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Celebrado no cenário mundial do jazz contemporâneo, Amaro Freitas lança disco Y’Y na Europa

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Um momento "maravilhoso". Assim o pianista pernambucano Amaro Freitas resume a atual fase na carreira, marcada pelo lançamento de seu quarto álbum, Y’Y, uma criação inspirada em suas aventuras pela Amazônia. O disco, lançado no começo de março nos Estados Unidos, é apresentado na Europa em uma turnê de ritmo alucinante. Do início em Milão, em 21 de março, até o final, na portuguesa Ovar, em 20 de abril, serão 16 cidades e cinco países.

O músico Amaro Freitas
O músico Amaro Freitas © RFI
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A carreira europeia vem se consolidando desde 2017, com a maior frequência de concertos pelos palcos da França e de outros países. “De lá para cá, a gente vem entendendo um pouco mais a conexão com esse continente, com as pessoas, e é um lugar totalmente diferente do Brasil. O que eu percebo é que as pessoas se sentem abertas, se sentem à vontade para querer trocar através da música, que a música pode ser um ponto de conexão espiritual”, afirma.

Amaro Freitas tem recebido elogios em artigos da crítica especializada em jornais como o americano The New York Times, o britânico The Guardian e o francês Libération. Ele é celebrado como um artista em ascensão que faz uma fusão do jazz com suas raízes musicais e influências diversas que vão do frevo da sua terra natal ao maracatu, baião e ciranda, além de ritmos afro-brasileiros.

Sua história também é realçada para destacar sua trajetória musical singular. O pai introduziu a música na sua vida ainda criança e até os 15 anos só escutava músicas evangélicas. A mudança de rota veio com a descoberta do pianista americano Chick Corea, uma lenda do jazz. “Isso transformou a minha vida, a forma de perceber música e um direcionamento de querer viver desse tipo de música, que é a música improvisada, o jazz”, contou na entrevista à RFI.

Jazz "descolonizado"

Esse despertar o levou a frequentar escolas de música e se formar na universidade. Neste período se envolveu com músicos de jazz e passou a observar os tradicionais estilos nordestinos com ouvidos mais atentos.

"De uma certa forma, eu acabei sendo muito influenciado por esse tipo de música que já vem sendo representada de uma forma Internacional por grandes artistas brasileiros, como Tânia Maria, Naná Vasconcelos, Moacir Santos, Hermeto Pascoal, Egberto Gismonte. Eu me sinto uma continuidade e me sinto privilegiado de poder ter tantas referências incríveis que me apontam caminhos de como trabalhar essa música brasileira”, afirma.

Essas heranças abriram um caminho moldado pelo conceito de “jazz descolonizado”, trilhado ao longo de sua carreira. Depois de seu disco de estreia Sangue Negro (2016), Amaro Freitas lançou Rasif (2018), e Sankofa (2021), que fazem referências à identidade do território nordestino, mas por meio das influências ibéricas, árabes, negras e indígenas.

"Basicamente, toda a construção da história brasileira veio de um crivo branco. Então acho que é uma oportunidade de ir trazendo nomes como Rasif, Sankhofa, Y’Y. Não são nomes do colonizador, né? Não é um nome francês, não é um nome português, nem inglês, nem espanhol. É um nome árabe, um nome indígena e um nome africano”, comenta. 

Aventura musical na Amazônia

Neste quarto álbum, Y’Y, que na língua da etnia Sateré-Mawé significa “água”, “rio”, Amaro Freitas mergulhou no universo amazônico. A convivência com indígenas e a imensidão da floresta resultou numa sequência de ritmos e canções que buscam traduzir suas experiências com o espetáculo do encontro entre o Rio Negro e o Solimões, das árvores milenares, do boto cor-de-rosa, da vastidão da floresta, das sensações de umidade e calor, e até das surpreendentes casas flutuantes.

“É um Brasil totalmente diferente do Brasil que a gente está acostumado a viver.  Foi muito importante estar com a comunidade Sateré-Mawé e poder trocar um pouco de experiência, falar sobre o balanceamento do planeta, sobre a importância da floresta”, afirma o músico, que diz ter procurado reproduzir no disco os sons da floresta de uma forma contemporânea, usando técnicas do piano preparado, mas também polirritmia, isoritmia e ritmo negativo. 

“É um estudo todo que envolve sensações e toda essa vivência. Talvez a gente não tenha a real dimensão da importância desse lugar, dessa diversidade e grandiosidade que é a Amazônia. De uma certa forma, eu me senti muito sensibilizado com tudo que vivi e queria poder compartilhar isso dentro da minha música”, conclui.

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