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Radar econômico

Marcado por incertezas, 2020 é ano de freio nos gastos de Natal – menos para as crianças

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O ano de 2020, marcado por profundas incertezas causadas pela pandemia de coronavírus, vai culminar com festas de Natal mais enxutas. As restrições impostas pelas autoridades para a realização das festas e o orçamento apertado das famílias devem fazer os gastos caírem neste fim de ano atípico.

Famílias farão esforço de manter o orçamento para presentes das crianças neste Natal atípico. Na foto, uma loja em Paris.
Famílias farão esforço de manter o orçamento para presentes das crianças neste Natal atípico. Na foto, uma loja em Paris. AP - Christophe Ena
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A situação inédita de crise econômica associada a um alto risco sanitário faz com que os analistas mantenham a cautela antes de se lançar em projeções de vendas. Na França, a diretora do Observatório do Consumo, Nathalie Damery, nota que as compras de Natal começaram com força antes mesmo da Black Friday – o que indica que os consumidores querem garantir os preços mais baixos, um comportamento incomum quando se trata da maior festa familiar do ano.

"Temos 40% de franceses que declaram estar com dificuldades para fazer compras, tanto por problemas que já existem, quanto ligados ao risco de ficarem desempregados devido à agravação da crise econômica”, afirma. "São pessoas que estão tomando um cuidado extremo com o orçamento familiar. A procura por promoções está ainda mais forte neste ano do que nos anteriores."

Em toda a Europa, os governos recomendam ou obrigam que as celebrações contem com poucos participantes. Na França, a orientação é de que não mais do que seis adultos estejam à mesa, uma situação que desagrada “profundamente” a aposentada Béatrice Gilet, 62 anos. Num ano normal, ela costuma receber cerca de 20 pessoas para o Natal na sua casa.

"Não ter os meus três filhos e os filhos deles me incomoda, francamente”, revela a francesa. "Eu compreendo perfeitamente a decisão deles, de não virem. Mas não posso negar que me irrita bastante”, protesta.

Mulher faz compras em uma loja de Bayonne, no sul da França, durante as promoções da Black Friday.
Mulher faz compras em uma loja de Bayonne, no sul da França, durante as promoções da Black Friday. AP - Bob Edme

Presentes das crianças são a prioridade

Sem toda a família, o "evento do ano”, como define Béatrice, “não é a mesma coisa". A consultora Nathalie Damery aposta que apenas as crianças não devem notar diferença na quantidade de presentes sob o pinheiro.

"Ainda não temos dados oficiais, mas percebemos um desejo de não abalar a compra dos presentes para as crianças e manter o mesmo valor gasto habitualmente e, para compensar, limitar o valor gasto em presentes para os adultos e na ceia”, frisa a especialista. "De qualquer forma, o gasto com a ceia deve cair para a maioria das pessoas, já que a restrição de até seis adultos à mesa impõe um jantar menos festivo do que nos outros anos."

No caso da britânica Ruth Simpson, residente em Paris, a ceia não só será mais íntima como as despesas de viagens no fim do ano serão evitadas. Ela e o marido espanhol costuma visitar a família na Inglaterra ou na Espanha nesta época.

"Ficaremos em casa, só nós três. Mas queremos que seja especial mesmo assim, afinal é o primeiro Natal da nossa filha”, indica a consultora de vendas. "Vamos decorar a casa, fazer uma boa ceia. Queremos que seja memorável."

Estrangeiros residentes em Paris, Ruth Simpson e o marido costumam viajar nas festas de Ano. Desta vez, celebrarão o Natal em casa, apenas com a filha bebê.
Estrangeiros residentes em Paris, Ruth Simpson e o marido costumam viajar nas festas de Ano. Desta vez, celebrarão o Natal em casa, apenas com a filha bebê. © Fotomontagem com arquivo Pessoal

A celebração em petit comité desanima Ruth a comprar presentes para o resto da família, admite. "Talvez para as crianças sim, mas não para os adultos. Acho que vou enviar flores para a minha mãe, que ficará sozinha”, avalia. "Acabaremos economizando bastante este ano, o que nos convém, porque gostaríamos de trocar de apartamento em breve”, indica.

Compensar um ano difícil com um Natal quase normal

Já a aposentada Béatrice Gilet não abre mão de fazer um Natal o mais próximo possível do “normal”, apesar do contexto da pandemia. Para consumidores como ela, a data servirá de reconforto depois de um ano particularmente difícil.

"Certamente, as despesas alimentares serão menores. Mas teremos o prato de frutos do mar, salmão defumado, foie gras, como sempre. Afinal, é Natal!”, destaca Béatrice. "Faremos um jantar festivo e todos ganharão seus presentes, até os que não vierem. É uma satisfação pessoal, para mim, oferecer os presentes de Natal.”

Por falar em presentes, a pandemia e a generalização do home office impactam nas escolhas feitas pelos pais neste ano, observa a especialista em consumo Nathalie Damery.

"As indicações que temos sobre os presentes para as crianças mostram uma tendência por menos telas e brinquedos eletrônicos e mais livros, jogos físicos e de grupo. Ou seja, comprar coisas que ocupem as crianças além das telas, já que elas têm ficado bem mais tempo em casa”,  aponta a consultora.

Além disso, a pandemia consolida as compras pela internet também para os presentes de Natal. Sem a certeza de que as lojas permanecerão abertas e com medo do risco sanitário representado pelas filas na frente das lojas físicas, cada vez mais consumidores optam pelas compras à distância.

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