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Saúde em dia

Aposentadoria tardia: a sociedade está preparada para manter os idosos na ativa?

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Manter a população mais tempo no mercado de trabalho e lidar com a perda da capacidade física e cognitiva gerada pelo envelhecimento, exige investimentos em políticas de prevenção, alerta o especialista francês em gerontologia Roland Sicard.

Manifestação contra a reforma da Previdência na França, em janeiro deste ano. "Prisioneiros do trabalho estão esgotados", diz o cartaz.
Manifestação contra a reforma da Previdência na França, em janeiro deste ano. "Prisioneiros do trabalho estão esgotados", diz o cartaz. © RFI-Chi Phuong
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Taíssa Stivanin, da RFI

Em todo o mundo, incluindo países como a França e o Brasil, os governos vêm adotando leis que visam manter os trabalhadores na vida ativa por cada vez mais tempo. Um exemplo recente é a reforma da Previdência na França, que estipulou a idade mínima da aposentadoria aos 64 anos.

Mas, a tendência no país, e em todo mundo, é que os trabalhadores passem a se aposentar perto dos 70 anos, para garantir mais renda. Neste contexto, como conciliar vida ativa e os problemas de saúde que podem resultar do envelhecimento?

Para a OMS (Organização Mundial da Saúde), uma pessoa está na terceira idade aos 60 anos. Sem levar em conta fatores individuais, a partir desta faixa etária o risco de desenvolver um câncer, que já é maior a partir dos 50 anos, cresce ainda mais na população em geral. 

Estudos mostram que, de todos os casos de tumores malignos do mundo, 70% deles ocorrem em maiores de 60 anos. O envelhecimento também gera o declínio natural e gradual de diversas funções fisiológicas e cognitivas, favorecendo o aparecimento de doenças crônicas, como as cardiovasculares. 

É possível envelhecer trabalhando dentro de uma empresa? Na Europa, um continente desenvolvido, apenas 25% da população chegará aos 75 anos sem problemas de saúde e com uma boa capacidade física e cognitiva. É o que afirma Roland Sicard, diretor do Instituto de Cancelorogia Sainte Catherine, em Avignon, no sul da França, e especialista em gerontologia.

“Para essas pessoas, trabalhar dois anos a mais ou a menos não será um problema. O que importa, e deve ser levado em conta, são os outros 25% que envelhecem mal e têm problemas de saúde: cânceres, doenças crônicas, dores nas costas que as impedem de carregar peso, ou fragilidades ósseas", explica.

"Para essas pessoas, que representam um quarto da população, cada ano a mais de trabalho antes da aposentadoria será um verdadeiro fardo. Isso vai piorar o estado de saúde delas, que poderão ser consideradas inaptas e ficarão expostas a situações sociais difíceis”, conclui.

Fatores ambientais

Segundo ele, a saúde da outra metade da população que chega à terceira idade dependerá de fatores ambientais, que podem ser influenciados pelas políticas públicas de prevenção. Entre elas, a promoção da atividade física, da alimentação equilibrada e o incentivo ao diagnóstico precoce de cânceres e outras doenças.

“Se houver esse investimento, 50% dos trabalhadores podem entrar na categoria dos 25% que envelhecem bem. Se, pelo contrário, não fizermos nada para que se alimentem melhor ou deixem de ser sedentários, farão parte dos 25% que vão envelhecer mal antes da aposentadoria”, alerta Roland Sicard.

A França é um país conhecido pelo acesso generalizado a tratamentos gratuitos de ponta, como contra o câncer, por exemplo. Mas, no quesito prevenção, deixa a desejar, alerta o especialista. “Ainda não entendemos que a prevenção é um investimento a longo prazo. Nossas políticas estão focadas no curto prazo", diz.

"Se o equilíbrio da Previdência depende de fazer a população trabalhar por mais tempo, a única solução é investir na prevenção em saúde. Se queremos que as pessoas trabalhem até 64 anos, ou até 67, o que eu espero que não ocorra, é preciso preparo. Não podemos fazer isso de qualquer jeito."

Doenças profissionais

As empresas também devem investir na prevenção de riscos associados ao trabalho, diz. No hospital que dirige, por exemplo, Roland Sicard promove formações periódicas para que médicos, enfermeiros e assistentes fiquem atentos aos gestos e à postura para evitar lesões musculoesqueléticas, responsáveis por muitas aposentadorias precoces.

Entre os profissionais da saúde, relata, há também uma epidemia de burnout, o esgotamento profissional e mental que leva as pessoas a antecipar o fim de suas carreiras. A alta do número de casos da síndrome está associada ao período pós-epidêmico, mas não só: as condições de trabalho nas clínicas e hospitais franceses são alvo de críticas há anos.

“Investir na prevenção funciona. As pessoas ficam menos doentes, temos menos casos de invalidez entre profissionais na faixa dos 57 ou 58 anos, por exemplo. É necessário instaurar uma política de reeducação à saúde nas empresas: adaptar o ritmo de trabalho e ajudar as pessoas a lutar contra o estresse na vida pessoal e profissional."

O trabalho remoto, diz, que se popularizou com a Covid-19, é uma pista para melhorar as condições de trabalho. “Na França, um dos três fatores citados pelos trabalhadores como sendo um dos mais exaustivos é o trajeto até o trabalho. Uma hora para ir e voltar do escritório após um dia cansativo, em fim de carreira, é pesado. Mas, infelizmente, o trabalho à distância não é adaptado a todas as profissões”, lamenta.

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