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Com explosões no Irã, Israel visa mostrar que é “capaz de dissuadir com recursos limitados”

O ataque limitado ao Irã nesta sexta-feira (19), atribuído por autoridades americanas a Israel, deixou novamente a comunidade internacional em alerta, temendo que décadas de tensões entre os dois países se transformem em um confronto direto, tendo como pano de fundo a guerra entre o Exército israelense e o movimento islamista palestino Hamas, apoiado por Teerã, na Faixa de Gaza.

Soldados montam guarda em uma instalação nuclear na área de Zardanjan, em Isfahan, Irã, em 19 de abril de 2024
Soldados montam guarda em uma instalação nuclear na área de Zardanjan, em Isfahan, Irã, em 19 de abril de 2024 © Wana via Reuters
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Tel Aviv prometeu fazer com que o Irã pagasse o preço por seu ataque sem precedentes ao território israelense em 13 de abril, em retaliação a um ataque mortal que Teerã atribuiu a seu inimigo em 1º de abril contra seu consulado em Damasco. 

A retaliação desta sexta-feira não foi, portanto, inesperada, mas Israel havia dado a entender que ela viria depois do Pessach, a Páscoa judaica, na próxima semana. Então, "é uma surpresa, sim, mas, ao mesmo tempo, estávamos esperando outra coisa, algo mais substancial, mais importante. Mas ainda acho que os aliados de Israel, em primeiro lugar os Estados Unidos, estão exercendo pressão absoluta sobre o governo de Netanyahu para garantir que as coisas permaneçam controláveis, que não ultrapassem um determinado ponto, e que esse também é, de fato, o desejo dos países europeus que apoiam Israel”, avalia Mohammad-Reza Djalili, cientista político e professor emérito do Instituto de Pós-Graduação em Estudos Internacionais e de Desenvolvimento em Genebra, em entrevista à RFI

“A reação de Israel é de mostrar que também são capazes de dissuadi-los sem usar 300 objetos voadores, mas com meios limitados, atacando um alvo específico nessa base militar, nessa base aérea e estratégica para o Irã”, explicou. 

Mohammad-Reza Djalili, que também é autor de vários estudos sobre o Irã, destaca que ainda será preciso “esperar um pouco para obter informações mais precisas”. O Irã minimizou o impacto das explosões de sexta-feira sem acusar diretamente Israel, que não reivindicou a responsabilidade e cujos líderes mantiveram um perfil discreto durante todo o dia. 

Tanto na Faixa de Gaza quanto em Jerusalém, moradores assistem à escalada das hostilidades entre Irã e Israel. Em Gaza, os palestinos estão sendo bombardeados incessantemente pelo exército israelense. Em Jerusalém, os preparativos estão em andamento para a Páscoa judaica, que começa na noite de segunda-feira. 

Em Jerusalém, Ditza Kornfeld, uma israelense de 63 anos, disse à agência AFP que "se acostumou com essas situações anormais". 

Repercussões do veto dos EUA à proposta palestina de adesão plena à ONU

O Irã descreveu como "irresponsável" e "não construtivo" o voto dos EUA que bloqueou a proposta palestina de adesão plena à ONU. Doze países votaram na quinta-feira (18) no Conselho de Segurança da ONU a favor de um projeto de resolução que recomendava a adesão plena da Palestina à ONU. Os EUA, principais aliados de Israel, vetaram o pedido, enquanto a Grã-Bretanha e a Suíça se abstiveram. 

A votação de Washington "revelou a natureza fraudulenta da política externa dos EUA e sua posição isolada", disse o porta-voz do Ministério das Relações Exteriores do Irã, Nasser Kanani, descrevendo-a como "irresponsável" e "não construtiva". Vários países do Golfo também lamentaram o resultado da votação.

Em um comunicado, o Ministério das Relações Exteriores dos Emirados expressou seu "pesar", dizendo que "conceder à Palestina a condição de membro pleno da ONU" teria sido "um passo importante para fortalecer os esforços de paz na região". 

O Kuwait disse que a votação "dificulta os esforços internacionais para encontrar uma solução para a crise na região e para pôr fim aos ataques contínuos contra o povo palestino irmão pelas potências ocupantes". Enquanto o Catar, frequentemente mediador do conflito em Gaza, classificou o fato como um "dia triste", Omã lamentou uma votação que "prejudica os esforços (...) para disseminar a justiça e a paz no mundo".

A Arábia Saudita, por sua vez, considerou que a votação ajudou a "perpetuar a intransigência da ocupação israelense e suas contínuas violações do direito internacional".

A República Islâmica do Irã, que não reconhece Israel, fez do apoio à causa palestina uma pedra angular de sua política externa desde a Revolução Islâmica de 1979. Em especial, Teerã apoia o movimento islâmico palestino Hamas.

A votação de quinta-feira na ONU tem como pano de fundo a guerra na Faixa de Gaza, desencadeada pelo ataque do Hamas a Israel em 7 de outubro, que resultou na morte de 1.170 pessoas, a maioria civis, de acordo com um relatório da AFP baseado em dados oficiais israelenses.

A ofensiva de retaliação de Israel contra o Hamas já matou mais de 34 mil pessoas na Faixa de Gaza, a maioria delas mulheres e crianças, de acordo com o Ministério da Saúde do território administrado pelo Hamas.

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