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Um pulo em Paris

Sobrinho de Pierre Cardin relança maison do tio com jovens modelos da Amazônia em desfile comemorativo

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A temporada da alta-costura foi concluída nesta sexta-feira (28) com uma homenagem a Pierre Cardin. O sobrinho do estilista morto há um ano está à frente da maison e decidiu relançar a empresa com um desfile em um cenário inusitado, diante de foguetes de verdade. A apresentação misturou inspiração futurista e elementos da natureza. Modelos vindos da Guiana Francesa foram escolhidos especialmente para a ocasião.

Maison Pierre Cardin organizou desfile diante de foguete Ariane 5.
Maison Pierre Cardin organizou desfile diante de foguete Ariane 5. REUTERS - VIOLETA SANTOS MOURA
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Os desfiles de alta-costura são sempre um momento de festa. Essa especificidade francesa, que duas vezes por ano atrai jornalistas, celebridades e um punhado de clientes endinheiradas, é tradicionalmente marcada por eventos paralelos, aproveitando um calendário mais curto e menos sobrecarregado que o do prêt-à-porter.

Mas este ano a vontade de celebrar parecia ainda mais presente. Apesar da França estar atravessando a 5ª onda da pandemia de Covid-19, com uma média de mais de 300 mil novos casos de coronavírus diários, mais da metade das maisons inscritas no calendário oficial decidiram realizar um desfile tradicional ou uma apresentação, com até centenas de convidados na plateia. Depois de três temporadas de performances virtuais, a indústria da moda parecia estar disposta a sair da frente das telas e reviver a emoção dos desfiles.

Algumas marcas ainda se mostraram reticentes, como a italiana Armani que jogou um balde de água fria logo no início do ano ao avisar que não iria desfilar. Mesmo assim, aos poucos a maratona da moda retomou seu ritmo festivo, como foi visto esta semana em Paris.

Prova disso, a neta da princesa Grace de Mônaco Charlotte Casiraghi atravessou a passarela da Chanel montada em um cavalo, a marca francesa Ami reproduziu uma estação de metrô parisiense, e o desfile da Kenzo, que marcou a estreia do japonês Nigo como diretor artístico, reuniu o maior número de fashionistas por metro quadrado na capital. Nem a morte de Thierry Mugler, na véspera da temporada da alta-costura, desanimou os amantes da moda. “Paris é uma festa”, diria Hemingway. Com ou sem pandemia.

Futurismo e conquista espacial

A cereja do bolo foi a homenagem a Pierre Cardin. Com a morte do estilista no final de 2020, seu sobrinho Rodrigo Basilicati-Cardin assumiu a direção e decidiu “relançar” a marca, como ele mesmo definiu.

Respeitando a tradição dos desfiles espetaculares do tio, o novo patrão da maison levou o público para o aeroporto Bourget, nos arredores de Paris, onde fica o Museu do Ar e do Espaço, para apresentar a coleção "Cosmocorps 3022". O local não foi escolhido por acaso: Cardin era apaixonado pela conquista espacial e suas criações futuristas marcaram a história da moda. “Ele queria vestir o homem que viaja em naves espaciais”, lembrou Rodrigo Basilicati.

Rodrigo Basilicati-Cardin, no centro da imagem, agradece os aplausos do público no final do desfile
Rodrigo Basilicati-Cardin, no centro da imagem, agradece os aplausos do público no final do desfile AP - Francois Mori

O desfile foi realizado ao ar livre, na pista de pouso, diante de um foguete que impressionou as centenas de convidados. A ideia não é nova, pois Karl Lagerfeld já havia apresentado uma coleção em 2017 diante de um foguete. Mas se no caso da maison Chanel o aparelho era apenas cenográfico, a nave gigante usada de pano de fundo pelo sobrinho Cardin era uma verdadeira Ariane 5.

O desfile foi acompanhado simultaneamente em cinemas de Moscou, México, Dallas e Tirana. Na passarela, o público assistiu uma apresentação em duas partes. A primeira trazia criações que Pierre Cardin desenhou antes de sua morte, enquanto a segunda era composta por peças imaginadas pelo estúdio de criação que tenta preservar o legado do estilista, sob a batuta de Rodrigo, que não desenha mas supervisiona tudo. Em ambas as partes o DNA de Cardin era palpável, entre formas geométricas e cores chamativas pontuando os looks.

Inspiração em Kourou

Para completar o tema espacial, Rodrigo Basilicati buscou alguns modelos na Guiana Francesa, território onde fica a estação espacial de Kourou. O diretor artístico queria aproveitar o momento do lançamento do telescópio espacial James Webb, em dezembro passado, para fazer algumas imagens. Mas no final acabou trazendo os modelos para participar do desfile em Paris.

Alguns deles experimentavam o frisson das passarelas profissionais pela primeira vez. Como Laïrha Jean-Charles, que vive em Caiena e foi descoberta quando se matriculava em um clube de basquete. Ou ainda Jeremy Ronosemito, que mora em Saint Laurent du Maroni, na fronteira com Suriname, e havia tentado a sorte em um concurso de beleza local.

Em entrevista à RFI antes de embarcar para Paris, eles confessavam que não conheciam Pierre Cardin antes de serem selecionados. “No começo eu nem sabia quem era”, assume Laïrha, do alto de seus 16 anos e 1m83.

 

Os dois jovens modelos participaram do encerramento do desfile. Eles também apareceram no vídeo projetado durante a apresentação, andando em uma floresta em um mood pós-apocalíptico tropical.

Durante os 50 minutos de espetáculo, o público no Bourget, onde os termômetros estavam na casa dos 7 graus, teve a impressão de viajar entre o espaço e esse pedaço de França em plena Amazônia. O tipo de combinação insólita que só uma temporada de desfiles da alta-costura é capaz de produzir.

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