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Rendez-vous cultural

“Brasil is Back” foi o tema do estande brasileiro no Mercado do Filme de Cannes

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Ainda é cedo para falar em prêmios, mas a participação do Brasil nesta 76ª edição do Festival de Cinema de Cannes já é considerada um sucesso. Seis filmes brasileiros foram selecionados em várias mostras, sem falar na presença relevante do país no “Mercado do Filme”. Como diz o lema do pavilhão nacional no evento, “Brasil is Back” (o Brasil está de volta).

Pavilhão do Brasil no Mercado do Filme do Festival de Cannes 2023.
Pavilhão do Brasil no Mercado do Filme do Festival de Cannes 2023. © RFI/Adriana Brandão
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Desde 2019, o Brasil não tinha uma presença tão expressiva no principal encontro do setor cinematográfico do mundo. Cinco filmes brasileiros estão na seleção oficial: “Firebrand”, de Karim Aïnouz, na disputa pela Palma de Ouro; “A Flor do Buriti”, de Renée Nader Messora e João Salaviza, na mostra Um Certo Olhar; os documentários “Nelson Pereira dos Santos, vida de Cinema”, da dupla Aída Marques e Ivelise Ferreira, e “Retratos Fantasmas”, de Kleber Mendonça Filho, fora da competição, e o curta “Solos”, de Pedro Vargas da Faap de São Paulo, na La Cinef de curtas realizados em escolas de cinema do mundo todo. O sexto filme é “Levante”, o longa de estreia de Lillah Halla na mostra paralela Semana da Crítica.

As produções foram selecionadas pelo Festival de Cannes, claro, por sua qualidade artística. Mas pela primeira vez a vinda dos filmes e das equipes contou com o apoio conjunto de quatro agências do governo federal: o Instituto Guimarães Rosa do Itamaraty, o Ministério da Cultura, a Ancine (Agência Nacional do Cinema) e a Apex (Agência Brasileira de Promoção de Exportações e Investimentos). A Apex financiou o pavilhão do Brasil no Mercado do Filme de Cannes (R$ 800 mil). O aporte do Itamaraty foi de R$ 100 mil.

 

O Pavilhão do Brasil no Mercado do Filme do Festival de Cannes 2023.
O Pavilhão do Brasil no Mercado do Filme do Festival de Cannes 2023. © RFI/Adriana Brandão

 

Diplomacia cultural

Adam Jayme Muniz, chefe de Promoção Cultural do Instituto Guimarães Rosa do Itamaraty, indica que essa articulação das instituições federais visa promover o audiovisual como mecanismo de diplomacia cultural do país.

“O audiovisual é estratégico porque, de todas as linguagens artísticas e culturais, é a que consegue de forma mais eficaz promover a imagem do país no exterior. O audiovisual dialoga com todas as outras linguagens, a literatura, a música, a arte. É nesse contexto que o audiovisual se posiciona de forma estratégica e conta com esse apoio grande de diferentes agências do governo federal”, aponta Adam Jaime Muniz, garantindo que esse apoio vai continuar em outros festivais internacionais.

 

Adam Jaime Muniz, chefe de Promoção Cultural do Instituto Guimarães Rosa do Itamaraty, no estande do Brasil em Cannes.
Adam Jaime Muniz, chefe de Promoção Cultural do Instituto Guimarães Rosa do Itamaraty, no estande do Brasil em Cannes. © RFI/Adriana Brandão

 

A produtora Julia Alves emplacou dois filmes na mostra Um Certo Olhar em Cannes este ano: o argentino “Los Delincuentes”, de Rodrigo Moreno, e o luso-brasileiro “A Flor do Buriti”. Ela diz que essa presença expressiva é resultado da resistência do setor cinematográfico nos últimos anos. Julia Alves ressalta que não devemos esquecer que a política do atual do governo é uma exceção, e que o descaso pela cultura é a regra no Brasil.

“É importante lembrar que essa é a regra, o que a gente está tendo agora é a exceção, é sempre importante ter os olhos abertos porque nada nunca está garantido. É sempre importante pensar em novas estratégias de como continuar resistindo e continuar de pé”, sugere a produtora.

Cineastas mulheres

O apoio também permitiu a vinda a Cannes do grupo “Mulheres Lideranças do Audiovisual Brasileiro”, uma iniciativa da sociedade civil que busca a paridade de gênero no setor, e do Instituto Nicho 54, que atua na promoção de profissionais negros e negras e participa do evento pela segunda vez.

Cannes não é só exibição, competição, busca de parcerias e de coproduções de filmes. O evento também organiza uma série de encontros e residências artísticas. O jovem músico Pedro Santiago foi o único brasileiro selecionado em dois programas diferentes para compositores de trilhas sonoras em Cannes.

Ele faz até o final de maio uma residência na Casa Cine para desenvolver a trilha sonora do filme luso-brasileiro “O Tubérculo”, de Lucas Camargo de Barros e Lucas Thomé Zetune. No Spot The Composer, do Mercado do Filme de Cannes, foi um dos 10 escolhidos, entre os candidatos do mundo inteiro, e fez um intenso networking animado por seis jovens cineastas. Pedro Santiago ficou “surpreso” com essa dupla seleção e espera que isso continue para reforçar a sua carreira internacional, iniciada no ano passado.

 

O brasileiro Pedro Santiago participou de dois programas dedicados a compositores de trilhas sonoras de filmes em Cannes.
O brasileiro Pedro Santiago participou de dois programas dedicados a compositores de trilhas sonoras de filmes em Cannes. © RFI/Adriana Brandão

 

Temática indígena

Cannes é uma vitrine internacional e uma das temáticas que teve grande visibilidade este ano foi a luta pela terra dos indígenas brasileiros e pela defesa das florestas. A ministra dos Povos Indígenas Sonia Guajajara foi homenageada em um evento paralelo, o festival viu passar no tapete vermelho o cacique Raoni e outros líderes indígenas e foi palco de um protesto da equipe do longa a “Flor do Buriti” contra o marco temporal. Pedro Vargas, que concorre na mostra La Cinef, também gritou fora marco temporal antes da exibição de seu curta-metragem “Solos”, que fala da ocupação de territórios ancestrais.

“Na verdade, meu filme, fala sobre o território e sobre como ele foi ocupado por vários povos e, agora, está sendo ocupado pelo sistema imobiliário, pelo capitalismo. É sobre os povos que estavam lá antes e estão aqui ainda. ‘Fora garimpo e fora marco temporal’ é uma forma de lutar para que os povos ancestrais tenham o seu território, para que um prédio nunca seja construído lá e destrua o território e a vida deles”.

 

O jovem Pedro Vargas, da Faap de São Paulo, concorre na mostra La Cinef com seu curta-metragem "Solos".
O jovem Pedro Vargas, da Faap de São Paulo, concorre na mostra La Cinef com seu curta-metragem "Solos". © RFI/Adriana Brandão

 

O Festival de Cinema de Cannes termina neste sábado (27), quando os vencedores da competição oficial serão revelados. Vários dos filmes brasileiros selecionados podem ser premiados.

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