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Reportagem

Das ondas curtas à era digital, ouvintes estão conectados com a RFI Brasil há 40 anos

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O que seria uma rádio sem seus ouvintes? O programa Correio dos Ouvintes da RFI Brasil ficou no ar até 2015, após o fim das transmissões em ondas curtas, com grande participação do público. Atualmente, os ouvintes acompanham a programação pela internet ou rádios parceiras no Brasil e muitos deles continuam enviando seus comentários por e-mail ou pelas redes sociais.

A RFI Brasil recebia centenas de cartas de ouvintes por mês.
A RFI Brasil recebia centenas de cartas de ouvintes por mês. Foto: Adriana de Freitas
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No momento da criação da redação brasileira da Radio França Internacional, em 1982, não foi previsto inicialmente na grade um programa para o diálogo entre os jornalistas da emissora em Paris e os ouvintes no Brasil. A audiência era desconhecida, mas o grande número de cartas que chegava mensalmente à redação indicava que a RFI era ouvida e apreciada.

“Era muito grande o número de rádio amadores que escutavam, mandavam cartas e nós começamos a fazer o programa Correio dos Ouvintes”, se recorda Milton Blay, um dos jornalistas pioneiros da RFI Brasil.

Como o restante da programação da RFI na época, o Correio dos Ouvintes era longo, durava 40 minutos e ia ao ar sempre aos domingos. Dois ou três jornalistas e a responsável pelo programa liam e respondiam ao vivo as cartas enviadas pelos ouvintes. A partir de 1993 e até 2015, quando o programa foi extinto, o cargo foi ocupado por Adriana de Freitas, que é hoje uma das colaboradoras mais antigas da RFI Brasil.

Adriana de Freitas
Adriana de Freitas © RFI

Ela lembra que chegavam entre 200 a 300 cartas por mês, enviadas de vários lugares do Brasil, mas também de outros países. “A maioria dos nossos ouvintes eram homens. Não havia todos esses métodos de hoje e para saber como eles escutavam nossos programas, a gente enviava um cartão postal, chamado QSL, que eles respondiam indicando os programas que tinham ouvido, o horário e a frequência. Várias pessoas escreviam para receber esses cartões postais e nós enviamos uns brindes para eles”, detalha Adriana de Freitas.

Cartão QSL é uma confirmação escrita de uma radiocomunicação bidirecional entre dois rádios amadores ou estações de banda de cidadãos; uma recepção unidirecional de um sinal de uma rádio AM
Cartão QSL é uma confirmação escrita de uma radiocomunicação bidirecional entre dois rádios amadores ou estações de banda de cidadãos; uma recepção unidirecional de um sinal de uma rádio AM © Arquivo Pessoal

Elo entre a França e o Brasil

A maioria dos ouvintes queria saber curiosidades sobre a França e a cultura francesa. Assim como o restante da programação brasileira da RFI, o Correio dos Ouvintes fazia o elo entre os dois países. José Alberto de Andrade, jornalista da rádio Gaúcha conheceu a Rádio França Internacional pelas ondas curtas nos anos 1980, durante sua juventude, e diz que a RFI está na sua “memória afetiva” de ouvinte de rádio. “Na Europa o serviço da Rádio França era uma das nossas bases de audição para saber das notícias do que acontecia na Europa em relação ao Brasil”, diz.

O ouvinte Cassiano Macedo, de Aparecida, considera que “apesar da distância que nos separa, a RFI é a nossa ponte”. Osias Oliveira Bispo, ouvinte desde 1998, ressalta a “credibilidade” e as “informações dinâmicas”.

Boletins enviados pela radio
Boletins enviados pela radio © Arquivo Pessoal

Pouco a pouco, com a evolução da tecnologia e assim como o restante da programação da RFI Brasil, o Correio dos Ouvintes também evoluiu até a sua extinção em 2015. Apesar do fim das transmissões em ondas curtas, no início dos anos 2000, muitos rádios amadores continuaram acompanhando a programação e são ouvintes até hoje. Alguns deles, como Jailton Amaral, sonham com adoção pela RFI das ondas curtas digitais que são, segundo ele, "o futuro das ondas curtas”.

Concurso de contos Guimarães Rosa

Na época do Correio dos Ouvintes, um outro canal de contato com o público era o Concurso de contos Guimarães Rosa, criado em 1992, baseado no concurso Juan Rulfo em espanhol, que já exista. A seleção era realizada anualmente e aberta a obras originais de autores de todos os países em língua portuguesa.

A iniciativa foi de Ramón Chao, então chefe do serviço da RFI para a América Latina, que englobava a redação brasileira, e da jornalista Eugênia Fernandes. O “sucesso” foi imediato, garante Giselda Akaishi, que implementou o concurso de contos. Segundo ela, “já no primeiro ano houve uma avalanche de respostas”.

O Concurso de contos Guimarães Rosa tinha três prêmios: o Rádio França Internacional, de um valor de € 2.286,74, o União Latina, de € 1.524,49; e o Casa da América Latina, também de 1.524,49 €, que só contemplava autores de nacionalidade brasileira. Além disso, eram atribuídas Menções Honrosas para outras obras de relevância.

O júri era composto por escritores, críticos e tradutores, tanto brasileiros e portugueses quanto franceses. Por exemplo, Márcio de Souza e Luiz Fernando Veríssimo foram jurados durante muito tempo.

Otávio Henrique Rodrigues Meloni ganhador do prêmio Guimarães Rosa 2003
Otávio Henrique Rodrigues Meloni ganhador do prêmio Guimarães Rosa 2003 © Arquivo Pessoal

O concurso durou cerca de 10 anos. Otávio Henrique Rodrigues Meloni foi um dos últimos vencedores. Ele levou o prêmio máximo em 2003 com o conto Os desditos e os dos-de-fora”, escolhido entre os 3.125 participantes. O escritor, que hoje é professor de literatura do Instituto Federal de Educação e Tecnologia do Rio de Janeiro em Volta Redonda, guarda o certificado até hoje.

O dinheiro garantiu a conclusão em boas condições do curso de Letras e a premiação abriu muitas portas. “Publiquei em antologias, comecei a ser chamado para participar de bancas, publiquei dois livros de poesia, mas até hoje nunca publiquei um livro de contos. Mas esse conto (vencedor) muita gente leu”, afirma.

Audiência

Saber a audiência exata da RFI no Brasil é complexo. Os programas em português para o Brasil são transmitidos principalmente pelas 180 rádios parceiras em todo o país e é a audiência dessas emissoras que dá uma ideia do alcance da Rádio França Internacional.

Mas a visibilidade e a escuta podem ser medidas com mais facilidade na internet e nas redes sociais. O site em português para o Brasil é o segundo mais acessado de todas as redações em língua estrangeira da RFI, ficando atrás somente dos chineses.

Alfredo Valladão
Alfredo Valladão © RFI

Entre os conteúdos mais populares, está a crônica de política internacional “O Mundo Agora”, assinada até 2021 por Alfredo Valladão. Em 26 anos na RFI, o professor do Instituto de Ciências Políticas de Paris escreveu e apresentou mais de três mil textos, mas uma de suas lembranças inesquecíveis data do início de sua colaboração nos anos 1990, quando uma de suas crônicas sobre o aquecimento global foi citada na música “Mentira”, de Manu Chao.

Acompanhe a série de podcasts sobre os 40 anos da RFI

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