Risco de desestabilização da Armênia pode não parar com tomada de Nagorno-Karabakh
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O drama vivido pelos mais de 100 mil armênios que deixaram o enclave separatista de Nagorno-Karabakh depois de o Exército do Azerbaijão tomar a região, no final de setembro, gera longas reportagens na imprensa semanal francesa.
"Uma operação de limpeza étnica acontece diante dos nossos olhos", escreve a revista Le Point, alertando que o conflito entre as duas ex-repúblicas soviéticas pode se estender para o sul da Armênia, "se os países ocidentais continuarem a se comportar de forma cínica, indiferente e covarde", critica a publicação.
Para os habitantes que deixaram Nagorno-Karabakh, esta região faz parte da Grande Armênia, um teórico conjunto de áreas historicamente povoadas pelo grupo étnico armênio cristão ortodoxo. Já o Azerbaijão é um território de maioria muçulmana. Para os sucessivos dirigentes de Baku, a região montanhosa de Nagorno-Karabakh mais a extensa faixa adjacente do sul da Armênia provocam uma descontinuidade territorial indesejada.
"A Armênia revive sempre a mesma história, sob uma indiferença quase completa. Uma tragédia que vem se repetindo ao longo de séculos: a de um povo expulso de suas terras, massacrado, vítima de genocídio, mas que sempre ressurge das cinzas ou de seus cadáveres, como a fênix da antiguidade greco-romana", aponta a Le Point.
Para a revista, só quem visita este pequeno país de menos de 3 milhões de cristãos, espremido entre a Turquia ("eterna inimiga"), o Azerbaijão ("vizinho expansionista"), a Geórgia e o Irã ("seu único amigo"), pode compreender a capacidade de resiliência desse povo, assim como seu sofrimento ao longo da história.
Até agora, a Rússia vinha sendo "a mãe protetora dos armênios", recorda a reportagem. "E ainda bem, já que durante a Segunda Guerra Mundial, quando fazia parte do bloco soviético, a Armênia deu a Moscou grandes generais e pagou caro por isso", destaca a Le Point. Mas esta página foi virada.
Envolvido com a guerra na Ucrânia, o presidente russo, Vladimir Putin, tornou-se "um servo" do turco Recep Tayyp Erdogan – herdeiro moral do genocídio armênio de 1915 – e do líder autoritário azerbaijano, explica a Le Point. O homem forte de Baku, Ilham Aliev, ajudou Putin a contornar as sanções ocidentais e a continuar vendendo gás produzido na Rússia à Europa, como se fosse gás extraído no Azerbaijão. "Aliev é o corruptor-chefe do país", diz a Le Point, "nascido em uma família em que se vira déspota de pai para filho".
A revista francesa mostra que desde a Conferência da Paz de Paris em 1919, o Azerbaijão, que havia se tornado independente um ano antes, escancarava suas ambições expansionistas de possuir extensas faixas de terra nessa região do Cáucaso habitadas por armênios. Nagorno-Karabakh era um desses objetivos. Mapas da época mostram que Baku tinha a intenção de reduzir o território armênio a uma área de 10 mil km² ao redor da capital Yerevan. Os planos aparentemente não mudaram, teme a Le Point.
"Sozinhos"
O colunista Pierre Haski, da revista L'Obs, questiona indignado: "O que a comunidade internacional está fazendo ante a tragédia dos armênios? Nada, porque esta não existe mais tal qual foi concebida no pós-guerra, com a ONU no centro de negociações.
"Os armênios de Nagorno-Karabakh se viram sozinhos contra o poderoso Exército azerbaijano; e nada nem ninguém foi capaz de impedir sua derrota e exílio definitivo", lamenta o jornalista. Haski defende uma reforma urgente do Conselho de Segurança das Nações Unidas.
Para a L'Express, a paralisia dos europeus, que só se preocupam com seus interesses, coloca a vida de milhares de armênios em perigo. Contra a inação, a revista propõe uma medida rápida. "Se parar de importar gás do Azerbaijão pode ser complicado, por que não começar congelando os bilhões de dólares da família do líder azerbaijano depositados no exterior, como revelou a investigação Panamá Papers?", sugere a L'Express. Essa decisão não depende de votos.
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