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Radar econômico

Retomada das vendas e solidariedade dos clientes marcam o Natal de Paris

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Recuperação e solidariedade. Uma retomada significativa nos volumes de negócios e clientes engajados em colaborar com os pequenos comerciantes locais parecem ditar o clima de festas de fim de ano em Paris. Mesmo com a reabertura dos chamados comércios não-essenciais há apenas um mês do Natal, inclusive aos domingos, boa parte do segmento varejista conseguiu recuperar seus resultados nesta reta final.

Solidariedade dos consumidores com os pequenos comerciantes de bairro garantiu o bom faturamento de Natal para Vincent Bieules, proprietário da loja para crianças Tippy.
Solidariedade dos consumidores com os pequenos comerciantes de bairro garantiu o bom faturamento de Natal para Vincent Bieules, proprietário da loja para crianças Tippy. © Andréia Gomes Durão
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Com porte de máscaras obrigatório e gel à disposição nas entradas, as lojas parisienses recebem novos e antigos clientes em busca dos últimos presentes. As medidas de segurança sanitária, que limitam o número de pessoas nos ambientes, tornam as filas de espera ainda maiores. Mas nada disso inibe os ânimos, seja de quem compra seja de quem vende.

Mesmo tendo mantido suas atividades pelo site durante o lockdown, uma loja de vídeo games, brinquedos, revistas de mangá e camisetas, logo viu sua clientela voltar às compras presenciais. O gerente, Baptiste Octavion-Paul, enfatiza a alegria do reencontro, só lamentando o incômodo das medidas de proteção.

“A única coisa chata é as pessoas terem que respeitar o limite de clientes que podem ficar dentro da loja. Aqui, por exemplo, são quinze pessoas, então sempre tem muita gente do lado de fora. Quando o clima está bom, é menos grave, mais quando está ruim, é um pouco mais complicado”, se preocupa Octavion-Paul.

Mesmo assistindo ao retorno de seus clientes fiéis, Yasmine Qassab não compartilha do mesmo entusiasmo e lamenta um volume de negócios muito mais tímido do que nos anos anteriores. À frente de uma das unidades da Nin et Laur, de moda feminina, ela chama a atenção para um detalhe que, em sua opinião, denuncia que se trata de um Natal diferente de todos os outros. “O que eu acho uma pena é que, do lado de fora, não há decoração de Natal, salvo uma árvore no final do corredor. Normalmente, há um tapete suspenso de luzes, mas não há mais decoração. As pessoas estão decepcionadas”, acredita a gerente.

Yasmine Qassab, gerente da Lin & Laur, em Bercy Village, em Paris, lamenta a falta de decoração neste Natal.
Yasmine Qassab, gerente da Lin & Laur, em Bercy Village, em Paris, lamenta a falta de decoração neste Natal. © Andréia Gomes Durão

Depois do Natal dos coletes amarelos

O fato é que mesmo os segmentos que mantiveram suas portas abertas sentiram falta dos seus vizinhos “não-essenciais”. É o que conta Krystel Bardelli, que atende seus clientes em uma tradicional loja de chás e que também viu o movimento diminuir pelo fechamento de diversas empresas e escritórios próximos, durante o lockdown, além da ausência de turistas. A vendedora, no entanto, celebra a retomada das vendas e lembra que este não é um primeiro Natal atípico em Paris.

“No ano passado, nós já estávamos afetados, pois havia todo o movimento de manifestações dos coletes amarelos, então a frequência já estava impactada sobre a clientela. Estamos em um contexto especial, não é como nos outros anos. Mas os clientes são compreensivos e estão presentes”, relata Bardelli.

A comerciante Krystel Bardelli lembra que no Natal passado o movimento também foi impactado, mas pelas manifestações dos coletes amarelos.
A comerciante Krystel Bardelli lembra que no Natal passado o movimento também foi impactado, mas pelas manifestações dos coletes amarelos. © Andréia Gomes Durão

Mesmo o grande movimento de público, principalmente nos fins de semana, não impediu que essa loja de uma marca feminina de luxo visse seu faturamento cair praticamente pela metade em relação a dezembro do ano passado. Não vendo a tão esperada reação, a gerente Awa Berton adia suas expectativas para 2021.

“Nós estamos em um contexto excepcional, estamos em um período de festas, quando os clientes tentam se agradar, então não é exatamente um momento em que se possa realmente avaliar. Acho que isso vai ser no retorno das festas, no mês de janeiro, quando as promoções vão começar e a gente vai poder ver se os clientes têm o mesmo poder de compra, a mesma vontade de se vestir bem. Mas nesse meio tempo, o movimento está pela metade”, lamenta Berton.

Manter vivo o pequeno comércio

Com mais sorte, Vincent Bieules, proprietário da Tippy, especializada em artigos para crianças, viu os clientes marcarem presença em peso desde o primeiro dia de reabertura, o que lhe garantiu seus melhores resultados em vendas de fim de ano. Mas o comerciante não acredita em milagre de Natal, ele atribui a boa performance ao engajamento das pessoas em apoiar o comércio local.

“O faturamento está muito melhor, porque a gente sente que há uma verdadeira vontade da parte dos clientes do bairro, de clientes assíduos ou mesmo novos clientes, de manter vivo o pequeno comércio, de dar trabalho aos comerciantes locais”, celebra o comerciante com loja no 12° distrito de Paris.

Bieules não é o único a compartilhar desta opinião e se soma a tantos outros comerciantes que viram na solidariedade do público a verdadeira estrela do Natal. As duas unidades da livraria Atout Livres viram as demandas online de cartão fidelidade se multiplicarem durante o lockdown e, desde a reabertura, tiveram suas lojas adoravelmente invadidas por novos e antigos clientes “impacientes”, como conta o diretor Quentin Schoëvaërt-Brossault. O resultado? A empresa registrou no último dia 20 a mesma cifra de € 500 mil só alcançada em 2019 após o Natal.

“Há uma tomada de consciência principalmente da população parisiense, mais politizada, que saiu da Amazon por conta própria, eles nos contam isso, e se direcionaram seja para sites como o nosso, de livrarias independentes, seja diretamente para as lojas físicas, desde que estão abertas. E acho que acontece o mesmo com lojas de vinho, outras livrarias e com o comércio de bairro, na verdade. É uma grande onda em Paris, que é expressiva, que é cultural, e que nos torna muito otimistas”, vibra o livreiro Schoëvaërt-Brossault.

Quentin Schoëvaërt-Brossault, diretor da Atout Livres, viu os clientes migrarem espontaneamente das gigantes digitais para os sites de livrarias independentes.
Quentin Schoëvaërt-Brossault, diretor da Atout Livres, viu os clientes migrarem espontaneamente das gigantes digitais para os sites de livrarias independentes. © Andréia Gomes Durão

Templos de consumo

Longe dos pequenos comércios e centros comerciais de bairro, os tradicionais e glamurosos templos de consumo parisienses recebem multidões, em meio à decorações luxuosas, máscaras e álcool gel. Em frente às vitrines animadas, longas filas se formam, à espera de ocupar a capacidade de 4.808 pessoas no prédio principal das Galerias Lafayette.

Uma consumidora explica o esforço justificando que, para a compra de produtos de marca, não há outro lugar como a galeria. Outro cliente, mais apreensivo, se pergunta se, com as aglomerações para ver a decoração, o distanciamento de segurança entre as pessoas estariam realmente sendo respeitadas.

Em um 2020 invariavelmente marcado pela pandemia da Covid-19, o comércio parisiense parece ter mais a celebrar neste fim de ano do que a chegada da vacina. Lojistas exaltam a solidariedade dos clientes como o antídoto mais eficaz para os momentos mais difíceis, em sua melhor concepção do espírito natalino.

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