechts/pool
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Na opinião do economista Antônio Carlos Alves dos Santos, ex-coordenador do curso de Comércio Internacional da PUC-SP, o anúncio de redução do equivalente a 1,9% do PIB vai ajudar o Brasil a restaurar a credibilidade. “1,9% é um bom número, mas talvez fosse o caso de um contingenciamento ainda maior, como 2,2% ou 2,3%, para ajudar na recuperação da credibilidade da política econômica brasileira em relação ao mercado. Isso vai ajudar o Brasil a manter uma boa avaliação pelas agências de risco. Ou seja, aparentemente, as medidas estão conseguindo obter o efeito esperado pelo governo”, comenta.

Um dos principais temas da reunião do G20 é o impacto, para os países emergentes, da retirada dos estímulos do Banco Central americano à economia dos Estados Unidos. Alves dos Santos avalia que, apesar de a medida causar turbulências internacionais, os americanos não estarão dispostos a mudar de posição. “Essa volatilidade gerada no Brasil era mais ou menos esperada em função dos indicadores da economia brasileira: problemas no setor externo, uma política fiscal não muito coerente, declarações infelizes do ministro da Fazenda, e também pelo fato de o Brasil estar em ano eleitoral, quando se espera que a política econômica não seja como a esperada”, avalia. “Infelizmente, há muito pouco que possa ser feito na reunião do G20. A política monetária americana será mantida e guiada pelo interesse nacional americano.”

O professor de Economia e coordenador do curso de Relações Internacionais da Universidade Federal do ABC Giorgio Romano Schutte vai além: para ele, os Estados Unidos jamais se comprometeram com as decisões do G20. Schutte considera que essa é uma das razoes pelas quais o fórum internacional perde cada vez mais legitimidade. “No G20, os Estados Unidos jogam contra qualquer coordenação. Eles já deixaram muito claro que toda a política monetária é feita olhando somente os interesses nacionais. Eles estão no direito deles, mas a idéia do G20 era outra: era os impactos dessas políticas sobre os demais países”, lembra.

Pressões exageradas

Na opinião do professor, os anúncios do governo brasileiro respondem a uma pressão crescente sobre o país, protagonizada pelos mercados financeiros e o Banco Central americano. Essa onda de pessimismo muitas vezes é injustificada, conforme Schutte. “É uma visão totalmente distorcida, como se o Brasil tivesse um risco de calote. Há uma insistência em não diferenciar a dívida bruta com a dívida pública líquida, ou seja, desconsiderar que o Brasil tem quase 400 bilhões de reservas internacionais. O Brasil é credor em dólar, inclusive”, destaca.

Para ele, o erro do governo foi não saber responder à avalanche de críticas. “Eu acho que o governo é nota zero na comunicação. O ponto crítico negativo foi o final do ano retrasado, quando tentou fingir que fez o superávit primário que não fez. E não fez porque queria priorizar o poder de compra das camadas mais pobres, manter o nível de emprego”, explica, em referência às manobras contáveis para explicar os maus resultados da economia em 2012.
 

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