Acessar o conteúdo principal
Linha Direta

Pauta Ambiental cai bem para Lula e Biden, mas governos precisam agir de verdade, insistem analistas

Publicado em:

A visita de John Kerry, assessor especial de Joe Biden, ao Brasil evidencia uma convergência dos dois países na pauta ligada ao meio ambiente. Analistas dizem que, para não deixar esvair oportunidade de avançar no tema, os Estados Unidos precisam garantir recurso robusto ao Fundo Amazônia e o Brasil tem de reduzir desmatamento

Foto de arquivo mostra floresta em chamas perto de área de desmatamento junto à rodovia Transamazônica, em Humaitá (AM), 17/09/22.
Foto de arquivo mostra floresta em chamas perto de área de desmatamento junto à rodovia Transamazônica, em Humaitá (AM), 17/09/22. AP - Edmar Barros
Publicidade

Raquel Miura, correspondente da RFI em Brasília

Hastear a bandeira ambiental é urgente para o planeta e interessante tanto para o Brasil de Marina Silva quanto para os Estados Unidos de John Kerry. A ministra do Meio Ambiente, o assessor especial do presidente Joe Biden e outras autoridades dos dois lados estiveram ontem reunidos por mais de duas horas em Brasília. Do Fundo Amazônia à transição de matriz energética, a pauta passou por temas caros para um mundo cheio de catástrofes, mas que não consegue cumprir metas ambientais fixadas em dezenas de acordos.

Para o Brasil, ou ao menos uma parte dele que sonha com um selo verde elevando o preço de seus produtos lá fora, é a chance de recuperar o protagonismo mundial num assunto que conhece. Para os Estados Unidos, dar voz a tal agenda é marcar pontos como superpotência mundial num momento de tensão com os rivais chineses. Tudo lindo, é preciso agora fazer a roda girar de verdade até para o Brasil ampliar frutos dessa parceria, disse à RFI Alexandre Uehara, coordenador do curso de Relações Internacionais da ESPM/SP.

“É um ponto de partida. Não posso dizer que já é uma sinalização clara e evidente de que haverá avanços em outras áreas a partir dessa aproximação. É um ponto de convergência sim, mas diria que as credenciais para que o Brasil possa avançar em outras aproximações depende até dos resultados que o próprio Brasil irá apresentar daqui para a frente. As chances são boas, ainda mais se compararmos com o governo anterior, que tinha dados muitos negativos quanto às políticas ambientais”, afirmou Uehara numa referência à gestão de Jair Bolsonaro.

Do lado americano o convencimento de que o discurso ambiental é para valer passa em enfiar a mão no bolso e anunciar uma ajuda financeira robusta. “A contribuição inicial de U$ 50 milhões apresentada pelos Estados Unidos por ocasião da visita de Lula a Biden foi decepcionante não só para o Brasil, mas para o mundo. Então se os Estados Unidos realmente querem demonstrar uma posição de maior compromisso com o tema ambiental o valor dessa contribuição para o Fundo Amazônia tem um significado especial”.

O vice-presidente Geraldo Alckmin, que também participou das reuniões com Kerry, disse que o representante de Biden não apresentou cifras, mas ficou de trabalhar o assunto com autoridades de seu país e também com o setor produtivo. “O enviado John Kerry não definiu valor, mas colocou que ele vai se empenhar junto ao governo, junto ao Congresso norte-americano, e junto à iniciativa privada para termos recursos vultosos não só no Fundo Amazônia, como também outras cooperações”.

Transparência

Analistas ouvidos pela RFI dizem que um avanço já se mostra no lado brasileiro com a transparência dos dados, em contraponto ao governo Bolsonaro, que irrigou o mundo com informações falsas numa tentativa de camuflar o desmatamento. A promessa da equipe de Lula é atualizar os dados em tempo real, como o que mostrou aumento de áreas devastadas no mês passado, com o Executivo já sob nova direção. Marina Silva atribuiu esse aumento à reação de grupos diante da nova postura do governo federal.

“Encontramos uma situação de terra arrasada. É uma espécie de revanche às ações que já estão sendo tomadas na ponta, e vamos continuar trabalhando. Os dados são transparentes, as pessoas têm acesso a eles em tempo real, exatamente para que a gente possa atuar de acordo com a gravidade do problema. Nesse momento, nós estamos identificando que tem uma ação criminosa, mesmo no período chuvoso, adiantando o desmatamento”, disse a ministra.

O desafio de antecipar eventos extremos

Nesta terça-feira os governos brasileiro e americano vão anunciar parcerias nas áreas ambiental e de comércio. André Luiz, diretor-presidente da ONG ECOA disse à RFI que a troca de informações e tecnologia hoje é crucial para prevenir ou ao menos mitigar tragédias.

“É fundamental esses temos de cooperação, estratégias e principalmente a troca de experiências, monitoramento territorial para as ações preventivas de mitigação de efeitos climáticos extremos, porque isso sim é o que mais vai se intensificar nos próximos anos. Tem se intensificado já e vai continuar acontecendo. Portanto são importantíssimos esses temos de cooperação, essas trocas”, explicou Luiz.

Ele avalia que a coincidência de democratas no poder nos Estados Unidos e o fim do governo Bolsonaro no Brasil dão certa esperança de que o tema ambiental será mesmo prioridade.

“O próprio acordo de Paris há uma dificuldade enorme de ser implementado e de se fechar números minimamente razoáveis a cada COP. E o Brasil sempre foi protagonista nisso, com exceção do último governo que provavelmente negligenciou e cancelou essa agenda, e nos fez perder alguns anos. Mas isso está de volta e por isso acho que é uma questão mais de oportunidade, de um país que é sempre aliado à temática das mudanças do clima com outro governo que também é, que são os democratas nos Estados Unidos”, avalia o representante da ECOA.

O vice-presidente brasileiro mencionou desastres atuais vividos por americanos e brasileiros para defender que as boas intenções se transformem em ações reais. “Não podemos deixar passar este momento para segurar o aumento da questão do clima. Os Estados Unidos tiveram esta semana tornados violentíssimos, tragédia verdadeira. Nós tivemos agora nesta última semana tragédia também no litoral, enchentes, chuvas torrenciais e, simultaneamente, seca no sul do Brasil, ao mesmo tempo. A mudança climática leva a esses extremos que colocam em risco a segurança, a questão social e a economia. E o Brasil tem compromisso de combater as mudanças climáticas”, destacou Alckmin.

NewsletterReceba a newsletter diária RFI: noticiários, reportagens, entrevistas, análises, perfis, emissões, programas.

Acompanhe todas as notícias internacionais baixando o aplicativo da RFI

Veja outros episódios
Página não encontrada

O conteúdo ao qual você tenta acessar não existe ou não está mais disponível.