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Um pulo em Paris

Como a guerra entre Israel e Hamas resulta no temor de uma nova onda de terrorismo na Europa

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O medo do terrorismo está de volta à Europa. Em apenas uma semana, dois países europeus, a França e a Bélgica, foram palco de atentados, enquanto alertas de bomba se multiplicam em várias nações do continente. Os governos se preocupam com a tensão que a guerra entre Israel e o Hamas suscita na Europa.

Estudante chora em frente à escola de ensino médio Gambetta, em Arras, no norte da França, em 13 de outubro de 2023, onde o professor Dominique Bernard foi morto por um extremista islâmico.
Estudante chora em frente à escola de ensino médio Gambetta, em Arras, no norte da França, em 13 de outubro de 2023, onde o professor Dominique Bernard foi morto por um extremista islâmico. AFP - FRANCOIS LO PRESTI
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Daniella Franco, da RFI

O clima se acirrou em boa parte da Europa desde o início dessa nova escalada de violência entre Israel e o Hamas. A França, que conta com as maiores comunidades mulçumana e judaica da Europa, viu a tensão do conflito se tranferir rapidamente a seu território.

Na última quinta-feira (12), em entrevista à rádio France Inter, o ministro do Interior Gérald Darmanin descartou “o risco de importação do conflito israelo-palestino” à França. Um dia depois, um professor morria em um atentado contra uma escola de Arras, no norte do país. Segundo as autoridades francesas, a motivação do ato, perpetrado por um jovem de 20 anos de origem chechena, tem relação com o conflito no Oriente Médio.

Já o atentado de Bruxelas, em que dois cidadãos suecos foram mortos, teria sido motivado pela onda de incidentes envolvendo o Alcorão na Suécia. Mesmo sem relação com a guerra entre Israel e o Hamas, o ataque reforça o clima de tensão e medo com uma nova onda terrorista.

Alertas de bomba

Nos últimos dias, alertas de bomba se multiplicaram na França, obrigando dezenas de escolas e 12 dos maiores aeroportos franceses a serem esvaziados. O museu do Louvre foi fechado no último sábado (14). Já o Palácio de Versalhes teve de ser esvaziado quatro vezes por ameaça de atentado desde o fim de semana passado.

Embora de maneira menos frequente que a França, outros países também foram palco de alertas de bomba, como a Bélgica, a Alemanha, o Reino Unido e a Itália. O governo francês também anunciou que tem recebido diariamente dezenas de trotes sobre ataques contra escolas; 18 jovens foram detidos por suspeita de falsos alertas em apenas 48 horas.

Para especialistas, a principal ameaça hoje na Europa é o "terrorismo endógeno". As autoridades também se preocupam com a mudança de perfil de potenciais agressores que, segundo o jornal Le Parisien, "podem agir isolados, nunca frequentaram os campos de guerra jihadistas, pessoas às vezes psicologicamente frágeis, frequentemente muito jovens".

A metade dos indivíduos envolvidos em projetos de atentados na França desde 2021 tem menos de 20 anos. É o caso de Mohammed Mougouchkov, autor do ataque contra a escola, em Arras, que completou 20 anos recentemente e está preso. Seu irmão, de 16 anos, e um primo, de 15, também foram indiciados.

O recrutamento e o treinamento destes jovens têm ocorrido pela internet, através das redes sociais e de aplicativos de mensagens. Os treinamentos, que antes ocorriam nos campos jihadistas na Síria e no Iraque, acabaram virando tutoriais na internet de como agir em modo “lobo solitário”. O último relatório da Europol aponta para o perigo da propaganda terrorista online, que ensina a recrutas como fabricar bombas caseiras e transformar utensílios domésticos em armas.

Dispositivo antiterrorismo

Depois do ataque de Arras, o governo francês acionou o alerta de “emergência a atentados”, o mais alto nível de vigilância ao terrorismo no país. A segurança foi reforçada nas escolas, em locais de culto, espaços culturais e transportes públicos. Cerca de 10 mil militares foram mobilizados em toda a França.

No entanto, algumas medidas vêm sendo criticadas: a mais polêmica delas é a proibição das manifestações em apoio ao povo palestino, sob a ordem do ministério francês do Interior. A justificativa do ministro Gérald Darmanin é que os atos pró-Palestina podem “provocar problemas à ordem pública”.

O presidente francês, Emmanuel Macron, foi abordado na rua na quinta-feira (19) por estudantes, que questionaram a decisão. A conversa, que foi filmada por um jornalista, viralizou nas redes sociais. Macron respondeu que tem consciência de que há pessoas que querem protestar de forma pacífica, mas esses atos contam com a participação de “indivíduos radicais e que queimam bandeiras israelenses”.

No total, 300 atos antissemitas foram registrados na França em menos de duas semanas: quase o total das violências contra a comunidade judaica registradas em 2022. Já escolas francesas foram palco de quase 400 incidentes durante o minuto de silêncio nacional realizado na quarta-feira (18) em homenagem ao professor assassinado em Arras – boa parte são de recusas de alunos a participar do ato. Em Colmar, no nordeste da França, um estudante chegou a ameaçar um professor de morte durante uma homenagem a Dominique Bernard.

A capa do jornal Libération desta sexta-feira (20) ilustra a tensão que vive o país. “Uma França à flor da pele”, diz a manchete. O diário traz uma reportagem especial de seis páginas abordando a volta do temor dos atentados ao cotidiano dos franceses.

“A guerra no Oriente Médio é uma espada de Dâmocles sobre a união nacional pedida por Macron. A intensificação do conflito não melhorará as coisas. Mas é preciso considerar que as derrapagens dos representantes políticos contribuem para alimentar a divisão”, diz Libération em seu editorial.

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