Acessar o conteúdo principal
Linha Direta

Lua de mel com eleitor será curta e Lula logo precisará mostrar resultados, diz analista político

Publicado em:

O clima de otimismo, com a posse festiva de Lula e sem incidentes, vem acompanhado de pressão para que promessas de campanha sejam cumpridas em um país ainda dividido. A nova administração federal terá muito trabalho para manter em alta o clima político nas ruas e nos corredores de Brasília.

Ao lado da mulher, Janja, Lula chora durante a cerimônia de posse
Ao lado da mulher, Janja, Lula chora durante a cerimônia de posse © REUTERS/Adriano Machado
Publicidade

Raquel Miura, correspondente da RFI em Brasília

Leonardo Queiroz Leite, doutor em administração pública e governo pela FGV, disse à RFI que reprojetar o Brasil no cenário internacional parece ser o desafio menos complicado para Lula. O mais difícil será recuperar a economia, com rombo fiscal e uma extensa lista de promessas que devem sair do papel.

Apesar de todo clima de otimismo que a virada de ano significou na política, o relógio está contra Lula no início de seu novo governo. “A expectativa é a melhor possível. Mas Lula não terá a famosa lua de mel, não terá tanto tempo de tolerância da opinião pública. Só 50% do país votaram em Lula e muitos nunca foram petistas ou lulistas. São pessoas que eram contra Bolsonaro. Logo esse apoio pode ir se diluindo se vierem muitas medidas impopulares ou se demorar a dar algum resultado em áreas estratégicas”, disse Leite.

Para o analista político, o presidente tem um perfil conciliador e traquejo político para montar um governo de coalizão e terá de usar esses atributos. É normal, diz, que em um governo aberto e democrático, ocorra desgaste com a opinião pública. “É um desafio gigante e há enorme expectativa em reverter algumas agendas que ficaram para trás. Elas incluem o resgate de um tom mais social de políticas sociais, de inclusão, típico de governos de esquerda que o PT representa, dando uma resposta rápida e virando a página do governo Bolsonaro”.

Multidão vestida de vermelho reunida diante do Planalto para a posse de Lula.
Multidão vestida de vermelho reunida diante do Planalto para a posse de Lula. AP - Silvia Izquierdo

Posse "é um alívio"

O historiador Francisco Carlos Teixeira da Silva, da UFRJ, que também conversou com a RFI, disse que a posse de Lula representou um alívio frente a duas tensões principais: ameaças de extremistas de que ele não assumiria o poder e o término, via eleições e sem incidentes mais sérios, de um governo que flertou com o autorismo.

“Não temos na história exemplos tranquilos de transição de regimes extremistas para a democracia. Tanto em Portugal como na Espanha, como na Grécia, revoluções tiveram que fazer esse papel. Por isso a posse representa um alívio. Estamos assistindo no Brasil hoje ao final de um experimento que lembra as ditaduras passadas, mas com um agravante: a grande manipulação da opinião pública que aderiu largamente a esse fenômeno fascista/bolsonarista no Brasil”, disse Teixeira.

O número de autoridades internacionais presentes na posse de Lula ontem foi quatro vezes superior ao total de estrangeiros recebidos quando Bolsonaro assumiu o governo. O número de agentes federais que escoltaram o petista no percurso do carro aberto foi de 40 pessoas, ante as 10 que fizeram a guarda de seu antecessor em 2018, ilustrando a singularidade do momento político brasileiro.

“É o retorno do Brasil às relações civilizadas no mundo e o retorno fundamental de um presidente comprometido com os mais pobres, com os mais desvalidos da sociedade brasileira. Lula da Silva será o primeiro presidente da República no Brasil com três mandatos democráticos, equiparando-se a Getúlio Vargas pelo longo tempo na presidência, sendo que nem sempre a presidência de Getúlio Vargas foi democrática”, conclui Teixeira.

NewsletterReceba a newsletter diária RFI: noticiários, reportagens, entrevistas, análises, perfis, emissões, programas.

Acompanhe todas as notícias internacionais baixando o aplicativo da RFI

Veja outros episódios
Página não encontrada

O conteúdo ao qual você tenta acessar não existe ou não está mais disponível.