Desfile militar de 14 de Julho na França terá 25 mil espectadores em plena retomada da epidemia
Publicado em:
Ouvir - 08:33
A França pode ter uma quarta onda da epidemia de Covid-19 antes do fim do mês, mas o governo mantém programado para a próxima quarta-feira o desfile militar de 14 de Julho, data da festa nacional francesa. Um público de 25 mil pessoas poderá assistir à parada militar na avenida Champs Elysées.
O desfile militar, cancelado no ano passado por causa da pandemia, terá a participação de 5 mil militares e civis, 71 aviões, 25 helicópteros, 221 blindados e a cavalaria da Guarda Republicana. Já houve um ensaio na avenida mundialmente conhecida na manhã desta sexta-feira. A arquibancada que abriga autoridades e convidados está há vários dias montada na praça da Concórdia.
No ano passado, as comemorações foram reduzidas a uma rápida cerimônia presidida pelo chefe de Estado, Emmanuel Macron, sem o tradicional desfile de batalhões. Militares e membros do governo usavam máscaras. No entanto, no desfile de quarta-feira, os militares não usarão a proteção facial. Já os espectadores que quiserem ver a parada de perto terão de apresentar passaporte sanitário, a partir de 11 anos de idade, para acessar a área reservada ao público. Os documentos exigidos são um teste negativo de Covid-19 de 72 horas, um atestado de vacinação completa ou um atestado médico de que a pessoa teve recentemente a Covid-19 e está curada.
Haverá uma homenagem ao pessoal da Saúde e a todos os profissionais que estiveram na linha de frente contra a pandemia desde o início do ano passado.
Fogos de artifício na Torre Eiffel
Na noite de quarta-feira, a prefeitura de Paris promove um espetáculo de fogos de artifício na Torre Eiffel, seguido de um show de música nos jardins do Campo de Marte. O passaporte sanitário também será exigido nessa área.
O tema do espetáculo pirotécnico será a "Liberdade". No convite da prefeitura está escrito que a ideia é fazer um contraponto à "distância" que reinou no último ano e meio. Agora que 35 milhões de pessoas receberam a primeira dose da vacina, pouco mais da metade da população francesa, e 25 milhões estão totalmente vacinadas, o espetáculo "será uma ocasião para as pessoas se encontrarem e conversarem em liberdade", diz o texto distribuído à imprensa.
Tudo pode parecer bem planejado, mas muitos franceses estão perdidos diante da comunicação contraditória do governo. O ministro da Saúde, Olivier Verán, passou a semana alertando a população de que a quarta onda da epidemia pode se instalar antes do fim de julho.
A variante Delta, mais contagiosa, vai se tornar dominante neste fim de semana em todo o território francês, segundo Verán. O número de contaminações diárias tinha recuado para 1.500 no final de junho e já subiu ontem para 4.400 novas infecções. A parte dessa variante, descoberta na Índia, no total de contaminações dobra a cada semana. A taxa de vacinação atual está muito aquém do necessário para a imunidade de rebanho.
Macron faz pronunciamento na segunda-feira
Diante do risco de uma quarta onda iminente, Macron fará um pronunciamento à nação, na próxima segunda-feira (12), e poderá anunciar novas restrições. Uma das medidas que o presidente poderá determinar é a imunização obrigatória de todos os profissionais da saúde, já que entre enfermeiros e cuidadores de casas de repouso apenas 57% dos profissionais se vacinaram até agora.
Nesta sexta-feira (9), a Alta Autoridade de Saúde (HAS), órgão consultivo independente para questões nessa área, recomendou que a vacinação contra a Covid-19 se torne obrigatória para toda a população, junto com as outras 11 vacinas exigidas no país.
Quaisquer que sejam os anúncios do governo, a semana que passou deixou a impressão de um governo sem rumo ante à realidade implacável da pandemia. Ministros foram à TV pedir aos franceses para não viajar de férias para Portugal e Espanha, onde o número de casos da variante Delta sobe exponencialmente.
Reabertura de discotecas
Paradoxalmente, as discotecas francesas reabrem ao público nesta sexta-feira depois de passarem um ano e quatro meses fechadas. Os frequentadores devem apresentar o passaporte sanitário na entrada dos estabelecimentos, que só poderão acolher 75% da capacidade das salas. A reabertura das boates ocorre quando a curva da Covid-19 parte para cima. Sem trabalhar há quase um ano e meio, alguns proprietários já disseram que não vão "fazer papel de polícia barrando clientes na entrada".
A nove meses da eleição presidencial de 2022, o presidente Emmanuel Macron pretendia reservar os últimos meses de seu mandato à reforma das aposentadorias. O plano inicial era fazer a campanha mostrando que a gestão econômica de seu governo salvou milhares de empregos e empresas da falência. Entretanto, a variante Delta e uma provável quarta onda da Covid-19, de consequências incertas para o sistema de saúde, adiam essa perspectiva.
NewsletterReceba a newsletter diária RFI: noticiários, reportagens, entrevistas, análises, perfis, emissões, programas.
Me registro