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Bombardeios israelenses deixam dezenas de mortos na véspera do ramadã em Gaza

O Exército israelense voltou a bombardear a Faixa de Gaza neste domingo (10), deixando dezenas de mortos às vésperas do início do período sagrado para os muçulmanos, o ramadã. A mobilização internacional para enviar ajuda humanitária à população palestina permanece, mas um primeiro navio carregado com ajuda humanitária ainda não deixou Chipre em direção ao enclave.

Ajuda humanitária chega de paraquedas no norte de Gaza, neste domingo (10/03/2024).
Ajuda humanitária chega de paraquedas no norte de Gaza, neste domingo (10/03/2024). AP - Ariel Schalit
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Este será o primeiro corredor marítimo humanitário, anunciado pela União Europeia, para o território palestino assolado pela fome, após mais de cinco meses de guerra entre Israel e o grupo islâmico Hamas.

O ramadã, o mês de orações e jejum dos muçulmanos, começa nesta segunda (11) ou terça-feira (12), mas nada parece indicar que será alcançado um acordo de trégua para o conflito. Até agora, a guerra deixou 31.045 mortos em Gaza, a maioria civis, segundo um novo balanço publicado pelo Hamas.

De acordo com autoridades do grupo islâmico, no poder em Gaza desde 2007, pelo menos 85 palestinos morreram nas últimas 24 horas em mais de 60 bombardeios noturnos no centro e sul deste território, sobretudo em Khan Yunis. Pelo menos 13 pessoas foram mortas por uma bomba que caiu sobre tendas de deslocados em Al Mawasi, entre Khan Yunis e Rafah, disse o Ministério da Saúde do Hamas.

O Exército israelense relatou cerca de 30 combatentes palestinos mortos nas últimas horas no centro de Gaza e em Khan Yunis.

Ramadã tenso em Jerusalém

Em preparação ao ramadã, milhares de policiais israelenses foram enviados à Cidade Velha de Jerusalém neste domingo, em antecipação a um influxo de fiéis muçulmanos. Espera-se que milhares de palestinos rezem todos os dias na praça da mesquita, um local sagrado muçulmano também considerado sagrado pelos judeus que o chamam de Monte do Templo.

Palestinos rezam na parte de fora da Cidade Velha de Jerusalém, depois de terem a entrada impedida no complexo da mesquita Al-Aqsa, reverenciada pelos muçulmanos, especialmente no período do ramadã. (08/03/2024)
Palestinos rezam na parte de fora da Cidade Velha de Jerusalém, depois de terem a entrada impedida no complexo da mesquita Al-Aqsa, reverenciada pelos muçulmanos, especialmente no período do ramadã. (08/03/2024) AP - Mahmoud Illean
O primeiro-ministro israelense, Benjamin Netanyahu, prometeu que o número de fiéis permitidos será semelhante ao do ano passado, apesar dos apelos de seus aliados de extrema direita para limitar drasticamente o acesso. Ao contrário dos anos anteriores, as decorações que normalmente adornam a Cidade Velha de Jerusalém não estarão em vigor este ano "por respeito ao sangue dos nossos filhos, dos nossos idosos e dos nossos mártires", disse Ammar Sider, um funcionário palestino.

A polícia israelense disse estar trabalhando para garantir a condução pacífica das orações do ramadã e prendeu 20 pessoas por incitação ao terrorismo.

Navio americano

Os militares dos Estados Unidos enviaram um navio para entregar ajuda humanitária a Gaza, disse o Comando Central dos EUA (Centcom), depois de o presidente Joe Biden anunciar a construção de um porto temporário na costa mediterrânea do enclave palestino. O navio deixou a sua base “menos de 36 horas após o presidente Biden ter anunciado que os Estados Unidos forneceriam ajuda humanitária a Gaza por mar”, destacou o Centcom num comunicado.

O barco “transporta os primeiros equipamentos necessários à construção de um porto temporário para levar equipamento humanitário essencial”, acrescentou. A construção pode levar cerca de 60 dias, segundo o Pentágono.

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O anúncio de Joe Biden na quinta-feira, durante o seu discurso sobre o Estado da União, ocorre num momento em que as Nações Unidas alertam que a fome ameaça os 2,3 milhões de habitantes de Gaza, a maioria dos quais foram deslocados pelos combates, enquanto os bombardeios israelenses devastaram o enclave e a sua infra-estrutura.

O exército americano anunciou o lançamento aéreo de mais de 11.500 refeições no domingo em Gaza, em colaboração com a Jordânia. No total, de acordo com dados do Pentágono, os Estados Unidos despejaram cerca de 135 mil refeições no território este mês.

Ajuda pelo mar demora a chegar

Segundo o Ministério da Saúde do Hamas, 25 pessoas, a maioria crianças, morreram de desnutrição e desidratação neste fim de semana. "Eu alimento minha filha com água, água, para que ela não morra. Não tenho escolha", conta a mãe Barak Abhar, com seu bebê chorando em seus braços, na cidade de Gaza.

Israel permite que uma escassa ajuda humanitária entre no território procedente do Egito, que está com a fronteira fechada. Diversos países ocidentais e árabes têm lançado pacotes aéreos com alimentos e suprimentos médicos.

Navio ancorado no Chipre deve partir ainda neste domingo em direção a Gaza, levando ajuda humanitária para os palestinos. (10/03/2024)
Navio ancorado no Chipre deve partir ainda neste domingo em direção a Gaza, levando ajuda humanitária para os palestinos. (10/03/2024) AP - Petros Karadjias
Na sexta-feira, União Europeia e Estados Unidos, principal aliado de Israel, anunciaram que estão preparando um corredor marítimo que permitirá o transporte de ajuda à Gaza saindo de Chipre, localizado a cerca de 370 quilômetros. A presidente da Comissão Europeia, Ursula von der Leyen, anunciou no mesmo dia que uma primeira embarcação com 200 toneladas de comida seria levada por duas ONGs a partir do porto de Lárnaca neste domingo.

As autoridades israelenses, que autorizaram a operação, estão inspecionando a carga, disse no sábado (9) Laura Lanuza, porta-voz da ONG espanhola Open Arms, que trabalha neste projeto em conjunto com a ONG americana World Central Kitchen (WCK), fundada pelo chef espanhol José Andrés.

A WCK, por sua vez, "já tem pessoas em Gaza" e está "construindo um cais" para poder descarregar a ajuda no território bombardeado, salientou.

A ONU, que alertou que a fome generalizada é "quase inevitável" no território, insiste que as entregas de ajuda por via aérea ou marítima não podem substituir as entregas terrestres. Esta ajuda passa por Rafah, na fronteira com o Egito.

Protestos

Netanyahu está sob forte pressão em seu país, onde uma parte da opinião pública exige um acordo de trégua para libertar os reféns. Milhares de pessoas se manifestaram no sábado na cidade israelense de Tel Aviv para exigir a saída do governo e o retorno dos reféns. "Eleições! Já! Agora!" e "Que vergonha para o governo!", gritava a multidão.

No sábado, milhares de pessoas se manifestaram em Londres e na França para exigir um cessar-fogo em Gaza. Na capital britânica, os manifestantes, convocados pelo grupo "Campanha de Solidariedade com a Palestina", partiram da praça central do Hyde Park Corner.

Na cidade árabe-israelense de Umm al-Fahm, manifestantes pedem o fim da guerra em Gaza. (09/03/2024)
Na cidade árabe-israelense de Umm al-Fahm, manifestantes pedem o fim da guerra em Gaza. (09/03/2024) © RFI - Murielle Paradon
"Continuaremos protestando até que um cessar-fogo seja estabelecido e até que o Reino Unido ponha fim à cumplicidade com a opressão exercida por Israel ao longo de décadas sobre o povo palestino", declarou o organizador da marcha, Ben Jamal, antes do protesto.

Já em Paris, a manifestação reuniu 11,5 mil manifestantes, segundo a polícia, mas uma organizadora disse que a participação chegou a 60 mil pessoas.

Respondendo à convocação do coletivo Emergência Palestina, apoiado pelo partido França Insubmissa (LFI, extrema esquerda), os manifestantes levantaram cartazes “SOS Gaza" e bandeiras palestinas. Também gritaram "fim ao genocídio", "Israel, apartheid, boicote”, além de "Palestina Livre".

O presidente da LFI, Jean-Luc Mélenchon, a líder do partido nas eleições europeias, Manon Aubry, e a militante franco-palestina Rima Hassan estavam presentes no protesto.

Com informações da AFP

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