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Livro de Leonardo Tonus inspirado nos movimentos migratórios 'situa leitor no desconforto'

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Um mergulho, uma travessia, um estar à deriva. A mais recente antologia poética de Leonardo Tonus, “Diários em mar aberto”, propõe um deslocamento por oceanos geográficos e metafóricos, em que a crise migratória (des)orienta o leitor pelo caminho do desconforto das tensões sociais e dos exílios íntimos.

O escritor e professor de Literatura Brasileira Contemporânea da Sorbonne Leonardo Tonus lança versão em alemão de sua mais recente antologia poética, "Diários em mar aberto".
O escritor e professor de Literatura Brasileira Contemporânea da Sorbonne Leonardo Tonus lança versão em alemão de sua mais recente antologia poética, "Diários em mar aberto". © RFI Brasil
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Andréia Gomes Durão, da RFI

Esse “diário de bordo”, no entanto, começa a ser escrito curiosamente em uma época em que as pessoas precisavam se deslocar menos, confinadas em suas casas sob a ameaça de um vírus. “O texto nasce em um momento muito específico, muito traumático para todos nós, que é o momento da pandemia. Não é um texto sobre pandemia, mas o livro nasce em um momento de reflexão sobre esse estar no mundo. Nós estávamos completamente deslocados no nosso espaço doméstico”, lembra o autor.

A reclusão foi a oportunidade para navegar em histórias pessoais sobre este tema de grande interesse do escritor: o processo migratório. “Eu lembrei que meu pai tinha me ofertado, em 2019, uma caixa com vestígios da história familiar. E essa caixa ficou durante muito tempo em cima da minha mesa, sem que eu tivesse coragem de abri-la. Nesse momento da pandemia, comecei a redigir um diário. E decidi abrir essa caixa e descobrir então esses vestígios, que vieram nutrir minha reflexão sobre essa situação de exílio”, ele conta.

Tendo essa experiência pessoal como ponto de partida – e sem porto de chegada, Tonus conduz o leitor ao não-lugar, ao lugar do outro, ao desconforto de um destino desconhecido. O próprio projeto gráfico da versão em alemão de “Diários de mar aberto”, que acaba de chegar às livrarias, subverte as referências de “latitude e longitude” em sua diagramação, e propõe uma experiência de ausência de orientação.

“O projeto gráfico proporciona essa experiência de se estar no mar. O mar se torna cada vez mais revolto pelo próprio processo de leitura. Há momentos em que o leitor é obrigado a virar [o livro] de uma outra maneira, criando esse mal-estar. A ideia é situar o leitor dentro deste espaço, não mais de sonhos, de esperanças, que sempre foi o mar, mas esse mar tenebroso”, descreve.

Capa da versão em alemão da coletânea de poemas "Diários em mar aberto", de Leonardo Tonus.
Capa da versão em alemão da coletânea de poemas "Diários em mar aberto", de Leonardo Tonus. © divulgação

Cemitério a céu aberto

“O Mediterrâneo se tornou o maior cemitério a céu aberto nesses últimos tempos”, enfatiza Leonardo Tonus, que faz de seu livro uma ferramenta para sensibilizar o público sobre um dos problemas sociais mais graves da atualidade.

“Minha única solução seria criar esse desconforto, para mim mesmo e para o meu leitor, para que ele chegue próximo dessa situação e, a partir daí, possa talvez entender, compreender e acolher esse outro que vive há anos em situação de sofrimento”, explica o autor.

"Diários em mar aberto" é a terceira coletânea de poesias lançada pelo escritor e professor da Sorbonne Leonardo Tonus.
"Diários em mar aberto" é a terceira coletânea de poesias lançada pelo escritor e professor da Sorbonne Leonardo Tonus. © divulgação

Leonardo Tonus é professor de literatura brasileira contemporânea na Sorbonne. Ele foi condecorado Chevalier das Palmas Acadêmicas pelo Ministério francês de Educação em 2014, e Chevalier das Artes e das Letras pelo Ministério da Cultura da França em 2015.

É o idealizador e organizador da “Primavera Literária Brasileira”, em Paris, e do Projeto Migra, que promove um debate com participantes de diversos países sobre a questão migratória na contemporaneidade.

Além de "Diários em mar aberto", publicado em 2021 pelas Edições Folhas de Relva, ele também é autor das antologias poéticas "Agora Vai Ser Assim" (2018) e "Inquietações em tempos de insônia" (2019), ambas lançadas pela Editora Nós.

Clique na foto principal para assistir o vídeo com a íntegra da entrevista.

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