Acessar o conteúdo principal
Linha Direta

Posse de diplomatas sela reaproximação entre Venezuela e Colômbia

Publicado em:

Três anos após a ruptura das relações bilaterais, nesta segunda-feira (29) os representantes diplomáticos da Venezuela em Bogotá e o da Colômbia em Caracas entregaram as cartas de apresentação reestabelecendo assim as relações entre os dois países. O comércio bilateral e os milhões de venezuelanos que vivem na Colômbia estão no centro da reaproximação. 

O Presidente da Venezuela, Nicolás Maduro, e o embaixador da Colômbia na Venezuela, Armando Benedetti, após reunião no Palácio Miraflores, em Caracas, Venezuela, a 29 de Agosto de 2022.
O Presidente da Venezuela, Nicolás Maduro, e o embaixador da Colômbia na Venezuela, Armando Benedetti, após reunião no Palácio Miraflores, em Caracas, Venezuela, a 29 de Agosto de 2022. REUTERS - LEONARDO FERNANDEZ VILORIA
Publicidade

Por Elianah Jorge, correspondente da RFI Brasil em Caracas

O restabelecimento das relações entre Caracas e Bogotá acontece poucas semanas após a posse de Gustavo Petro, celebrada em sete de agosto. Em Caracas um sorridente Nicolás Maduro recebeu o embaixador Armando Benedetti e esposa no Palácio Presidencial de Miraflores, localizado no Centro da capital venezuelana. 

A conversa entre os dois durou cerca de 30 minutos e foi bastante amistosa. Prova disso foi o presente que Maduro recebeu de Benedetti: um típico chapéu colombiano.  Na reunião eles manifestaram a urgência em reestabelecer os laços de amizade, mas de maneira organizada para que seja promissora a reaproximação. 

O ex-senador Benedetti tomou posse em Caracas no mesmo dia em que fazia 54 anos de idade. Entre as prioridades do embaixador colombiano está a reabertura da Embaixada e dos consulados em Caracas, Maracaibo e em San Cristóbal, estes dois localizados em cidades próximas à fronteira com a Colômbia.

O representante da Venezuela em Bogotá, Félix Plasencia, também apresentou credencias nesta segunda-feira a um representante do governo colombiano porque o presidente Gustavo Petro está em viagem ao Peru. 

Enquanto recupera a sede da diplomacia venezuelana em Bogotá, antes ocupada por representantes do governo de fato de Juan Guaidó, o diplomata irá trabalhar em um hotel na capital colombiana. Com uma longa trajetória diplomática, antes de ser designado embaixador na Colômbia, entre agosto de 2021 e maio deste ano, Plasencia  foi ministro de Relações Exteriores da Venezuela. Para analistas, ele foi escolhido por ser um diplomata de carreira e ter ampla articulação, sobretudo em situações complexas.    

Reativação da economia

Entre os principais pontos das relações está a retomada do comércio bilateral. Economistas estimam que os negócios entre os dois países geram milhões de dólares. No entanto, a balança pende a favor da Colômbia, já que o parque industrial venezuelano precisa de melhorias. 

Outro ponto importante é a atenção aos mais de dois milhões de venezuelanos que fugiram para a Colômbia durante a forte crise venezuelana, a grande maioria está ilegal e muitos, sem documentos. Com a ativação dos consulados venezuelanos na Colômbia essas pessoas poderão obter documentos de seu país de origem. 

A Ponte Internacional Simón Bolívar, principal via de entrada e saída entre ambos os países, que compartilham mais de dois mil quilômetros de fronteira, deve ser reaberta nas próximas semanas. 

Fim da cortina de ferro

Essa passagem está bloqueada por conteiners por ordem de Nicolás Maduro desde fevereiro de 2019. A ruptura diplomática começou quando o ex-presidente Iván Duque, em apoio ao governo de fato de Juan Guaidó, tentava usar essa via para passar da Colômbia ajuda humanitária para a Venezuela. 

A futura desobstrução da ponte, por onde circulavam veículos de grande porte de um país ao outro, irá reaquecer sobretudo o comércio das cidades fronteiriças de Cúcuta, no lado colombiano, e de San António, na Venezuela. 

 A tendência é que os países mantenham um bom relacionamento, sobretudo pelas características similares de seus governos.

Gustavo Petro já avisou que quer o apoio de Cuba e da Venezuela para negociar com a guerrilha do Exército para a Libertação Nacional. Um dos motivos pelo qual o presidente colombiano conta com Caracas nesta negociação é o fato do ELN também estar na Venezuela e manter uma discreta relação com o governo do país. 

Há registros de que integrantes desta guerrilha armada, criada na Colômbia em 1964, atuam no controle da entrega das caixas de comida subsidiada pelo governo de Maduro.

Não à deportação

A questão dos políticos venezuelanos dissidentes ou exilados na Colômbia pode ser um ponto delicado na relação Bogotá-Caracas. O tema foi exposto por Diosdado Cabello, homem forte do chavismo, dias atrás. No entanto, Gustavo Petro, que por anos atuou em uma das guerrilhas colombianas, negou que seu governo deporte dissidentes venezuelanos. 

De acordo com analistas, que os dois países devem tirar proveito da reaproximação. Petro, que planeja ser o representante da região latino-americana, tende a ganhar ao conseguir articular com um governo que é rejeitado e criticado por diversos países. Caso consiga articular Caracas junto com outros governos, o presidente colombiano ganha pontos no cenário internacional. 

Vale lembrar que há poucos dias Petro recebeu um representante do governo dos Estados Unidos que manifestou a vontade de trabalhar com o colombiano rumo a uma solução pacífica com a Venezuela. 

Quem sai ganhando?

O governo de Nicolás Maduro também ganha com a reaproximação com a Colômbia ao sair do ostracismo político internacional. 

Outro ponto que deve fortalecer Maduro é a reativação da economia bilateral. O aumento das negociações comerciais entre os países deve oxigenar a imagem do chefe de estado, que já está em campanha presidencial para as eleições de 2024. 

Sem contar com a articulação com a guerrilha do ELN, que alçaria o governo de Maduro a um patamar de negociador internacional em conflitos armados. 

Quanto ao encontro entre os presidentes, o embaixador Armando Benedetti anunciou que pretende articular para outubro deste ano o aperto de mãos entre Gustavo Petro e Nicolás Maduro.      

NewsletterReceba a newsletter diária RFI: noticiários, reportagens, entrevistas, análises, perfis, emissões, programas.

Acompanhe todas as notícias internacionais baixando o aplicativo da RFI

Veja outros episódios
Página não encontrada

O conteúdo ao qual você tenta acessar não existe ou não está mais disponível.