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Sudão/Repressão

Militares jogaram corpos no Nilo e massacre teria feito ao menos 100 mortos no Sudão

Tiros eram ouvidos nesta quarta-feira (5) nas ruas de Cartum, a capital do Sudão, onde a situação continua tensa. Segundo balanço do Comitê Central de Médicos Sudaneses próximo aos manifestantes, a repressão militar da última segunda-feira (3) deixou ao menos 60 mortos. Mas a reportagem da RFI no país africano fala em ao menos 100 mortos e denuncia que corpos foram jogados no rio Nilo.

Integrantes das forças de segurança do Sudão patrulham as ruas da cidade de Omdurman, em frente de Cartum, nesta quarta-feira 5 de junho de 2019.
Integrantes das forças de segurança do Sudão patrulham as ruas da cidade de Omdurman, em frente de Cartum, nesta quarta-feira 5 de junho de 2019. AFP
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Na segunda-feira, as forças de segurança dispersaram à força um acampamento da oposição diante do quartel-general das Forças Armadas em Cartum. O saldo do número de vítimas da violenta repressão, que também deixou mais de 300 feridos, ainda é provisório. Médicos e testemunhas contam que os corpos de dezenas de vítimas flutuavam desde a noite do dia três de junho no Nilo, em Cartum. O Comitê de Médicos aponta que 40 corpos foram encontrados no rio.

Oday Mirghani, entrevistado pelo correspondente da RFI no Sudão, viu as milícias do Conselho Militar de Transição, que governa o Sudão desde 11 de abril, jogar os manifestantes mortos no rio. Ele conta que viu toda a ação das forças que apoiam o governo de transição. Elas cercaram o local da manifestação e começaram a bater nos manifestantes com cassetetes, assim que desceram dos carros. Logo em seguida, jogaram bombas de gás lacrimogêneo e começaram a atirar. “A praça ficou cheia de corpos. As milícias colocaram as vítimas em caminhonetes para as jogar no rio, do alto da ponte que separa Cartum de Bahri. Foi um verdadeiro massacre o que vi”, relatou Oday Mirghani. Ele também denunciou que foi detido e espancado.

A Federação Internacional de Direitos Humanos (FIDH) e duas organizações sudanesas de direitos humanos pedem uma “ação urgente” da comunidade internacional diante dessa “repressão violenta” da contestação.

Militares recuam

Depois do massacre, o Conselho Militar de Transição recuou. O chefe da junta no poder, Abdel Fatah al-Burhan, declarou nesta quarta-feira que está pronto para retomar as negociações, sem impor condições.

Jean-Baptiste Galopin, especialista do Sudão, analisa nessa mudança de estratégia dos militares um efeito das pressões internacionais. A Arábia Saudita, que desde o início apoia financeira e diplomaticamente os militares golpistas, ressaltou hoje a “importância da retomada do diálogo”, informou Galopin.

A oposição considera que a Força de Apoio Rápido (RSF, na sigla em inglês) é a principal responsável pela dispersão violenta do acampamento diante da sede do Exército, e pediu a continuidade dos protestos contra o poder militar. O acampamento, que começou em 6 de abril, conseguiu a destituição do presidente Omar al-Bashir em 11 de abril, substituído pelo Comitê Militar de Transição. Os manifestantes, no entanto, prosseguiram com a mobilização para exigir a transferência de poder aos civis.

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