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Rendez-vous cultural

Peregrinação de moda: 6 museus de Paris expõem obras de Yves Saint Laurent

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O estilista francês Yves Saint Laurent, morto em 2008, é homenageado simultaneamente por seis museus parisienses, entre eles Louvre e Orsay. O evento, que marca os 60 anos do primeiro desfile de um dos principais nomes da moda mundial, mostra sua relação com o mundo das artes e as diferentes inspirações que atravessaram a sua trajetória.

Criações de Yves Saint Laurent diante de obra A Fada Eletricidade, de Raoul Dufy.
Criações de Yves Saint Laurent diante de obra A Fada Eletricidade, de Raoul Dufy. © Silvano Mendes/ RFI
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Silvano Mendes, de Paris

Saint Laurent dizia que os vestidos eram a coisa mais importante de sua vida. Mas a existência do estilista era marcada também por sua paixão pelas artes, que colecionava compulsivamente junto com seu companheiro Pierre Bergé, e que o inspirava em suas criações. Todo fã de moda que se preza conhece, por exemplo, o vestido Mondrian, que o costureiro criou em 1965 em homenagem ao pintor holandês, que reproduz em uma peça, de aparência simples mas de construção complexa, as linhas e retângulos da famosa série de quadros.

O vestido e a tela estão expostos juntos nesse momento no Centro Georges Pompidou, o Beaubourg, o mesmo prédio onde Saint Laurent fez seu desfile de despedida, em 2002, diante da atriz Catherine Deneuve que cantava, emocionada. Esse novo bate-papo entre o estilista e Mondrian faz parte da exposição Saint Laurent aux Musées (Saint Laurent nos Museus), que começou no final de janeiro e vai até 15 de maio.

Obras de Yves Saint Laurent expostas diante dos quadros de Matisse, em Paris
Obras de Yves Saint Laurent expostas diante dos quadros de Matisse, em Paris © Silvano Mendes / RFI

O evento foi montado como uma espécie de peregrinação em seis museus parisienses, que se uniram pela primeira vez para celebrar, simultaneamente, o trabalho de um estilista. Além do Beaubourg, participam da mostra o Museu do Louvre, o Museu d’Orsay, e o Museu Picasso, além do Museu de Arte Moderna e o próprio museu Yves Saint Laurent.

“A ideia do projeto era criar um formato de exposição original, diferente das demais mostras que já foram realizadas sobre o trabalho de Yves Saint Laurent. Em vez de fazer uma mostra temporária em apenas um lugar, decidimos criar ‘marcos’ dentro das coleções permanentes de diferentes museus”, explica Mouna Mokouar, uma das comissárias do evento.

Segundo ela, isso só foi possível por causa da maneira como o estilista trabalhava. “Saint Laurent se inspirava muito de artistas de sua época, como Andy Warhol, Tom Wesselmann, ou ainda Roy Lichtenstein, mas também artistas modernos, como Fernand Léger, Pablo Picasso, Georges Braque ou Henri Matisse, ou ainda de artistas ou períodos anteriores, como o século 18 francês, o Renascimento italiano ou a pintura espanhola do século 17. Ele também olhou muito para a arte africana”, enumera a curadora.

O diálogo entre as criações de Saint Laurent e as obras dos museus às vezes é sutil, como quando o Museu d’Orsay explora a relação de Saint Laurent com Marcel Proust e “Em Busca do tempo Perdido”, livro de cabeceira do estilista. Outras composições lembram a destreza com que Saint Laurent brincava com as cores, como os looks instalados na frente do painel "A Fada Eletricidade", de Raoul Dufy, em uma das salas mais impressionantes do Museu de Arte Moderna, com suas paredes côncavas tomadas pela pintura.  

Outras vezes, essa conversa visual é evidente, como o vestido colocado diante das Danças de Matisse, também no museu de Arte Moderna. A paleta de cores que parece ter saído do mesmo pincel. “Tem uma osmose perfeita”, resume um visitante, que tirava fotos de todos os ângulos possíveis.

Casacos e coroas

A “via sacra” da homenagem parisiense a Saint Laurent também cria momentos de magia. Como no Louvre, onde a Galeria de Apolo, que expõe as coleções do rei Louis XIV, acolhe algumas peças do costureiro e confunde o público. Hipnotizados pelo brilho das joias da coroa e desatentos às etiquetas, os visitantes, adultos e crianças, nem sempre percebem ao admirar um casaco bordado em pedrarias que se trata de uma peça de alta-costura datando dos anos 1980 e não dos pertences de um monarca.

Visitantes admiram criação de Yves Saint Laurent na Galeria de Apolo, que expõe as coleções do rei Louis XIV no Museu do Louvre
Visitantes admiram criação de Yves Saint Laurent na Galeria de Apolo, que expõe as coleções do rei Louis XIV no Museu do Louvre © Silvano Mendes / RFI

“É fabuloso!”, se extasia uma turista norte-americana diante do casaco. “Todos esses bordados são tão belos. O que torna tudo isso tão especial é a maneira como essas peças estão expostas, pois podemos ver os detalhes no casaco tendo o Louvre como pano de fundo”, diz, quase aos prantos.

“Quiseram mostrar o lado artístico das roupas”, lança um brasileiro, que visitava a Louvre pela primeira vez. Com uma certa inocência, o turista levanta um dos pontos centrais desse projeto: "será que moda é arte?"

As fronteiras são cada vez mais difíceis de delimitar e muitos preferem decretar, sem medo do trocadilho, que esse é um debate meio démodé (fora de moda). Aliás, quando questionado sobre o assunto, Pierre Bergé, o companheiro de Saint Laurent, sempre dizia que moda não é arte, mas precisa de artistas para existir. Boa definição. É exatamente isso que os visitantes podem ver nos seis museus parisienses que homenageiam o mestre das passarelas: a expressão do trabalho de um artista.

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