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África

Suspeita de fraude eleitoral mergulha o Quênia na violência

O presidente do Quênia, Uhuru Kenyatta, parecia ter selado o caminho para seu segundo mandato com a vitória eleitoral na terça-feira (8), mas o questionamento dos resultados por parte de seu rival, Raila Odinga, mergulhou o país em um clima de tensão.

Manifestantes queimam pneu em protesto no Quênia
Manifestantes queimam pneu em protesto no Quênia Reuters
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As denúncias de fraude eleitoral levaram manifestantes às ruas nesta quarta-feira (9) no subúrbio de Mathare, em Nairóbi. Duas pessoas morreram por disparos policiais durante os distúrbios.

“Os mortos integravam um grupo de manifestantes, e a polícia foi enviada para restaurar a ordem. Fomos informados de que muitos eram ladrões que se aproveitavam da situação", declarou uma autoridade policial que pediu para não ser identificada.

Um fotógrafo da agência France Presse viu o corpo de uma das vítimas, atingida por um tiro na cabeça.   Também nesta quarta, por volta do meio-dia, homens da Polícia de Choque e manifestantes se enfrentaram em Kisumu, cidade do oeste do país e reduto eleitoral da oposição.

A polícia lançou gás lacrimogêneo contra centenas de manifestantes no bairro de Kondele - epicentro da violência após o pleito de 2007 - que ergueram barricadas e queimaram pneus.

Escudos e cacetetes

Um helicóptero sobrevoava a zona, enquanto o Batalhão de Choque empunhava escudos, armas e cacetetes, usando jatos d'água para apagar os incêndios.

"Se Raila não for presidente, não poderemos ter paz", disse um manifestante pouco antes de o gás lacrimogêneo dispersar a multidão.

Os manifestantes gritavam "Sem Raila, não tem paz", seu grito de protesto já usado nas disputas eleitorais de 2007 e de 2013.

A votação transcorreu sem problemas na maioria dos 41 postos eleitorais, nos quais longas filas de espera se formaram. Apesar de alguns problemas localizados, ligados ao sistema biométrico de identificação dos eleitores, o sistema eletrônico parece ter funcionado melhor do que em 2013.

Em 2007, o Quênia viveu dois meses de violência política e étnica pós-eleitoral, em meio a repressões policiais que deixaram pelo menos 1.100 mortos e mais de 600 mil deslocados.

Denúncia de fraude eletrônica

De acordo com o boletim mais recente da Comissão Eleitoral (IEBC), Kenyatta registrava 54,36% contra 44,76% de Raila Odinga dos 14,6 milhões de votos do total de 96% de urnas apuradas.

Algumas horas antes, à noite, enquanto a IEBC ia publicando os resultados enviados pelas seções eleitorais, Odinga questionou a divulgação de resultados "fictícios".

"O sistema fracassou. Rejeitamos os resultados publicados até o momento", denunciou o candidato da coalizão de oposição Nasa.

"É uma fraude de uma gravidade monumental. Não houve eleições", insistiu o candidato.

A oposição acusa a IEBC de não informá-la das atas que corroboram os resultados transmitidos eletronicamente e divulgados no site da comissão. Odinga também acusa a Comissão Eleitoral de ter proibido seus agentes de escanearem as atas em algumas seções.

Manipulação por hackers

De acordo com Odinga, "hackers" manipularam a eleição em favor do presidente. Eles teriam assumido o controle do sistema de contagem de votos, graças aos códigos de acesso obtidos de um integrante da Comissão Eleitoral, assassinado há pouco mais de uma semana.

O presidente da IEBC, Wafula Chebukati, ressaltou que os resultados publicados on-line não são "definitivos", já que precisam ser validados pelas atas dos colégios eleitorais. Segundo ele, a coleta desse material pode levar vários dias.

“No momento, não posso dizer se o sistema foi pirateado", acrescentou Chebukati.

Veterano da política queniana e candidato à presidência pela quarta vez, Raila Odinga já havia questionado os resultados nas duas últimas disputas, em 2007 e em 2013.

Em 2013, Odinga denunciou fraudes após a vitória de Kenyatta já no primeiro turno, alegando falha no sistema eletrônico. Recorreu ao Tribunal Supremo, que validou os resultados.

Para vencer no primeiro turno, o candidato deve obter maioria absoluta e mais de 25% dos votos em pelo menos 24 dos 47 condados do país. A IEBC ainda não divulgou a taxa de participação.

Os cerca de 19,6 milhões de eleitores dessa ex-colônia britânica de 48 milhões de habitantes foram às urnas eleger presidente, governadores, deputados e senadores, além de representantes locais e das mulheres na Assembleia.

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