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África do Sul/Imigração

África do Sul é 'Eldorado' para imigrantes de países vizinhos

Em 2008, cidade foi palco de onda de ataques xenófobos. Nas favelas da periferia de Joanesburgo, moradores sul africanos atacaram refugiados do Zimbábue com armas, paus e pedras. Segundo estimativas, 67 pessoas morreram, centenas ficaram feridas e entre 12 e 20 mil imigrantes, a maioria do Zimbábue mas também de Moçambique tiveram que deixar suas casas, muitas delas destruídas.

Os ataques contra os imigrantes acontecem principalmente nas periferias das grandes cidades.
Os ataques contra os imigrantes acontecem principalmente nas periferias das grandes cidades. Foto: Elcio Ramalho/RFI
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Joanesburgo. No coração da capital econômica da África do Sul, moradores andam num vai vem apressado, congestionado e barulhento. E na esquina de uma das principais avenidas do centro da cidade, está o prédio da Igreja Metodista Central, que se tornou um dois símbolos mais emblemáticos de uma questão delicada no país: a imigração. "Esta é a nossa casa. Esse é um lugar que chamamos de casa. Não é apenas um lugar para dormir ou cozinhar. É a nossa casa", diz  Tendai, um refugiado do Zimbábue que prefere não dizer seu nome completo, apenas a idade : 42 anos.

Ele chegou à Africa do Sul em 2006 como refugiado político e vive na Igreja Metodista Central. Durante o dia, adultos e crianças andam circulam nas escadarias, na cozinha improvisa. Mas é a noite que o local fica lotado. Entre 200 e 300 pessoas dividem as salas transformadas em dormitórios e dividem colchões velhos e cobertores para enfrentar o frio.

13:44

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Elcio Ramalho

A Igreja abriu suas portas depois da onda de ataques xenófobos de maio de 2008. Nas favelas da periferia de Joanesburgo, moradores sul africanos atacaram refugiados do Zimbábue com armas, paus e pedras. Segundo estimativas, 67 pessoas morreram, centenas ficaram feridas e entre 12 e 20 mil imigrantes, a maioria do Zimbábue mas também de Moçambique tiveram que deixar suas casas, muitas delas destruídas.

"Os ataques xenófobos do ano retrasado fizeram com que as pessoas viessem para essa igreja metodista. Algumas pessoas não querem sair daqui e voltar para onde viviam com medo de novos ataques como os que aconteceram no passado. Este é o problema", diz Tendai.

Xenofobia

Ao acolher e proteger os imigrantes zimbabuanos desde os incidentes, a Igreja Metodista foi alvo de críticas mas virou um símbolo emblemático de um problema crescente no país. Os ataques xenófobos, condenados pela comunidade internacional e também pela própria sociedade sul africana, revelaram que uma parcela da população, rejeita a chegada de novos imigrantes de países vizinhos, como o Zimbábue e Moçambique. Eles são vistos como concorrentes em um mercado de trabalho já bastante atingido pela crise econômica. 

Sala da Igreja Metodista de Joanesburgo transformada em dormitório para refugiados.
Sala da Igreja Metodista de Joanesburgo transformada em dormitório para refugiados. Foto: Elcio Ramalho/RFI

"Nós não temos trabalho porque somos discriminados formalmente. Não temos documentos, alguns empregadores simplesmente não nos reconhecem.Temos que ficar aqui porque não somos empregados em tempo integral. Por isso fica difícil sair para tentar encontrar qualquer outro tipo de alojamento. Nunca sabemos o que vai acontecer amanhã. Esse é o lugar mais seguro para nós ficarmos na África do Sul", afirma.

A África do Sul tem cerca de 47 milhões de moradores. Estima-se que o país acolhe 5 milhões de estrangeiros vindos principalmente dos países vizinhos. Refugiados políticos, estudantes, trabalhadores. Para eles, a economia mais forte do continente é uma espécie de Eldorado.

O moçambicano Arthur da Conceição chegou à África do Sul aos 13 anos de idade junto com os pais. No ano passado concluiu um curso técnico na área de aviação. Mas, até agora, só conseguiu trabalho como atendente da lanchonete da Associação Portuguesa de Joanesburgo. " Aqui só é melhor para o trabalho. De resto, prefiro Moçambique", diz o jovem que aponta a violência como um dos maiores problemas da cidade. 

Na lanchonete trabalham ainda outros moçambicanos, atraídos pela possibilidade de conseguir trabalho, a maior motivação para sair do país de origem.
Francisca Afonso Ndeimande tem 29 anos. Mudou-se com o marido e o filho há 2 anos para Joanesburgo em busca de trabalho e com o objetivo de voltar à sua cidde natal depois de fazer um pé de meia. "Vive-se melhor em Moçmabique mas em questão de trabalho e dinheiro, tem dado falta por lá", afirma.

Oportunidades

A organização da Copa do Mundo de futebol confirmou a imagem de um país de oportunidades. Atraiu uma parcela ainda maior de imigrantes seduzidos pela possibilidade de melhorar a situação econômica e voltar ao país de origem.

Mas o painel de imigrantes é bem mais amplo. Inclui muitos refugiados que deixaram seus países para fugir da fome, do desemprego e também da perseguição política.

José Francês é editor chefe do jornal Angola News, dirigido à comunidade angolana que se instalou na África do Sul desde os tempos da guerra civil. O jornal que chegou a ser suspenso por falta de verbas vive de doações e enfoca os problemas enfrentados pelos estrangeiros. Um dos grandes temas é o problema crescente da xenofobia do qual são vítimas os refugiados.

"O mundo inteiro viu os casos de mortes e assassinatos. Aqui em Joanesburgo um moçambicno chegou a ser queimado vivo", conta.

O jornalista angolano José Francês é editor de um jornal para a comunidade de refugiados na África do Sul.
O jornalista angolano José Francês é editor de um jornal para a comunidade de refugiados na África do Sul. Foto: Elcio Ramalho/RFI

O jornalista José Francês trabalha apenas com uma mesa e um computador cedidos pela Fundação Scalabrini, uma instituição religiosa católica que atua com imigrantes através de um orfanato e um centro de acolhida a refugiados na Cidade do Cabo.

A congregação Scalabrini é dirigida por 4 padres diocesanos. Entre eles o brasileiro Ivaldo Bettin, do Rio Grande do Sul, que trabalha com as comunidades de língua portuguesa no país. Ele lembra que durante os os ataques xenófobos de maio de 2008, o centro distribuia comida para até 300 refugiados. 

"O cidadão local se sente como sendo invadido, pensa que os imigrantes vêm roubar seu trabalho. Todos os países ricos já passaram por essa situação", afirma. 

 

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