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Israel quer que ONU reconheça ‘natureza sistemática’ de crimes sexuais cometidos pelo Hamas em 7 de outubro

Quase cinco meses depois do ataque mortal do Hamas a Israel, a ONU conclui que há “boas razões para acreditar que as vítimas do 7 de outubro foram estupradas, assim como algumas reféns detidas em Gaza”. No entanto, a representante especial da ONU para Violência sexual durante conflitos, Pramila Patten, disse que não pode estimar o número de violências cometidas. A afirmação deu origem a um conflito com o representante de Israel na ONU, que denunciou um relatório que chegou "tarde demais". Em Israel, o relatório foi elogiado por feministas, enquanto o Hamas “rejeitou” as conclusões e afirmou que as acusações são “falsas” e “infundadas”.

Familiares de israelenses mortos no ataque de 7 de outubro se recolhem no local do festival Nova, transformado em memorial em Reim, no sul de Israel, em 21 de janeiro de 2024.
Familiares de israelenses mortos no ataque de 7 de outubro se recolhem no local do festival Nova, transformado em memorial em Reim, no sul de Israel, em 21 de janeiro de 2024. REUTERS - TYRONE SIU
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Com os correspondentes da RFI em Nova York, Carrie Nooten, e em Jerusalém, Sami Boukhelifa

As relações entre a ONU e Israel se tornaram ainda mais tensas segunda-feira (4) após quase cinco meses do conflito em Gaza. Israel acusou, nas redes sociais e diante dos 193 países membros, a Agência das Nações Unidas para os Refugiados Palestinos de abrigar “centenas de terroristas”.

Logo depois, Israel também chamou de volta o seu embaixador na ONU, para protestar contra o "silêncio" da organização em relação à violência cometida contra as israelenses durante os ataques de 7 de outubro, pouco depois de a ONU publicar um relatório produzido por sua enviada especial, Pramila Patten, sobre violência sexual em conflitos. Ela considerou “verossímeis” as acusações de estupro e violência sexual contra as mulheres israelenses.

No início de fevereiro, Pramila Patten e sua equipe técnica de nove pessoas viajaram para Israel à Cisjordânia, durante duas semanas e meia. Lá encontraram testemunhas e vítimas dos ataques, e reféns que foram libertadas – mas nenhuma vítima direta de violência sexual desejou encontrar a equipe.

Os especialistas visualizaram 5.000 fotos e 50 horas de filmagens dos ataques e, mesmo sem ter a possibilidade de verificar o número de vítimas, a enviada especial da ONU estimou que havia boas razões para acreditar que foram cometidos estupros durante o ataque do Hamas, que os reféns sofreram diversas formas de violência sexual e que esse tratamento certamente ainda ocorre. Mas o relatório não estabelece a natureza sistemática dos crimes, como afirma Israel.

O documento era muito esperado, porque há mais de quatro meses que Israel critica a ONU por não denunciar “suficientemente” a violência sexual cometida contra as mulheres israelenses, mesmo que o secretário-geral deplore os atos em seus discursos.

Surpreendentemente, o chefe da diplomacia israelense chamou de volta seu embaixador para protestar contra as tentativas das Nações Unidas de “silenciar” este relatório – o que foi imediatamente negado pelo porta-voz de António Guterres.

Um relatório ansiosamente aguardado em Israel

“Isso marca uma viragem", disse Ruth Halperin Kaddari, diretora do Centro Rackman para os Direitos da Mulher em Israel. "Há um claro reconhecimento da violência sexual e de gênero durante o ataque e massacre cometido pelo Hamas em 7 de outubro. Graças a este relatório, ninguém poderá negar que ocorreram crimes sexuais”, afirma.

A jurista internacional israelense está mobilizada desde 7 de outubro, lutando em diversas frentes. Ela visitou várias vezes a sede da ONU em Genebra com o objetivo de fazer com que os crimes sejam reconhecidos pelas autoridades internacionais e, acima de tudo, condenar o Hamas.

“Espero que este relatório permita classificar o Hamas numa lista negra destas organizações que cometeram, toleraram ou permitiram violência sexual. Espero que isto conduza a sanções e que o Hamas seja considerado por todos como um grupo terrorista”, disse.

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