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Saúde em dia

Covid-19: controle definitivo da pandemia depende de adesão à vacina, diz virologista francês

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O aparecimento da subvariante BQ.1.1 da ômicron BA.5, que atualmente é responsável por boa parte das novas contaminações na França, não preocupa as autoridades sanitárias do país, que enfrenta sua oitava onda epidêmica. O número de casos cresceu cerca de 18% na última semana, de acordo com dados divulgados pela Santé Publique France, a agência de vigilância sanitária francesa, mas há menos hospitalizações, mortes e internações nas UTIs (Unidades de Terapia Intensiva).

O virologista Bruno Lina, no hospital da Croix-Rousse, em durante o primeiro lockdown, em 2020
O virologista Bruno Lina, no hospital da Croix-Rousse, em durante o primeiro lockdown, em 2020 AFP - PHILIPPE DESMAZES
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Taíssa Stivanin, da RFI

O controle da epidemia agora dependerá principalmente da adesão da população à vacinação periódica, diz Bruno Lina, professor de Virologia do Hospital Universitário de Lyon e membro do COVARS, o Comitê de Acompanhamento e Antecipação de Riscos Sanitários do Ministério da Saúde Francês. O órgão publicou suas últimas recomendações no último dia 20 de outubro.

"Temos a impressão que esse vírus, BQ.1.1, não é responsável por uma retomada epidêmica. Ele parece ser um vírus de transição", disse o virologista francês à RFI Brasil. "Estamos otimistas em relação à epidemia, mas a próxima fase está condicionada ao uso de todas as ferramentas que existem para lutar contra o coronavírus. Se interrompermos a vacinação, se não aderirmos à imunização e às medidas de proteção nos períodos em que o vírus está circulando, estamos expostos à retomada epidêmica. Isso é claro", acrescentou.

A Covid-19, a exemplo da gripe, provavelmente será responsavel por uma onda epidêmica anual, prevê o virologista francês. Mas, para atingir esse patamar, que representa o tão esperado retorno de fato à vida normal, é necessário manter a imunidade da população. Para isso, o ideal é fazer a dose de reforço em média de quatro a seis meses após a última injeção e três após a infecção  – que protegem por tempo limitado, com algumas variações individuais. Esta é a recomendação da FDA (agência reguladora de medicamentos e alimentos) dos Estados Unidos.

A França optou por concentrar seus esforços em campanhas para incitar a dose de reforço em pacientes idosos ou com fatores de risco. A imunização desse grupo é essencial para evitar internações, formas graves e mortes, e aliviar a pressão nos hospitais, mas isso não significa que a população com menos de 60 anos esteja dispensada da vacina, lembra Bruno Lina.

O país já dispõe da vacina bivalente da Pfizer, que traz as cepas BA.4 e BA.5 e é segura, afirma. O especialista lembra, entretanto, que os imunizantes feitos com a cepa histórica continuam sendo eficazes e não há razões para adiar a injeção nos países onde a nova vacina do laboratório americano ainda não está disponível.

"Temos que parar de achar que a Covid-19 se tornou uma doença benigna só porque a maioria das pessoas não vai para o hospital. Podemos ficar de cama durante três semanas", alerta. O virologista também lembra o risco da Covid longa, que atinge uma parcela ainda desconhecida dos contaminados que convivem com sintomas persistentes.

Monitoramento de variantes

 

 

À espera de elementos mais concretos sobre o futuro epidêmico, por hora o governo francês continuará monitorando a nova subvariante BQ.1.1, que deve se tornar majoritária nas próximas semanas. O objetivo é determinar se ela induzirá um número maior de contaminações.

Há razões para manter o otimismo, diz Bruno Lina: na onda atual, os hospitais não ficaram lotados, o que mostra que houve menos casos graves. O pico da epidemia deve ser atingido em 15 de novembro, com uma queda significativa da taxa de incidência. No continente europeu, também existe a possibilidade de que haja uma queda brutal da circulação em dezembro, apesar da chegada do inverno no hemisfério norte.

A todos esses aspectos, soma-se um outro fator fundamental. Dados mostram que a mutação 346 presente na proteina Spike da BQ.1.1, que o SARS-CoV-2 utiliza para entrar na célula, "opera em um contexto de maior pressão imunitária adquirida pela população." De acordo com Bruno Lina, essa mutação não se compara em termos de virulência, por exemplo, às observadas nas linhagens BA.1 e a BA.2 e a BA.4 e a BA.5.

A chegada da ômicron e de suas subvariantes mudou a trajetória da pandemia. Mais contagiosa e menos virulenta, ela contaminou um número maior de pessoas, fazendo com que as populações em diversos países do mundo adquirissem um certo grau de imunidade que, associada à vacinação, evita hospitalizações, casos graves e mortes.

À espera (ou não) de novas cepas

Esse equilíbrio, entretanto, pode ou não ser duradouro. Segundo Bruno Lina, dois fatores são determinantes para o futuro epidêmico : a emergência de novas variantes que acabem com o reinado da ômicron, e o ritmo das ondas epidêmicas, que ocorrem surgem, em média, a cada quatro meses, mas poderia diminuir. "Essas duas questões estão correlacionadas. Se a evolução do vírus for lenta, é provável que o ritmo das epidemias seja mais espaçado", prevê.

"Hoje, entretanto, sou incapaz de dizer se essa incidência vai diminuir ao ponto de fazer com que os casos de Covid desapareçam, ou se entraremos em uma circulação praticamente sazonal, de um virus respiratório normal. Ou que ainda estamos expostos ao risco de retomada epidêmica por um vírus que talvez não apareça na Europa, mas no exterior", questiona. O virologista francês lembra que o Ministério da Saúde monitora com atenção, por exemplo, a variante XBB, surgida na Ásia, que parece ter um maior potencial de escape imunitário.

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