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'Avante Delírio': Saulo Duarte traz releituras contemporâneas de ritmos nômades da Amazônia a Paris

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O cantor, compositor e multi-instrumentista Saulo Duarte se apresenta pela primeira vez em Paris com um "apurado" da carreira, mesclando canções de "Avante Delírio", seu álbum mais conhecido do público europeu, com músicas de outros trabalhos, como "Lumina", lançado em 2021. Misturando ritmos diversos da Amazônia e do Brasil como carimbó, lundu e guitarrada a um imaginário contemporâneo, Saulo mostra aos franceses a vitalidade da atual música independente brasileira.

O multi-instrumentista, cantor e compositor brasileiro Saulo Duarte.
O multi-instrumentista, cantor e compositor brasileiro Saulo Duarte. © RFI/Elcio Ramalho
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"Estou fazendo um apurado da carreira, com um foco em 'Avante Delírio', mas também tocando canções de todos os meus discos, adaptando com releituras só para o violão", conta Saulo Duarte, que se apresenta nesta quarta-feira (22) na casa de shows Serpent à Plume, em Paris. O músico estreia em Paris amparado por boas críticas na mídia francesa, como a revista cultural Télérama, que sugere a seus leitores que venham conhecer os "ritmos amazônicos de outros trópicos" se estiverem "cansados de samba". 

"Acho muito interessante bater nessa tecla para realmente entender que o Brasil é gigantesco. Eu, por exemplo, venho de Belém do Pará, um local com muita personalidade no que diz respeito à cultura", diz Duarte. "Temos estilos como o carimbó, a guitarrada, o zouk, a lambada; hoje em dia essa coisa do brega pop, o tecnobrega indo para esse lugar mais cool, mais sofisticado, digamos... Existe uma gama de estilos musicais aos quais as pessoas não têm tanto acesso", considera o músico. 

"Didatismo" com público europeu

Perguntado se as plateias europeias já estavam acostumadas a essa diversidade de ritmos brasileiros, Saulo Duarte afirma que "existe um caráter introdutório, didático com o público". "A partir do momento em que você é apresentado a um novo estilo, cabe à gente ter uma certa generosidade. Por exemplo, no show, para as músicas que são mais ou menos cumbia ou guitarrada, eu canto um reggae por perto, para as pessoas poderem identificar o caminho, se vai mais para a América Central ou Latina, situá-los geograficamente. Aos poucos eles vão entendendo, associando a coisas que já conhecem", contextualiza o compositor.

Na Rússia, quando a gente tocou frevo, eles identificaram como polca

"Meu som tem muito da cultura gipsy, da cultura cigana. Em 2018, quando fiz a primeira turnê desse disco em algumas cidades da Europa, tocamos na Rússia, um lugar longe da cultura paraense. Quando a gente tocou frevo, eles identificaram como polca, foi muito curioso", diverte-se Duarte. "Meu primeiro disco ["Saulo Duarte e a Unidade"], por exemplo, traz mais o universo da canção romântica, que vai bater em Roberto, Erasmo Carlos, mas também Carlos Santos, artistas de Belém", lembra. 

O músico Saulo Duarte.
O músico Saulo Duarte. © Ana Alexandrino

Saulo Duarte faz parte de uma geração da música brasileira contemporânea que decidiu seguir rumos criativos mais independentes, fora do formato tradicional mainstream, com universos estéticos próprios e personalidades musicais afirmativas, como Ava Rocha, Tulipa Ruiz, Anelis Assumpção, Russo Passapusso (Baiana System) e Céu. "São artistas que eu admiro muito, exatamente por esse caráter inventivo, esse lugar de colocar a música brasileira em outro lugar, respeitando nossa tradição, mas apontando para uma nova direção. Sou um sortudo de colaborar com essas pessoas. Nos conhecemos há muito tempo", diz.

"Tenho como norte aquilo que tem a ver com a minha história, a cultura cigana, o nomadismo. Tenho um fascínio por essa coisa dos povos que transitam", conta o artista. "Tem um filme que é uma das grandes inspirações da minha vida que se chama 'Latcho Drom', que é inclusive de um diretor francês, o Tony Gatlif, cigano também. Ele narra nesse filme todo um tratado geográfico, partindo da Índia até o leste europeu, desaguando na França, na Espanha. A minha impressão é que, se existisse um 'Latcho Drom parte 2', seria depois da expulsão dos mouros da Península Ibérica, onde alguns atravessaram o oceano e foram para o Brasil", diz.

"Quando você pega a escala [musical] do forró, é super cigano, mouro. Mesma coisa com a voz do Fagner, aquele canto chorado, aquela coisa emocionada, tudo isso é uma herança moura que a gente tem. Eu me aproprio disso. Minha pesquisa vai muito para Belém do Pará também. O disco 'Quente', com o qual ganhamos o Prêmio da Música Brasileira, é todo focado lá. Brinco com lendas. Sou fascinado pelo Brasil e pelas histórias, tudo isso me inspira", diz Duarte. Após o show em Paris, o artista segue para Portugal (Lisboa, Coimbra e Porto), terminando a turnê no sul da Itália.

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