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Haitianos se revoltam com pedido de intervenção internacional e bens de ministro são saqueados

Cenas de saques continuam a ser vistas na cidade de Gonaives, a quarta maior do Haiti. Desde a segunda-feira (10), vários escritórios públicos foram saqueados, incluindo o prédio do tribunal. Na terça-feira (11), manifestantes atacaram várias empresas privadas do ministro da Defesa, Enold Joseph, em protesto pela assinatura de uma resolução para intervenção militar no país. O Haiti também enfrenta a volta da cólera, o que preocupa autoridades de saúde.

A multidão enfurecida provocou saques nas ruas de Gonaives, no Haiti. Foto de arquivo
A multidão enfurecida provocou saques nas ruas de Gonaives, no Haiti. Foto de arquivo © Ronel Paul/RFI
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Com informações de Ronel Paul, correspondente da RFI no Haiti

Os hotéis Independência 1 e Independência 2, que pertencem ao ministro da Defesa do Haiti, foram saqueados. Os manifestantes levaram colchões, camas, cadeiras, computadores e até vasos sanitários.

Um jovem encapuzado não escondia a sua motivação. “O ministro assinou [uma resolução] para que forças estrangeiras venham nos proteger. Estamos prontos para nos proteger nós mesmos. Se o ministro não queria confusão, não deveria ter concordado em assinar esse documento”, disse.

Este é apenas um sinal enviado ao ministro da Defesa, diz outra manifestante muito irritada. De acordo com ela, foi com dinheiro dos contribuintes que o ministro construiu os hotéis. “É aqui que o dinheiro do povo está escondido, nesses prédios. O dinheiro dos comerciantes passou por aqui”, denuncia.

Enquanto um grupo de manifestantes retirava cadeiras e colchões do local, houve um pânico repentino. As pessoas corriam para todos os lados. Foram ouvidos tiros, anunciando a chegada de Jerry Bien-Aimé, um dos “homens armados” do bairro popular de Raboteau, e sua equipe, que imediatamente lançaram uma operação para “recuperar os materiais saqueados”.

Arma na mão, Jerry Bien-Aimé obrigava as pessoas a devolverem certos objetos. “Não aceitamos mais cenas de saque. Estamos 100% de acordo para a saída de Ariel Henry e é por isso que continuaremos a protestar todos os dias. Mas violência e saques não são mais aceitos”, disse, em referência ao primeiro-ministro haitiano.

Uma decisão que enfureceu um jovem manifestante: “Por que não nos impediram de saquear as instituições daqueles que não estão na política? Por que quando atacamos os negócios dos políticos eles intervêm? Eles são pagos por isso”, acusou.

Dezenas de pessoas foram presas pela polícia durante os saques no hotel Independência 1, entre elas várias mulheres.

Pedido de intervenção

Na segunda-feira, o embaixador do Haiti em Washington disse que EUA e Canadá deveriam assumir o comando de uma "força de intervenção rapidamente" para lidar com a crescente insegurança no Haiti, país que sofre com ataques de gangues armadas, conforme declarou. "Queremos ver nossos vizinhos, como os Estados Unidos e como o Canadá, tomarem a iniciativa e agir rapidamente", afirmou Bocchit Edmond. Para ele, a própria vida do chefe de governo está em jogo.

O presidente haitiano Jovenel Moïse foi assassinado em 2021.

O primeiro-ministro haitiano, Ariel Henry, começou a semana com um apelo à comunidade internacional para o envio de uma força armada para a ilha, onde a polícia, em número insuficiente, não tem conseguido restabelecer a ordem.

O secretário-geral da ONU, António Guterres, formulou ao Conselho de Segurança, por meio de uma carta, uma lista de propostas para reforçar o apoio à segurança no Haiti.

Casos de cólera preocupam

Além dos saques, gangues armadas também bloqueiam um terminal de petróleo perto de Porto Príncipe desde o mês passado, paralisando o transporte e obrigando empresas e hospitais a interromperem suas atividades, justo no momento em que o país enfrenta uma nova epidemia de cólera.

A Organização das Nações Unidas (ONU) anunciou, na terça-feira (11) que havia identificado 16 mortes relacionadas à cólera no Haiti e 32 casos confirmados. “Estamos muito, muito preocupados”, disse Margaret Harris, da Organização Mundial da Saúde (OMS).

A ilha foi atingida por uma epidemia mortal de cólera entre 2010 e 2019, que matou mais de 10.000 pessoas.

(Com informações da RFI e da AFP)

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