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ONU analisa resolução sobre fim do embargo dos EUA a Cuba, que já dura 60 anos

A Assembleia Geral da ONU começou a analisar nesta quarta-feira (2) uma nova proposta de resolução apresentada por Cuba para exigir "o fim do bloqueio econômico, comercial e financeiro" imposto pelos Estados Unidos ao país há 60 anos. O projeto de resolução, que será votado na quinta-feira (3), expressa sua "preocupação" com a manutenção do embargo econômico e seus "efeitos negativos sobre a população cubana".

Bandeiras cubanas cobrem as janelas de uma casa em Havana, Cuba, em 15 de novembro de 2021.
Bandeiras cubanas cobrem as janelas de uma casa em Havana, Cuba, em 15 de novembro de 2021. © REUTERS/Alexandre Meneghini
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Cuba defende a "igualdade soberana" dos Estados, a "não ingerência em seus assuntos internos" e a "liberdade de comércio e de navegação" para exigir o fim do embargo, imposto em fevereiro de 1962, em plena Guerra Fria, pelo então presidente John F. Kennedy e reforçado progressivamente desde essa época.

Um relatório preparado pelo secretário-geral da ONU, António Guterres, a pedido da Assembleia Geral, conclui que "a continuação do bloqueio financeiro e comercial dos Estados Unidos contra Cuba é incompatível com um sistema baseado no Estado de Direito".

"Baseia-se mais no exercício do poder político e econômico", diz.

"Ilegal e desumano"

"Ilegal", "inaceitável", "criminoso", "desumano", "agressão econômica": estes foram alguns dos adjetivos mais usados por cerca de 30 palestrantes, dos 44 inscritos, que se sucederam na tribuna ao longo desta manhã, muitos deles latino-americanos. Presente na sessão, o chanceler cubano, Bruno Rodríguez, deve se dirigir ao plenário  na quinta-feira.

"Os Estados Unidos devem cessar essas medidas e reparar os danos infligidos ao povo cubano", disse o embaixador mexicano, Juan Ramón de la Fuente.

Para a embaixadora argentina, María del Carmen Squeff, que falou em nome da Comunidade de Estados Latino-Americanos e Caribenhos (Celac), o bloqueio "é contrário às palavras, ao espírito, aos princípios e aos propósitos da Carta das Nações Unidas e do Direito Internacional".

A Colômbia rejeitou, por sua vez, a inclusão "injusta" de Cuba na lista de países patrocinadores do terrorismo.

Esta é a 30ª resolução apresentada por Cuba desde 1992 contra o embargo dos Estados Unidos. Somente em 2020 não houve resolução, em razão da pandemia da covid-19.

Apoio de quase todos os membros da ONU

Na primeira resolução de 1992, apenas 59 países votaram a favor, mas agora ela tem o apoio de quase todos os membros da ONU, com exceção dos Estados Unidos e Israel.

Washington se absteve somente em 2016. E isso como consequência da política de reaproximação do governo do presidente democrata Barack Obama, que restabeleceu relações com o regime cubano em 2015.

A abertura americana durou pouco. O republicano Donald Trump introduziu cerca de 250 novas sanções e declarou o país comunista patrocinador do terrorismo.

Apesar de suas promessas de campanha, seu sucessor, o democrata Joe Biden, ex-vice-presidente de Obama, mantém essas sanções, salvo algumas mudanças em vistos, viagens e remessas para a ilha.

"Trumpificação" da política dos EUA

"A 'trumpificação' da política dos Estados Unidos em relação a Cuba se solidificou", disse à AFP o diretor do blog La Joven Cuba, Harold Cárdenas.

"Passamos 60 anos neste jogo entre os dois governos, e o povo cubano preso no meio", denunciou.

Após a passagem devastadora do furacão Ian sobre a ilha, em 19 de outubro, o governo cubano pediu a Biden que suspendesse as sanções atribuíveis ao presidente, já que o restante pode ser suspenso somente pelo Congresso.

Cuba vive sua pior crise econômica em três décadas, com escassez de alimentos, remédios e combustíveis, enquanto enfrenta apagões diários, devido à tecnologia obsoleta de suas usinas termelétricas, agravada pelos efeitos da pandemia de coronavírus.

Prejuízos econômicos 

Segundo as autoridades cubanas, o embargo causa prejuízos econômicos de US$ 154 bilhões atuais à ilha. Destes, foram US$ 3,8 bilhões apenas entre agosto de 2021 e fevereiro de 2022, segundo o chanceler Bruno Rodríguez. De acordo com o governo cubano, isso teria se traduzido em um crescimento de 4,5% na economia.

A falta de mudanças políticas e a repressão às manifestações de 11 de julho de 2021 - que deixaram 1.395 detidos, dos quais 728 ainda estão presos, segundo a última contagem da ONG Cubalex, com sede em Miami - não contribuem para uma mudança na política americana em relação à ilha.

Nos últimos anos, os Estados Unidos justificaram seu embargo contra Cuba por duas questões: violações de direitos humanos e apoio de Havana ao governo de Nicolás Maduro na Venezuela.

(Com informações da AFP)

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