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ONU exige libertação imediata de mulheres sequestradas por jihadistas em Burkina Faso

A ONU exigiu na segunda-feira (16) a libertação "imediata e incondicional" de mais de cinquenta mulheres sequestradas, por jihadistas, na semana passada, em Burkina Faso. Buscas estão em andamento para encontrar as vítimas deste sequestro de dimensões sem precedentes no país.

Moradoras transportam água em Burkina Faso, onde mais de 50 mulheres foram sequestradas por jihadistas no país em 12 e 13 de janeiro de 2023 (imagem ilustrativa)
Moradoras transportam água em Burkina Faso, onde mais de 50 mulheres foram sequestradas por jihadistas no país em 12 e 13 de janeiro de 2023 (imagem ilustrativa) © Jean-Michel Vouillamoz
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As mulheres foram raptadas quinta (12) e sexta-feira (13) por "grupos terroristas armados" em duas localidades ao norte e oeste de Arbinda, próxima à fronteira com o Mali, informou nesta segunda-feira o governador da região do Sahel, tenente-coronel Rodolphe Sorghum.

"Assim que elas foram dadas como desaparecidas, buscas foram realizadas para encontrar todas essas vítimas inocentes, sãs e salvas", acrescentou ele em um comunicado.

“Todos os meios estão sendo usados, terrestres e aéreos, para encontrar estas mulheres”, precisou à AFP uma fonte das forças de segurança, garantindo que “aeronaves sobrevoam a zona para detectar qualquer movimento suspeito”.

Na segunda-feira, o Alto Comissário das Nações Unidas para os Direitos Humanos, Volker Türk, exigiu "a libertação imediata e incondicional de todas as mulheres raptadas", apelando às autoridades burquinenses a "realizar rapidamente uma investigação eficaz, imparcial e independente para identificar os responsáveis ​​e fazê-los prestarem contas".

A França, por sua vez, condenou "com a maior firmeza" o sequestro das mulheres e pediu "sua libertação imediata", reafirmando "sua solidariedade e seu compromisso com Burkina Faso".

Ataques jihadistas

De acordo com o testemunho de vários moradores e autoridades locais que desejam permanecer anônimos, um primeiro grupo de cerca de 40 mulheres foi sequestrado na quinta-feira e outro de cerca de 20 no dia seguinte.

Algumas conseguiram fugir e voltar às aldeias para testemunhar, mas cerca de cinquenta não regressaram. “Enquanto saíam em busca de frutas silvestres, essas esposas, mães e filhas foram injustamente atacadas por homens armados”, disse Sorghum.

Arbinda e seus arredores são regularmente palco de ataques jihadistas mortais (80 mortos em agosto de 2021, 42 no final de 2019). Mas sequestros dessa dimensão, em particular de mulheres, são uma novidade em Burkina Faso.

"Este é o primeiro sequestro em massa desde o início da crise de segurança e esta situação terá que ser bem administrada para evitar qualquer drama ou recorrência", disse um oficial, próximo do Estado-maior.

“É a primeira vez que vemos o sequestro de dezenas de mulheres. Tínhamos registrado casos isolados, mas hoje é como se houvesse uma nova ordem de insegurança", diz Daouda Diallo, secretário-geral do Coletivo contra a impunidade e a estigmatização das comunidades, uma associação de defesa dos direitos humanos.

Algumas ONG estão preocupadas com uma mudança na forma como os grupos armados operam. Elas temem que a violência contra civis piore. Casos de sequestros já foram documentados por essas organizações no norte do país. Mulheres, muitas vezes jovens noivas, são sequestradas e estupradas, antes de serem devolvidas a seus maridos.

“O estupro é uma arma de guerra psicológica”, explica a chefe de uma dessas ONGs à RFI. Ela teme que Arbinda seja apenas o ponto de partida para uma nova estratégia de sequestros em massa por parte de grupos armados.

"Se não são os terroristas, é a fome que vai nos matar”

Arbinda está localizada na região do Sahel, uma área sob bloqueio de grupos jihadistas, mal abastecida com alimentos. Quase um milhão de pessoas vivem atualmente em áreas sob bloqueio, no norte ou leste do país, segundo a ONU.

“Todo mundo está em choque e ninguém sai” de casa, disse à RFI nesta segunda-feira um representante da sociedade civil de Arbinda. A cidade está traumatizada pelo sequestro. Um habitante que teve a prima raptada e conseguiu falar com uma das mulheres que escapou dos sequestradores disse que “em Arbinda, essa foi a primeira vez que isso aconteceu”.

“Desde que a notícia do sequestro se espalhou, ninguém se atreve a sair da cidade. Se não são os terroristas, é a fome que vai nos matar”, acrescenta outro morador.

Os habitantes pensam agora em organizar escoltas de voluntários para proteger as mulheres fora da cidade.

Na Nigéria, em 2014, o grupo jihadista Boko Haram sequestrou cerca de 300 adolescentes em Chibok (nordeste). O fato comocionou o mundo, e o slogan "Bring Back Our Girls" ("Traga de volta nossas garotas") foi criado para pedir a volta das meninas. Mais de cem ainda estão desaparecidos.

Burkina Faso, particularmente em sua metade norte, enfrenta desde 2015 ataques de grupos jihadistas ligados ao Al-Qaeda e ao Estado Islâmico que deixaram milhares de mortos e pelo menos dois milhões de deslocados.

O capitão Ibrahim Traoré, presidente transitório resultante de um golpe militar, tem como objetivo reconquistar o território ocupado pelo que chama de “hordas de terroristas”.

(RFI e AFP)

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