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Após dois meses de guerra na Faixa de Gaza, Conselho de Segurança da ONU vai apelar por cessar-fogo

O conflito na Faixa de Gaza completou dois meses nesta quinta-feira (7) e intensos combates ocorrem dentro e ao redor das maiores cidades do enclave, nesta sexta-feira (8). Segundo o Ministério da Saúde do Hamas, cerca de 40 pessoas morreram nesta manhã em ataques perto da cidade de Gaza e outras “dezenas" em Jabalia, no norte e em Khan Yunis, no sul, que se tornou o epicentro da guerra.

Homens retiram corpo de escombros de um prédio de Khan Yunis, no sul de Gaza, após ataque israelense.
Homens retiram corpo de escombros de um prédio de Khan Yunis, no sul de Gaza, após ataque israelense. © AP - Mohammed Dahman
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Após o início da ofensiva terrestre contra o Hamas em 27 de outubro, concentrada no norte de Gaza, o Exército estendeu nesta semana suas operações no sul do enclave, onde quase dois milhões de civis estão encurralados, já que oficialmente a passagem para Rafah continua fechada.

Os soldados israelenses, apoiados por ataques aéreos, entraram em confronto com combatentes do Hamas na quinta-feira em Khan Yunis, na Cidade de Gaza e na área vizinha de Jabalia.

Milhares de pessoas tentam fugir dos combates de Khan Yunis por Rafah, na fronteira egípcia, o único lugar onde a ajuda humanitária continua sendo distribuída, em quantidades limitadas.

No total, o número de mortos em Gaza subiu nesta quinta-feira para 17.177, sendo 70% deles mulheres e crianças com menos de 18 anos, mortas por bombardeios israelenses, de acordo com o Ministério da Saúde do Hamas.

Na noite de quinta-feira, canais de televisão israelenses exibiram vídeos que mostram dezenas de palestinos sem roupa e olhos vendados, gerando polêmica nas redes sociais. O exército de Israel se justificou dizendo que está averiguando o envolvimento dos detidos com o Hamas, considerado como uma organização terrorista por Israel, União Europeia e Estados Unidos.

Durante um telefonema com o primeiro-ministro israelense, Benjamin Netanyahu, o presidente dos EUA, Joe Biden, "enfatizou a necessidade absoluta de proteger os civis e separar a população civil do Hamas", segundo a Casa Branca.

Os Estados Unidos têm apoiado Israel desde o ataque de 7 de outubro do Hamas. As autoridades israelenses dizem que 1.200 pessoas foram mortas na operação.

No total, 91 soldados israelenses morreram nos combates em Gaza, incluindo, nesta quinta-feira, o filho de Gadi Eisenkot, ex-chefe do Estado-Maior do Exército e membro do gabinete de guerra de Benjamin Netanyahu, segundo o exército israelense.

Foguete cai sobre a Faixa de Gaza, nesta quinta-feira.
Foguete cai sobre a Faixa de Gaza, nesta quinta-feira. REUTERS - ATHIT PERAWONGMETHA

Hospitais parados

Segundo o diretor-geral da Organização Mundial da Saúde (OMS), Tedros Adhanom Ghebreyesus, a maioria dos hospitais no norte da Faixa de Gaza deixou de funcionar normalmente. No sul, os estabelecimentos estão sobrecarregados pelo fluxo de milhares de feridos e estão à beira do colapso.

Israel impôs um cerco total à Faixa de Gaza desde 9 de outubro, o que está causando uma grave escassez de água, alimentos, remédios e eletricidade, A ajuda humanitária, que depende da autorização do exército israelense, chega aos poucos do Egito.

Também falta combustível, necessário para acionar geradores em hospitais e dessalinizar a água. Apesar da situação caótica, o governo israelense autorizou nesta semana apenas a entrega de um "suplemento mínimo" de combustível para evitar um "colapso humanitário" e epidemias, dois dias após um pedido dos Estados Unidos.

Segundo a ONU, 1,9 milhão de pessoas, ou cerca de 85% da população, foram deslocadas pela guerra na Faixa de Gaza, onde mais da metade das casas foram destruídas ou danificadas.

Conselho de Segurança pede cessar-fogo

Diante da situação catastrófica na Faixa de Gaza, o Conselho de Segurança da ONU deve votar na sexta-feira um pedido de "cessar-fogo humanitário imediato.”

Em uma carta enviada aos membros do Conselho na quarta-feira, o secretário-geral da ONU António Guterres cita o artigo 99 da Carta das Nações Unidas, que permite ao secretário-geral "alertar o Conselho" para um caso que "poderia colocar em risco a manutenção da paz e da segurança internacionais", o que não ocorre em décadas.

"Com os bombardeios constantes das Forças Armadas israelenses, e na ausência de condições mínimas de sobrevivência, é esperada uma quebra total da lei e da ordem, motivada por condições desesperadoras, o que torna impossível até mesmo o encaminhamento de ajuda humanitária limitada" em Gaza, escreveu ele na carta, pedindo novamente um "cessar-fogo humanitário" para evitar consequências "irreversíveis" para os palestinos e a região.

“Esperamos que o Conselho de Segurança atenda ao seu apelo", disse seu porta-voz, Stephane Dujarric. Segundo ele, desde quarta-feira, o secretário-geral conversou com o ministro das Relações Exteriores dos EUA, Antony Blinken, e o ministro das Relações Exteriores britânico, David Cameron, além de vários países árabes.

Após a carta sem precedentes de Guterres, os Emirados Árabes Unidos prepararam um projeto de resolução, que será votado na sexta-feira, informou a presidência equatoriana do Conselho de Segurança.

A última versão, além de demonstrar preocupação com a "situação catastrófica na Faixa de Gaza", também "exige um cessar-fogo humanitário imediato". O texto também pede a proteção dos civis, a libertação "imediata e incondicional" de todos os reféns e a "garantia do acesso humanitário".

O resultado de uma votação é incerto. Quatro projetos de resolução foram rejeitados pelo Conselho nas semanas seguintes ao início da guerra. O Conselho finalmente quebrou o silêncio em meados de novembro, conseguindo adotar uma resolução que pedia "pausas humanitárias e corredores" na Faixa de Gaza, ou mesmo uma trégua, mas não um “cessar-fogo”.

Os Estados Unidos, aliado de Israel que vetou um dos rascunhos anteriores e rejeitou a ideia de um cessar-fogo, insiste que um novo texto do Conselho "não seria útil nesta fase".

"Nossa posição não mudou", insistiu o vice-embaixador dos EUA, Robert Wood, na quinta-feira. "Acreditamos que a coisa certa a fazer, para todos nós, é deixar que a diplomacia dos bastidores continue. Achamos que essa é a melhor esperança para tentar melhorar a situação, para a ajuda humanitária e para a libertação de reféns", disse aos jornalistas.

"Os Estados Unidos e todos os outros Estados-membros do Conselho de Segurança da ONU têm uma obrigação clara, por respeito ao direito internacional de prevenir atrocidades", disse a secretária-geral da Anistia Internacional, Agnès Callamard, em um comunicado.

"Não há justificativa para continuar a bloquear uma ação significativa do Conselho para parar o derramamento de sangue de civis, o colapso total do sistema humanitário e horrores ainda piores que resultariam da quebra da lei e da ordem e do deslocamento em massa", acrescentou.

"Esperamos sinceramente que o Conselho de Segurança adote esta resolução e se alinhe à posição corajosa e de princípios do secretário-geral", disse o embaixador palestino na ONU, Riyad Mansour. O ministro dos Negócios Estrangeiros israelense, Eli Cohen, acusou esta quarta-feira Guterres de ser um "perigo para a paz mundial".

De Gaza a Beirute

A agência de notícias Wafa relatou operações noturnas na Cisjordânia ocupada, incluindo no centro de Ramallah, sede da Autoridade Palestina de Mahmoud Abbas.

A guerra também aumentou as tensões na fronteira entre Israel e o Líbano, onde há uma troca diária de tiros entre o exército israelense e o Hezbollah libanês, aliado do Hamas.

Durante à noite, o exército israelense relatou dois soldados levemente feridos por disparos de mísseis antitanque e anunciou que estava realizando ataques aéreos contra locais do Hezbollah.

Benjamin Netanyahu lançou um novo aviso ao movimento xiita libanês: "Se o Hezbollah optar por desencadear uma guerra total, transformará Beirute e o sul do Líbano, não muito longe daqui, em Gaza e Khan Yunis".

(Com informações da AFP)

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