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Sudão perto do "ponto de ruptura"; novos combates atingem o país apesar da trégua

Ataques aéreos, tiros e explosões voltaram a abalar Cartum nesta segunda-feira (1°), apesar da trégua nos combates entre o exército e os paramilitares no Sudão, onde a situação humanitária está próxima "ao ponto de ruptura", segundo a ONU.

Forças armadas sudanesas no norte da capital Cartum, em imagem de vídeo do dia 21 de abril de 2023.
Forças armadas sudanesas no norte da capital Cartum, em imagem de vídeo do dia 21 de abril de 2023. via REUTERS - SUDANESE ARMED FORCES
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Com cinco milhões de pessoas, a capital está "debaixo de caças", enquanto tiros e explosões ecoam por vários bairros, segundo testemunhas. Os combates, que deixaram centenas de mortos, eclodiram em 15 de abril entre os dois generais no comando do país desde o golpe de 2021, envolvendo milhões de sudaneses.

"A escala e a velocidade com que os eventos estão se desenrolando no Sudão são sem precedentes", disse a ONU no domingo (30). O chefe para assuntos humanitários da organização, Martin Griffiths, foi enviado à região.

"Estou a caminho (...) para estudar como podemos prestar ajuda imediata aos habitantes”, declarou Griffiths, para quem a "situação humanitária está chegando a um ponto crítico" no país, um dos mais pobres do mundo. O saque maciço de escritórios e armazéns humanitários "esgotou a maior parte de nossos estoques", disse ele.

O chefe do exército, Abdel Fattah al-Burhane, e o chefe paramilitar das Forças de Apoio Rápido (RSF), Mohamed Hamdane Daglo, conhecido como Hemedti, concordaram em estender o cessar-fogo de três dias até a meia-noite de domingo, após "mediação dos Estados Unidos e da Arábia Saudita", de acordo com o exército sudanês. Mas desde o início do conflito, várias tréguas foram anunciadas antes de serem imediatamente violadas. Segundo especialistas, elas significam principalmente que os corredores seguros para a evacuação de estrangeiros sejam mantidos e que as negociações, que acontecem no exterior, continuem. Até agora, os dois generais reiteram que recusam negociações diretas.

Os combates deixaram 528 mortos e 4.599 feridos, de acordo com dados oficiais pouco divulgados. O Comitê Internacional da Cruz Vermelha (CICV) conseguiu, no domingo, pousar em Port Sudan, 850 quilômetros a leste de Cartum, um primeiro avião carregado com oito toneladas de suprimentos de socorro, que deve ajudar apenas "1.500 feridos", segundo alerta da instituição.

De acordo com a Organização das Nações Unidas, 75 mil pessoas já se deslocaram internamente no país. Pelo menos 20 mil fugiram para o Chade, seis mil para a República Centro-Africana e milhares mais para o Sudão do Sul e a Etiópia. Ao todo, até 270 mil pessoas, segundo estimativa da ONU, poderão fugir dos combates que atingem 12 dos 18 estados do país, que tem 45 milhões de habitantes.

"Situação insustentável"

Os moradores da capital, quando não fogem, permanecem em barricadas, tentando sobreviver apesar da escassez de comida, água e eletricidade. A administração de Cartum deu "licença até novo aviso" aos funcionários públicos, enquanto a polícia garante que eles sejam mobilizados para evitar saques. A maioria dos hospitais do país está fora de serviço. Para os que ainda estão funcionando, "a situação é insustentável" porque faltam equipamentos, disse Majzoub Saad Ibrahim, médico de Ad-Damir, ao norte de Cartum.

Vários países, incluindo a França, Alemanha e Estados Unidos, evacuaram seus cidadãos e outros estrangeiros. O Canadá interrompeu as evacuações "devido a condições de insegurança".

Na frente diplomática, o ministro das Relações Exteriores da Arábia Saudita, Faisal ben Farhane, recebeu no domingo um emissário do general Burhane. A Liga Árabe se reúne na manhã desta segunda-feira (1°) no Cairo para discutir a situação no Sudão, depois que os Emirados Árabes Unidos, aliados do general Daglo, anunciaram que convocaram o chefe do exército para discutir o futuro do país.

Para os especialistas do Carnegie Middle East Center, o general Daglo tenta ganhar tempo: "Quanto mais tempo ele conseguir manter seus postos em Cartum, maior será seu peso na mesa de negociações".

Tribos Armadas

Segundo a ONU, cerca de 100 pessoas foram mortas em Darfur Ocidental, região marcada pela sangrenta guerra civil iniciada em 2003 entre a ditadura de Omar al-Bashir e insurgentes de minorias étnicas. O secretário-geral da Organização das Nações Unidas, Antonio Guterres, alertou para uma situação "terrível", com "tribos agora tentando se armar".

À medida que o drama humanitário se agrava, a ONG Médicos Sem Fronteiras (MSF) interrompeu "quase todas as atividades" por causa da violência.

À frente dos milicianos Janjawid, o general Daglo liderou a política de terra arrasada em Darfur, sob as ordens de Omar el-Bashir, derrubado em 2019. A guerra em Darfur já matou cerca de 300 mil pessoas e deslocou quase 2,5 milhões, segundo a ONU. O Janjawid criou oficialmente em 2013 o FSR, um grupo paramilitar auxiliar do exército. Mesmo assim, rivais hoje, os generais Burhane e Daglo uniram forças durante o golpe de 2021 para derrubar os civis com quem compartilharam o poder desde a queda de Bashir. Mas então surgiram diferenças e, por falta de acordo sobre a integração do FSR no exército, deram início a uma guerra aberta.

(Com informações da AFP)

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