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Um pulo em Paris

Agressões antissemitas aumentam na França em meio a mortes e destruição na Faixa de Gaza

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O conflito entre Israel e o Hamas tem repercussão particular na França, que tem as maiores comunidades de muçulmanos e judeus da Europa. Conforme o conflito avança, as agressões antissemitas têm aumentado em todo o país. 

Carrinhos de bebê com imagens de crianças e bebês sequestrados pelo Hamas em Israel são exibidos no Campo de Marte, em Paris, para pedir a libertação de todos os reféns.
Carrinhos de bebê com imagens de crianças e bebês sequestrados pelo Hamas em Israel são exibidos no Campo de Marte, em Paris, para pedir a libertação de todos os reféns. © Dimitar DILKOFF / AFP
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O ministro do Interior francês, Gérald Darmanin, revelou que em 20 dias de guerra, a polícia registrou 719 boletins de ocorrência por antissemitismo. Os registros envolvem agressões físicas a judeus, ameaças de morte, pichações que discriminam a comunidade judaica em fachadas de prédios, em lojas que vendem produtos kasher e cemitérios. Esse número já representa quase o dobro de infrações desse tipo em todo o ano passado (436). 

Segundo o ministério, até 26 de outubro, 389 pessoas foram detidas em várias regiões do país por terem ameaçado judeus ou por atitudes discriminatórias contra essa comunidade específica. Além disso, a plataforma Pharos, um site especializado da polícia para denúncias de crimes de ódio, recebeu mais de 4 mil queixas. Os policiais analisaram esses casos e enviaram à Justiça mais de 300 pedidos de abertura de inquérito para que os autores sejam localizados e processados.

Mesmo com o policiamento reforçado nas sinagogas e 300 escolas judaicas existentes no país, onde estudam 35 mil alunos, muitos judeus franceses dizem sentir medo por suas vidas e de familiares. Em reportagens na TV, mães judias dizem que o momento de maior angústia do dia é o caminho de casa para a escola.

Alguns pais buscam levar uma vida normal, para não ceder ao clima de terror que é o objetivo dos extremistas. Mas já se nota uma queda de clientes nas lojas de produtos judaicos. Os comerciantes contam que os clientes escolhem os produtos essenciais, preocupados em fazer rápido as compras para voltar para casa.

Desde o ataque do Hamas no sul de Israel, em 7 de outubro, e do assassinato de um professor francês, morto por um checheno muçulmano radicalizado, no dia 13, os serviços de inteligência franceses procuraram saber se os bombardeios na Faixa de Gaza tinham repercussão nos círculos radicais islâmicos dentro da França. A conclusão foi que o foco de preocupação tem sido a causa palestina, e não um apoio ao Hamas ou à Jihad Islâmica, a segunda facção extremista palestina.

Nas redes sociais ou em grupos de mensagens criptografadas, sob monitoramento dos serviços de inteligência franceses, a revolta manifestada contra Israel está relacionada com a questão da ocupação da Cisjordânia, de Jerusalém Oriental e o bloqueio prolongado aos civis da Faixa de Gaza, e não um apoio a ações terroristas.

As imagens de famílias traumatizadas pelos bombardeios, de milhares de crianças palestinas mortas e feridas, prédios e casas de civis destruídos alimentam a revolta.  

Manifestações pró-Palestina e pró-Israel

As manifestações públicas de solidariedade aos palestinos e israelenses têm acontecido num clima pacífico. Líderes religiosos muçulmanos, judeus e cristãos têm dado entrevistas lado a lado na televisão defendendo união e paz entre os franceses de todas as confissões religiosas. 

As ruas de Paris e de outras cidades estão cheias de cartazes com imagens dos reféns em poder do Hamas. Ontem, nos jardins da Torre Eiffel e num parque de Marselha, foram  instalados 30 carrinhos de bebê com fotos de crianças sequestradas pelo Hamas.

Uma manifestação pró-Palestina reuniu 15 mil pessoas em Paris no sábado passado e transcorreu sem violência. Os organizadores convocaram uma nova manifestação para este sábado (28), mas desta vez a polícia decidiu proibir porque, nas convocações, um grupo incluiu uma menção de apoio ao Hamas.

Na semana passada, não havia bandeiras do Hamas em Paris, como se viu numa passeata semelhante em Londres. O objetivo dos participantes era demonstrar solidariedade com a população civil da Faixa de Gaza e pedir o fim da guerra.

Na quinta-feira (26), por iniciativa da Liga dos Direitos Humanos, políticos de esquerda, sindicalistas e ativistas judeus e muçulmanos se reuniram na capital francesa para discutir uma mobilização conjunta pela paz e defender um cessar-fogo "imediato" no conflito. "Aqui somos todos judeus e árabes", disse o presidente da entidade, Patrick Baudouin, no início da reunião. Existe um esforço pela busca de unidade entre os franceses, sejam eles judeus ou muçulmanos, numa sociedade hoje descrita como repleta de fraturas.

França tem o maior número de mortos nos ataques do Hamas depois de Israel

A França tem nove cidadãos desaparecidos desde 7 de outubro em Israel e suspeita que eles sejam reféns do Hamas. De todos os estrangeiros mortos no ataque terrorista, a França é o país com o maior número de vítimas, 35 pessoas que tinham dupla nacionalidade franco-israelense. Atrás vem a Tailândia, com 33 mortos e os Estados Unidos, com 31 vítimas, de acordo com o balanço atualizado nesta sexta-feira.

O presidente francês, Emmanuel Macron, voltou a defender hoje uma “trégua humanitária para proteger as populações” civis, negociar a libertação dos reféns e resolver o problema dos hospitais que, segundo o líder francês, "é muito complicado na Faixa de Gaza".

Macron frisou que a resposta de Israel deve focar com mais precisão os alvos terroristas, sem sufocar os palestinos, que não podem ser confundidos ou tratados da mesma forma que o braço militar do Hamas. Macron tem repetido que a França não faz distinção entre a vida de um civil israelense e de um civil palestino.

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