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Oposição e jornalistas são presos ou exilados por regime de Ortega na Nicarágua

No domingo, 7 de novembro, a Nicarágua realiza eleições gerais, vencidas previamente por Daniel Ortega. Todos os oponentes em potencial do presidente, candidato a um quarto mandato consecutivo, foram presos ou forçados ao exílio. Uma repressão que também afeta defensores dos direitos humanos e jornalistas, muitos dos quais se refugiaram na vizinha Costa Rica, como a correspondente da RFI, Marie Normand.

Jovem vende camisetas com a imagem do presidente Daniel Ortega em uma rua de Manágua, em 7 de outubro de 2021, antes das eleições de 7 de novembro.
Jovem vende camisetas com a imagem do presidente Daniel Ortega em uma rua de Manágua, em 7 de outubro de 2021, antes das eleições de 7 de novembro. OSWALDO RIVAS AFP
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Marie Normand, enviada especial da RFI à região

San José, capital da Costa Rica, tornou-se a sede da oposição nicaragüense no exílio. De modo geral, é nesta grande cidade da América Central que todos os que fogem da Nicarágua estão bloqueados. Desde as grandes manifestações de 2018 contra seu governo, que deixaram mais de 300 mortos, o presidente Daniel Ortega tem trabalhado sistematicamente para silenciar todas as vozes críticas a seu governo.

Jornalistas estrangeiros não são bem-vindos. A enviada especial da RFI foi informada pela companhia aérea, algumas horas antes de seu vôo para Manágua, que sua passagem fora cancelada. Motivo: sua entrada no país "não foi aceita" pelas autoridades locais. O mesmo incidente aconteceu com vários jornalistas da mídia francesa e estrangeira.

Imprensa local amordaçada

A imprensa local é totalmente reprimida. A pressão, que há vários anos já era elevada, aumentou desde maio com o fechamento da sede do maior jornal do país, La Prensa, e a prisão de seu editor-chefe. Ameaçados, dezenas de jornalistas fugiram, na maioria das vezes em direção à vizinha Costa Rica.

Abigail Hernandez, diretora de mídia online Galeria News e membro da Associação de Jornalistas Independentes da Nicarágua (PCIN) tomou essa decisão na semana passada. Ela explica que saiu em situação de emergência, após ser informada pela polícia de que estava sendo visada e de ter recebido ameaças por telefone.

“Eu não pensei que eu fosse fugir. Eu dizia, se eles querem me parar, deixe-os me pegarem! Mas foi minha mãe quem me pediu para eu ir para um lugar seguro ”, diz ela, muito emocionada. Hoje, a jornalista de 40 anos tenta refazer a vida em San José, cidade que não conhece, mas onde diz que pode contar com a solidariedade de seus colegas no exílio para continuar informando.

"Não vamos voltar para casa amanhã, ou em dois meses. Mas em dois meses, continuarei com certeza fazendo este trabalho”, diz ela. "Temos esperança de que, se continuarmos a fazer o nosso trabalho, a mudança seja possível."

Ao todo, 54 jornalistas do PCIN fugiram para a Costa Rica.

As leis de 2020 que mataram a liberdade 

Mesmo em San José, os jornalistas permanecem cautelosos. Eles dizem que estão sendo vigiados até mesmo do outro lado da fronteira. Nesta "pequena Nicarágua" em que se transformou San José, reúnem-se ex-aliados do presidente Ortega, defensores dos direitos humanos e médicos exilados, ameaçados por terem criticado a gestão da crise sanitária.

Várias leis aprovadas em 2020, supostamente para proteger o país de interferências estrangeiras ou "fake news", tornam possível prender quase qualquer pessoa.

Foi nesse contexto que terminou oficialmente na quinta-feira (4) a campanha eleitoral para as eleições presidenciais e legislativas na Nicarágua. Nenhum verdadeiro debate de ideias aconteceu durante a campanha: todos os candidatos da oposição foram impedidos de participar nas eleições, como Jesus Tefel, que recebeu a RFI em seu apartamento, nos subúrbios de San José.

O empresário foi nomeado como liderança do partido União Nacional Azul e Branco (UNAB), no departamento de Manágua. Mas as primárias da oposição, com as quais as diferentes facções lutaram para chegar a um acordo, em última análise nunca aconteceram. Em questão de semanas, a legalidade de vários partidos foi derrubada e seus principais chefes presos, incluindo sete candidatos presidenciais.

“No dia em que colocaram todos os meus colegas na prisão, decidi não voltar para casa. Permaneci escondido por várias semanas e em julho cruzei a fronteira ilegalmente. A Costa Rica tem uma política de ajuda aos refugiados, eles facilitam”, disse o ativista da UNAB. Desde o início do ano, mais de 35.000 nicaraguenses solicitaram asilo na Costa Rica.

Prisão, incubadora de novos líderes?

No domingo, cinco pequenos partidos aparecerão nas urnas ao lado da Frente Sandinista de Libertação Nacional (FSLN). Eles são acusados ​​pelos principais grupos de oposição de serem siglas de fachada, ligadas ao partido de Ortega, no poder.

Os candidatos também são quase desconhecidos e pouco se falaram nas últimas semanas. “A campanha é reduzida a um monólogo”, diz Jesus Tefel.

Todos os dias é transmitido no rádio um longo discurso da primeira-dama nicaraguense, Rosario Murillo, verdadeira número um do país, segundo muitos observadores. A vice-presidente fala regularmente sobre a luta de seu país contra a "interferência estrangeira", o mesmo argumento usado para evitar a presença de observadores internacionais.

Para o economista e ex-parlamentar Enrique Saenz, também exilado há dois anos, a estratégia de governança pelo medo utilizada pelo governo pode virar-se contra ele no longo prazo.

“Ao prender lideranças sociais, políticas e econômicas, este governo criou uma incubadora de lideranças nas prisões. Todos os que estão presos estão sofrendo, mas também estão ganhando uma legitimidade política e moral que nem todos tinham”, avaliou.

Uma coisa é certa: sem adversário, a reeleição do presidente Ortega é sem dúvida uma certeza no domingo. Parte da oposição pede a abstenção, vista hoje como o último desafio possível na Nicarágua.

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