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Saúde em dia

Sintomas leves exigem exame para rastrear câncer do intestino, diz especialista francês

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Só a colonoscopia pode garantir a ausência do câncer colorretal, alerta o gastroenterologista francês Michel Ducreux, chefe do comitê de patologias digestivas do Instituto Gustave Roussy, um dos maiores centros de combate ao câncer do mundo, em Villefuif, perto de Paris. O exame feito em hospitais e clínicas especializadas explora a parede intestinal e também é recomendado para pacientes jovens sintomáticos.

O Instituto francês Gustave Roussy, um dos maiores centros de combate ao câncer do mundo, organizou uma série de eventos para lembrar o "Março Azul", mês de conscientização à prevenção do câncer do intestino.
O Instituto francês Gustave Roussy, um dos maiores centros de combate ao câncer do mundo, organizou uma série de eventos para lembrar o "Março Azul", mês de conscientização à prevenção do câncer do intestino. © Taíssa Stivanin/RFI Brasil
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Taíssa Stivanin, da RFI

O câncer do intestino, ou colorretal, é o segundo que mais mata no mundo. Os tumores se desenvolvem no cólon, uma parte do intestino grosso, no reto, a porção final do órgão, e no ânus. De acordo com o Inca, o Instituto Nacional do Câncer, a estimativa é de que 44 mil novos casos sejam diagnosticados entre 2023 e 2025 no Brasil.

O Dia Nacional de combate à doença acontece na próxima terça (27). Durante o mês de março, campanhas em todo o mundo visam conscientizar sobre a importância da prevenção. Se for detectado cedo, as chances de cura do câncer do intestino são superiores a 90%.

Na França, pessoas assintomáticas e sem antecedentes familiares devem realizar gratuitamente, a partir dos 50 anos, o Hemocutt, teste que detecta o sangue oculto nas fezes. 

“O problema do câncer do cólon é que ele se desenvolve de maneira silenciosa, durante muito tempo e com poucos sintomas. A doença pode então se espalhar, provocando a migração das células e metástases”, explica Michel Ducreux.

O especialista é favorável a um recuo da idade do rastreamento. “A França não é um bom exemplo em termos de rastreamento. Aqui não há uma cultura da prevenção e no máximo 35% da população, na região parisiense, faz o teste de sangue oculto nas fezes."

Se o resultado do teste for positivo, é necessário realizar uma colonoscopia. O exame consiste na introdução de um tubo flexível no ânus, que rastreia a parede intestinal em busca de pólipos benignos ou potencialmente cancerígenos. O procedimento requer anestesia geral e por isso é feito em hospitais ou clínicas especializadas. O preparo consiste, usando medicação específica, a esvaziar o intestino na véspera do exame.

O gastroenterologista francês Michel Ducreux, chefe do comitê de patologias digestivas do Instituto Roussy, diz que a coloscopia deve ser praticada em caso de sintomas leves
O gastroenterologista francês Michel Ducreux, chefe do comitê de patologias digestivas do Instituto Roussy, diz que a coloscopia deve ser praticada em caso de sintomas leves © Taíssa Stivanin/RFI Brasil

O gastroenterologista francês, especialista em cânceres do aparelho digestivo, reconhece que a coloscopia é um exame de acesso restrito, devido ao alto custo e à distância que separa muitas cidades francesas de centros especializados. O procedimento também é recusado por muitos pacientes. Neste contexto, o teste Hemocutt foi considerado pelas autoridades de saúde francesas como a maneira mais “realista” de sensibilizar a população geral ao risco.

“O teste imunológico permite a detecção de 80% dos cânceres e dos tumores benignos, que estão se 'modificando', crescendo e que vão provavelmente se transformar em cânceres. Neste caso, podemos, durante a colonoscopia, retirar os pólipos e evitar o câncer. É uma política que pode trazer resultados, mas se houver adesão, o que não é o caso”, reitera.

Cartaz da campanha "Março Azul" realizada pelo Instituto Gustave Roussy, situado em Villejuif, perto de Paris
Cartaz da campanha "Março Azul" realizada pelo Instituto Gustave Roussy, situado em Villejuif, perto de Paris © Taíssa Stivanin/RFI Brasil

A campanha de prevenção "Março Azul", ou Mars Bleu, em francês, visa justamente conscientizar os franceses sobre a importância do teste e a necessidade de uma colonoscopia se ele for positivo.

Enquanto isso não ocorre, a taxa de mortalidade pela doença continua elevada no país e o câncer colorretal é, como no Brasil, o segundo que mais mata na França. Em 2018, cerca de 17 mil pessoas morreram vítimas da doença.

Pacientes com sintomas devem fazer colonoscopia sem passar pelo teste

Em caso de sintomas, o paciente deve realizar a colonoscopia imediatamente, lembra o especialista do Instituto Gustave Roussy. “Pessoas sem antecedentes, doenças ou sintomas digestivos devem fazer o teste. Quem sente dores, ou tem o trânsito intestinal irregular, por exemplo, deve fazer logo uma colonoscopia para eliminar algo mais sério, e depois fazer os testes a cada dois anos, como todo mundo, se tudo estiver bem.”

Michel Ducreux lembra que entre 20 e 25% da população tem pólipos intestinais, mas apenas um de cada dez tumores poderá se transformar em câncer. O processo é lento e demora cerca de dez anos. “Isso é que é um pouco irritante. Sabemos que, durante um longo período, podemos intervir, com poucas consequências para o paciente, e evitar o pior”. Existem diferentes tipos de câncer colorretal, mas, em geral, os tumores intestinais podem ser curados se descobertos com antecedência.

Novos equipamentos, como este robô cirurgião, são novas armas na luta contra o câncer colorretal
Novos equipamentos, como este robô cirurgião, são novas armas na luta contra o câncer colorretal © Taíssa Stivanin/RFI Brasil

Há também fatores de risco. Pólipos na família (pais ou irmãos) aumentam de duas a três vezes a possibilidade de ter um câncer e a colonoscopia é inevitável. 

Outras condições mais específicas e raras exigem tratamentos radicais. Entre elas, a polipose adenomatosa familiar, causada por uma mutação genética, que exige a retirada total do cólon, e a síndrome de Lynch - também de origem genética. Algumas doenças inflamatórias intestinais, como a doença de Crohn e a retocolite ulcerativa também exigem maior monitoramento.

Em todos os casos, já está provado que tabagismo, falta de atividade física e alimentação pouco saudável, além do excesso de peso, são fatores que influenciam o aparecimento do câncer, independentemente de sua localização.

“Acreditamos que este seja um câncer cujos fatores de risco são essencialmente genéticos, e que a alimentação é importante para seu aparecimento”, ressalta o oncologista francês. Ele aconselha diminuir o consumo de carne vermelha, privilegiar peixes e carnes brancas e evitar embutidos como linguiça, por exemplo, que contêm nitrito. A substância pode favorecer o aparecimento dos tumores.

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