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Um pulo em Paris

Inflação acelera, PIB estagna e Macron enfrentará cobrança nas ruas no Dia do Trabalhador

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A França teve 0% de crescimento no primeiro trimestre do ano e a inflação dá sinais de aceleração. A pressão nos preços inibe o consumo e anuncia um segundo mandato complicado para o presidente Emmanuel Macron.

Em 2019 (foto), a França teve forte mobilização contra a reforma da Previdência e Macron acabou abandonando o projeto.
Em 2019 (foto), a França teve forte mobilização contra a reforma da Previdência e Macron acabou abandonando o projeto. REUTERS/Stephane Mahe
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A inflação em abril chegou a 4,8% no acumulado de 12 meses na França, a taxa mais alta em 37 anos. A guerra na Ucrânia causou uma explosão nos preços da energia e de cereais, somando dificuldades a uma situação de tensão nos preços que já vinha da retomada pós-pandemia. Mesmo se o preço do petróleo cair nos próximos meses, como os europeus estão mudando a matriz energética para fontes renováveis, e isso exige tempo e investimentos elevados, a eletricidade continuará cara, com impacto direto nos preços da comida e de produtos industrializados. 

Em poucos meses, tudo aumentou na França: cereais, frutas, legumes, produtos de higiene e limpeza. O trigo subiu 40% desde o início do ano, o quilo do tomate, 24%, a gasolina, 27%. As pessoas começam a fazer estoques em casa. Esta semana o óleo de girassol desapareceu dos supermercados e reapareceu em sites de revenda por € 3 a € 6 euros o litro (entre R$ 15 e R$ 30). 

Para conseguir ser reeleito, o presidente Emmanuel Macron prometeu apresentar uma lei, no começo de julho, para manter as subvenções em vigor, como a redução de € 0,18 no litro do diesel e da gasolina. Os reajustes no gás e na energia, que estão congelados até 30 de junho, poderão ser prolongados. Mas esse tipo de medida custa caro ao Estado e é inviável a longo prazo.

Macron também prometeu criar uma espécie de cesta básica, "um cheque alimentar", para os oito milhões de franceses mais pobres. Já está previsto reindexar as aposentadorias à inflação, no começo de julho, algo que não era feito desde os anos 1980 na França. O presidente também anunciou que vai liberar as promoções no funcionalismo, congeladas há 12 anos. Essas são algumas das medidas aventadas, mas os economistas preveem forte pressão nos preços até 2024.

Salários achatados

A aceleração da inflação surge em um momento de muita insatisfação com os salários. Depois da crise das dívidas, em 2009, a política do Banco Central Europeu manteve a inflação baixa e não houve valorização dos salários durante vários anos. 

A pandemia de Covid-19 e a guerra na Ucrânia, duas graves crises consecutivas, mudaram radicalmente os rumos da economia. Há consenso que os salários precisam ser reajustados na França, mas a medida aumenta o risco de uma espiral inflacionária, se o crescimento econômico não compensar os gastos. 

Líderes sindicais esperam do presidente reeleito a adoção de medidas urgentes para proteger as famílias mais vulneráveis do aumento da inflação. 

Manifestações do Dia do Trabalhador

As centrais sindicais farão manifestações em todo país. Além do reajuste de salários, o outro assunto que estará nas ruas no domingo (1°) é a rejeição ao aumento da idade mínima da aposentadoria dos atuais 62 anos para para 64 ou 65 anos, como propôs Macron durante a campanha. 

O salário mínimo, como acontece em todo 1° de maio, terá um resjuste de 2,65%, passando para € 1.302 líquidos, cerca de R$ 6.700. No entanto, a maioria dos setores empresariais não pretende repercutir esse reajuste e só deve abrir negociações com os sindicatos em 2023. Nos próximos meses, é provável que a inflação continue subindo, os franceses perdendo poder aquisitivo e o governo seja cobrado nas ruas.  

Macron já foi alvejado por tomates quando visitou uma feira na periferia de Paris, na quarta-feira (27). Hoje, em uma visita a um vilarejo de 3.400 habitantes nos Pirineus, onde está enterrada a avó materna, que teve uma influência afetiva e cultural muito forte na vida dele, Macron disse que esperava "um retorno à calma no país". 

Expectativa para nomeação do novo governo

O nome do novo primeiro-ministro é um segredo guardado a sete chaves. A imprensa passou a semana evocando possíveis chefes de governo, mas nada filtra do Palácio do Eliseu. Está difícil achar a personalidade com fibra social de esquerda, que vá fazer da França a grande nação ecológica que Macron prometeu no discurso da vitória, e ainda comandar projetos industriais inovadores. 

Existe uma demanda da sociedade para que seja uma mulher. Até hoje, a França só teve uma chefe de governo, Edith Cresson, mas o mandato durou um ano, durante o segundo mandato do ex-presidente socialista François Mitterand, no começo da década de 1990. Nomear uma mulher poderia diminuir a hostilidade de parte da população contra Macron.

Durante a semana circularam os nomes de Christine Lagarde, atual presidente do Banco Central Europeu, Élisabeth Borne, atual ministra do Trabalho de Macron, Nicole Notat, ex-dirigente da central sindical reformista CFDT, e Nathalie Kosciusko-Morizet, ex-ministra do Meio Ambiente, Transportes e Habitação do governo de Nicolas Sarkozy. Lagarde e Kosciusko-Morizet têm a desvantagem de serem de direita. Borne é uma opção, embora seja o perfil de funcionária da alta administração execrado desde o movimento dos coletes amarelos, enquanto Notat nunca ocupou um cargo político. A escolha de Macron segue em aberto.

Tudo indica que ele está esperando a mobilização do 1° de maio para depois anunciar a data da posse e o nome do primeiro-ministro que irá liderar a campanha às eleições legislativas de junho. O atual mandato presidencial termina dia 13 de maio, e o primeiro-ministro Jean Castex já disse que não deseja continuar no cargo.

Oposição negocia alianças para eleições legislativas

As negociações estão avançadas para uma ampla aliança de esquerda em torno de Jean-Luc Mélenchon, o candidato da esquerda radical que ficou em terceiro lugar no primeiro turno. Ecologistas e socialistas já deram sinais de entendimento com o partido A França Insubmissa, de Mélenchon, e podem concluir um acordo em breve. 

Na extrema direita, Marine Le Pen tirou uma semana de férias depois da derrota e, por enquanto, rejeita uma aliança com o rival Éric Zemmour.

Para o partido de Macron, A República em Marcha, não está fácil articular apoio visando as legislativas de 12 e 19 de junho. A base eleitoral de Macron é composta por dois terços de eleitores de direita. Mesmo que ele atraia nomes da esquerda para o governo, continuará a governar com políticos de direita. Entre Os Republicanos (direita), muitos deputados e senadores querem manter a independência e não ser engolidos pelo partido presidencial. De qualquer forma, os franceses têm a tendência de atribuir uma maioria parlamentar ao presidente eleito para evitar uma paralisação das ações de governo. 

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