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Conheça a história do memorial brasileiro criado pela Princesa Isabel no Castelo D'Eu, na França

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O pesquisador Carlos Lima Junior, doutor em Estética e História da Arte pela Universidade de São Paulo (USP), realiza uma série de palestras em universidades francesas sobre a sua pesquisa, que analisa a coleção de objetos da família imperial brasileira no Castelo D'Eu, na Normandia, no norte da França, logo após a implementação da República brasileira.

Princesa Isabel, posteriormente Condessa D'Eu durante exílio na França, presta juramento como regente do Brasil, nesta tela do pintor brasileiro Victor Meirelles de Lima, hoje presente no Senado brasileiro.
Princesa Isabel, posteriormente Condessa D'Eu durante exílio na França, presta juramento como regente do Brasil, nesta tela do pintor brasileiro Victor Meirelles de Lima, hoje presente no Senado brasileiro. © Arquivo
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Exilada e rejeitada pelo novo Estado antimonárquico, a Princesa Isabel, filha de D. Pedro II, criou no castelo onde morou após se casar com Gastão D'Orléans, neto do rei francês Luís Filipe I, um verdadeiro museu com objetos e obras de arte do segundo império brasileiro, como conta o professor e pesquisador Carlos Lima Junior. 

O pesquisador Carlos Lima Junior
O pesquisador Carlos Lima Junior © RFI

No século 19, uma parte significativa desses objetos foi despachada do Brasil para a França, onde D. Pedro II já se encontrava exilado. O Castelo D'Eu, no norte da França, na Normandia, serviu de residência para a Princesa Isabel durante esses anos de exílio e é cenário da pesquisa "A exibição da nostalgia, os artefatos artísticos e históricos do Brasil no exílio imperial", do especialista brasileiro. Isabel, para os franceses, se torna então a Condessa D'Eu, figura de proa da sociedade da época e representativa da "nostalgia desse império brasileiro".

"A pesquisa nasce de uma indagação, de tentar compreender como, no Brasil, nós temos tantos objetos do período imperial musealizados", explica o pesquisador. "Quando acontece a mudança de regime, em que os objetos pertencentes aos palácios, tanto do Palácio da Quinta da Boa Vista ou Palácio da Cidade, foram despachados aqui para a França, durante o exílio da família imperial, o governo disputa com a família parte dessa coleção. Mas, após acordos entre os representantes da família, fica decidido que tudo aquilo que Dom Pedro II conseguia comprovar como sua propriedade - os quadros, retratos e bustos que decoravam esses palácios - poderiam ser enviados para o Brasil, desde que tivessem um recibo no arquivo da mordomia imperial", explica Lima Junior.

"Essa é, na verdade, aquilo que eu chamo de coleção artística do Império, uma parte daquilo que vem desse desses palácios", completa. Segundo o pesquisador, a Princesa Isabel se obstina a resgatar esses objetos porque "eles fazem parte justamente do imaginário do Império".

"Então ela traz, por exemplo, os trajes majestáticos do Pedro II, o manto, o cetro, mas a coroa fica no Brasil. Eles não conseguem trazer porque ela é, de uma certa maneira, apreendida pela República, também como uma conquista simbólica", revela.

Quando um castelo vira memorial

"Mas é interessante notar que ela [a Princesa Isabel] transforma o castelo num grande memorial nostálgico em relação ao período imperial; então ela vai dispor, por exemplo, o quadro da coroação do Dom Pedro I na biblioteca, tela feita pelo Jean-Baptiste Debret. Era um quadro que ficava na sala do trono, no Palácio da Cidade do Rio de Janeiro. E ela traz também a mesa em que ela assina a lei Áurea. Então, ela constrói a memória do Império a partir desses objetos", avalia Junior.

Pretensão imperial, mesmo depois da proclamação da República

"Quando ela vem para cá, é herdeira do trono, mas ela é uma princesa exilada e banida. O regime que vigora é o regime republicano no Brasil, mas na França os monarquistas que estão em torno dela, que fazem uma típica corte em volta da figura da princesa, a reconhecem como Imperatriz do Brasil", contextualiza o pesquisador.

"E ela aciona também outra posição simbólica junto à aristocracia francesa, como a condessa D'Eu, a partir do título do marido que a faz circular entre essas elites às quais ela pertence. Então ela não vai assinar em nenhum modo 'Princesa Isabel' ou 'princesa', mas ela faz uso constante do título nobiliário francês para essa sociedade que ela tenta agora adentrar de uma maneira mais afirmativa", diz Junior.

O especialista cita em sua pesquisa o escritor português e prêmio Nobel da Paz José Saramago: "fisicamente habitamos um espaço, mas somos sentimentalmente habitados por uma memória". "Eu meio que me apropriei dessa frase do Saramago porque o castelo vira, de fato, um grande memorial da monarquia, até porque ela recebe brasileiros nesse castelo, né?", conta o pesquisador. "Eu destaco, sobretudo, a memória que ela constrói dela enquanto uma herdeira legitima do trono, apesar da República estar vigorando. Então eles trazem, por exemplo, a carruagem usada na coroação do Dom Pedro I, por exemplo", recorda. 

Para ver a entrevista completa, clique no vídeo no alto desta matéria.

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