Em entrevista, Macron fala de protestos, previdência e critica posição de 'países do Sul' sobre guerra na Ucrânia
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A revista Le Point desta semana traz uma entrevista exclusiva com o presidente francês Emmanuel Macron. Com a manchete “A grande explicação”, o semanário francês conversou com o presidente e publicou, ao longo de 17 páginas, uma reportagem especial com a resposta dele para as duras críticas que vem recebendo nestes 100 primeiros dias de seu segundo mandato, iniciado em maio do ano passado.
Entre outros temas, o presidente francês falou sobre geopolítica, economia e assuntos polêmicos como a guerra na Ucrânia, imigração, protestos violentos e, é claro, a reforma de previdência, que vem causando, até hoje, um dos maiores desgastes do seu governo. Ele também defendeu a política como instituição democrática e reclamou do imediatismo cobrado nas decisões.
“É errado dizer que a política não pode mais nada. Nesse mundo líquido das redes sociais, as respostas são imediatas, mas a ação política demora, muitas vezes, meses e anos para dar frutos. (...) Nós criamos 2 milhões de empregos desde 2017 e reabrimos mais de 300 fábricas em um país que caminhava, durante décadas, para a desindustrialização, e que não havia conseguido resolver o problema do desemprego em massa. É preciso constância e saber resistir às facilidades momentâneas”, afirmou.
Redes sociais “aboliram o respeito e a civilidade"
Macron disse ainda que as redes sociais “aboliram o respeito e a civilidade, especialmente devido ao anonimato, e minam a autoridade dos discursos ao criar um espaço em que tudo o que é dito, é válido.”
Sobre os protestos violentos que tomaram várias cidades francesas após a morte do jovem Nahel, assassinado por um policial no mês de junho, o presidente considera que seu governo foi implacável. Ele assume que a sociedade respondeu de forma intensa, com um sentimento de vingança contra a polícia e demais forças de ordem, e contra o próprio Estado. Ainda assim, ele acredita que o governo foi enérgico.
“Em 500 cidades, tivemos cerca de 10 mil pessoas que promoviam a desordem e fizemos mais de 4 mil detenções. Houve 1.200 defesas, das quais mais de 1000 comparecimentos imediatos. A resposta de curto prazo foi dada e o Estado não foi fraco. E foi por isso que as manifestações não se estenderam por mais dias”, disse.
Nova lei da imigração
Perguntado se a França está hoje inundada por imigrantes, o presidente respondeu que não. Entretanto, ainda assim é preciso, segundo ele, diminuir as imigrações ilegais e, em paralelo, agir pela integração dos que vivem aqui. Ele destacou ainda a nova lei de imigração, que deve ser votada em breve, e que ele espera aprovar após entrar em consenso com a oposição.
Sobre a guerra na Ucrânia, Macron destacou à Le Point a importância de se defender o direito internacional, as fronteiras e a soberania dos povos. E disse que está disposto a falar novamente com Vladimir Putin se for preciso. O presidente francês aproveitou para alfinetar o Brasil, sem citar o país diretamente. Ele criticou importantes países do Sul que preferem se manter à distância das discussões sobre o conflito.
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