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Países africanos finalmente terão sua própria vacina anticovid de RNA mensageiro

Até agora, o assunto sempre foi um contrassenso: atualmente, apenas 1% das vacinas usadas na África são produzidas no continente africano, que comporta 1,3 bilhão de pessoas. Mas esse panorama pode ser revertido: seis países da África foram escolhidos para desenvolver a sua própria produção de vacinas de RNA mensageiro, anunciou a Organização Mundial de Saúde (OMS) nesta sexta-feira (18), designando os primeiros beneficiários de um programa global para fabricar esses imunizantes.

Atualmente, apenas 1% das vacinas usadas na África são produzidas no continente de 1,3 bilhão de pessoas.
Atualmente, apenas 1% das vacinas usadas na África são produzidas no continente de 1,3 bilhão de pessoas. Barbara DEBOUT AFP
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África do Sul, Egito, Quênia, Nigéria, Senegal e Tunísia foram escolhidos pela Organização Mundial da Saúde (OMS) para permitir que o continente africano, que sofre com o acesso limitado a vacinas contra a Covid-19, fabrique suas próprias doses para combater a pandemia de coronavírus, mas também outras doenças.

“A pandemia de Covid-19 mostrou, melhor do que qualquer outro evento, que depender de um punhado de empresas para entregar bens públicos globais é restritivo e perigoso”, disse o presidente da OMS, Tedros Adhanom Ghebreyesus.

“A melhor maneira de lidar com emergências de saúde e alcançar a cobertura universal de saúde é aumentar drasticamente a capacidade de todas as regiões de produzir os produtos de saúde de que precisam”, acrescentou.

Tedros sempre pediu acesso equitativo à vacinas para derrotar a pandemia, e regularmente critica o fato de que os países ricos monopolizam as doses disponíveis dos imunizantes, deixando a África sem acesso à vacinação.

"Este é um grande passo para a soberania da África em termos de vacinas. O objetivo é que, em 2040, 60% das vacinas produzidas na África sejam administradas no próprio continente", saudou em Bruxelas a presidente da Comissão Europeia, Ursula von der Leyen, durante uma conferência sobre a decisão.

O presidente francês Emmanuel Macron também saudou a decisão da OMS, direto da Cúpula da União Europeia e Africana: "O que impedia a produção nos países africanos não era a patente, mas a transferência de tecnologia. Inicialmente, para ajudar a campanha de vacinação no continente fizemos a doação de doses e vamos continuar isso. Agora, lançamos esses centros com transferência de tecnologia".

Para o chefe de Estado, "eles são a chave para desenvolvermos fábricas capazes de produzir vacinas de RNA mensageiro". "Agora, precisamos de uma melhor cooperação de todos os empresários envolvidos. Eles têm que transferir inclusive a expertise confidencial para que nesses seis países possamos produzir o mais rápido possível. Em seguida, esses centros de produção devem passar a ser uma prioridade para a compra de doses para o continente africano", concluiu Macron.

"Evento histórico"

"Não poderíamos estar mais felizes", respondeu o presidente sul-africano Cyril Ramaphosa. "Este evento é de importância histórica", acrescentou o presidente queniano Uhuru Kenyatta, quando o presidente senegalês Macky Sall saudou "um grande dia para a África e para a Europa".

O presidente sul-africano, no entanto, exigiu que os programas globais de saúde se comprometam a comprar vacinas produzidas na África para redistribuí-las localmente: "Sem um mercado na própria África, a comercialização de vacinas produzidas nos novos [centros] entrará em colapso", alertou.

Cyril Ramaphosa mais uma vez exigiu a quebra de patentes de empresas farmacêuticas ocidentais, a fim de consolidar de forma sustentável a indústria africana.

Contra a quebra de patentes, Ursula von der Leyen e Emmanuel Macron defenderam a escolha de uma transferência de tecnologia, inclusive “a solução mais confidencial”, que, segundo eles, protege a propriedade intelectual.

"Devemos proteger a propriedade intelectual, porque é muito importante continuar criando", argumentou o presidente francês. "Com essa transferência de tecnologia, estamos limitando os lucros dos laboratórios", afirmou a presidente da Comissão.

Atualmente, apenas 1% das vacinas usadas na África são produzidas neste continente, de cerca de 1,3 bilhão de habitantes. Em 2021, a OMS apoiou um laboratório de tecnologia de RNA mensageiro (mRNA) na África do Sul para ajudar fabricantes de países de baixa e média renda a produzir suas próprias vacinas.

Know-how

O papel do programa global da OMS é garantir que os fabricantes desses países tenham o know-how para produzir essas vacinas de mRNA, tecnologia utilizada pelos laboratórios Pfizer-BioNTech e Moderna.

Essas novas unidades, destinadas principalmente ao combate à Covid-19, poderão produzir outras vacinas e tratamentos, como insulina, medicamentos anticancerígenos e, potencialmente, vacinas contra malária, tuberculose e HIV.

A OMS disse que trabalhará com os seis primeiros países escolhidos para desenvolver um roteiro de treinamento e apoio para que possam começar a produzir vacinas o mais rápido possível. O treinamento deve começar em março.

A Comissão Europeia, juntamente com França, Alemanha e Bélgica, está investindo € 40 milhões para ajudar na transferência de tecnologia.

O centro sul-africano já está produzindo vacinas de mRNA em laboratório e está em processo de expansão para escala comercial. Mais de 10,4 bilhões de doses da vacina anticovid foram administradas em todo o mundo e quase 62% da população mundial recebeu pelo menos uma injeção.

No entanto, apenas 11,3% dos africanos haviam sido totalmente vacinados até, o início de fevereiro.

(Com AFP)

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