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Sudão: forças rivais continuam confrontos, apesar de apelos por um cessar-fogo no fim do Ramadã

As forças em guerra do Sudão continuaram os conflitos na sexta-feira (21) com tiros ​​e explosões na capital Cartum e em outras partes do país, ignorando os apelos das potências mundiais por um cessar-fogo no fim do Ramadã.

Sinais dos combates entre forças rivais em Cartum (17/03/23).
Sinais dos combates entre forças rivais em Cartum (17/03/23). via REUTERS - ABDULLAH ABDEL MONEIM
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Mais de 300 pessoas foram mortas e milhares ficaram feridas desde o início dos combates no sábado entre as forças leais ao chefe do Exército do Sudão, Abdel Fattah al-Burhan, e as de seu vice, Mohamed Hamdan Daglo, conhecido como Hemedti, comandante das poderosas Forças de Apoio Rápido (FAR).

O Comitê Central de Médicos do Sudão disse que durante a noite, quando começaram as celebrações do Eid al-Fitr marcando o fim do mês muçulmano de jejum do Ramadã, "várias áreas de Cartum foram bombardeadas" e há relatos de "bombardeios e confrontos" pela sexta noite consecutiva.

Cartum tem visto alguns dos combates mais ferozes, com ataques aéreos e tanques disparando em distritos densamente povoados, com a maioria de seus cinco milhões de habitantes abrigados em casa sob um calor intenso, sem eletricidade, comida ou água. As comunicações são fortemente interrompidas.

Tanto o secretário-geral da ONU, António Guterres, quanto o secretário de Estado dos EUA, Antony Blinken, pediram separadamente um cessar-fogo de "pelo menos" três dias para marcar o Eid al-Fitr, enquanto explosões e tiros ressoavam em Cartum.

As FAR, poderosa força paramilitar formada por membros da milícia Janjaweed, que liderou atos de extrema violência na região oeste de Darfur, disse que se comprometeria com um cessar-fogo de 72 horas começando ao amanhecer, às 6 horas pelo horário local. 

Mas, como dois cessar-fogos de 24 horas declarados anteriormente, o trato não foi respeitado.

Os tiros intensos continuaram na manhã de sexta-feira, com colunas de fumaça preta subindo pela capital.  

“Cenário de pesadelo”  

Pela primeira vez desde que as hostilidades começaram há quase uma semana, Burhan apareceu na televisão.

"Para o Eid al-Fitr deste ano, nosso país está sangrando: a destruição, a desolação e o som das balas prevaleceram sobre a alegria", disse ele em um vídeo pré-gravado, que o mostrava sentado atrás de uma mesa em uniforme militar.

"Esperamos sair desta provação mais unidos, um só exército, um só povo, rumo a um poder civil."

O International Crisis Group (IGC) alertou que medidas urgentes são necessárias para impedir uma "guerra civil total", alertando que "o cenário de pesadelo que muitos temiam no Sudão está se desenrolando".

O Programa Mundial de Alimentos (PMA) alertou que a violência pode levar mais milhões de sudaneses à fome em um país onde 15 milhões de pessoas - um terço da população - precisam de ajuda.

O PMA suspendeu suas operações no Sudão após a morte de três trabalhadores do programa no sábado.

Os civis estão ficando cada vez mais desesperados, com milhares se arriscando nas ruas perigosas para fugir de Cartum, com muitos relatos de ruas repletas de cadáveres.

Esforços internacionais estão sendo planejados para a possível evacuação de cidadãos, inclusive com os Estados Unidos mobilizando forças para o possível transporte aéreo de funcionários da embaixada americana.  

Hospitais bombardeados   

Os médicos alertaram para uma catástrofe, com mais de dois terços dos hospitais em Cartum e estados vizinhos "fora de operação" devido aos combates, disse o sindicato dos médicos.

Quatro hospitais em Obeid, no estado de Kordofan do Norte, também foram "bombardeados".

A Organização Mundial da Saúde disse ter relatos de quase 330 pessoas mortas e 3.200 feridas em todo o Sudão, mas os médicos temem que o número de mortos seja muito maior, com muitos feridos incapazes de chegar aos hospitais.

Burhan e Daglo derrubaram o presidente autocrático Omar al-Bashir juntos em abril de 2019, após protestos maciços contra suas três décadas de governo com mão de ferro.

Em outubro de 2021, eles trabalharam novamente juntos em um golpe para derrubar o governo civil instalado após a queda de Bashir, inviabilizando uma transição para a democracia apoiada internacionalmente.

"Sem Burhan nem Hemedti parecendo prontos para recuar, a situação pode ficar muito pior", disse o think tank ICG, acrescentando que, embora alguns analistas pensem que o exército terá sucesso em seu "território" em Cartum, o risco de um conflito total permanece.

"Mesmo que o exército finalmente assegure a capital e Hemedti se retire para o Darfur, uma guerra civil pode ocorrer, com impacto potencialmente desestabilizador nos vizinhos Chade, República Centro-Africana, Líbia e Sudão do Sul", acrescentou o ICG.

(com AFP)

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