Acessar o conteúdo principal

"Anarquia total": em Gaza, apesar da trégua frágil, o desastre humanitário continua

Desde o acordo de trégua na Faixa de Gaza, a ajuda humanitária tem conseguido entrar com mais regularidade na localidade. Mas "o volume de ajuda que chega aos palestinos ainda é totalmente insuficiente", denunciou o secretário-geral da ONU, Antonio Guterres, na quarta-feira (29), e a população está passando por "uma catástrofe humanitária monumental". Os repórteres da RFI em Gaza e Jerusalém conversaram com moradores locais sobre a situação.

Palestinos cozinham entre casas destruídas após ataques israelenses, no campo de refugiados de Khan Younis, no sul da Faixa de Gaza, em 29 de novembro de 2023.
Palestinos cozinham entre casas destruídas após ataques israelenses, no campo de refugiados de Khan Younis, no sul da Faixa de Gaza, em 29 de novembro de 2023. © Reuters/Mohammed Salem
Publicidade

 

Rami Al Meghari, enviado especial a Gaza, e Sami Boukhelifa, correspondente da RFI em Jerusalém

São 20h e Aabir, uma mãe palestina, está na fila desde as 6h para conseguir algo para comer. Cansada, esta noite ela perde a esperança. "É uma anarquia total. As pessoas estão pisando umas nas outras. E eu sou a única que conseguiu entrar na fila: meu irmão morreu em um bombardeio e seus filhos ficaram órfãos", explica ela. "Os outros membros da família dividem as tarefas: alguns fazem fila para comprar farinha, outros para comprar água. Essa guerra nos arrasou. É humilhante", diz à reportagem da RFI.

Volume insuficiente

Cerca de 80% da população de Gaza foi desalojada pelos bombardeios israelenses. "O sistema alimentar entrou em colapso e a fome está se espalhando", enfatizou o secretário-geral da ONU, Antonio Guterres, na quarta-feira.

O acordo de trégua acelerou o fluxo de ajuda humanitária, que antes chegava aos poucos, mas o volume ainda é insuficiente. "Acreditamos que precisamos de um cessar-fogo humanitário genuíno", defendeu o chefe da ONU. "O povo de Gaza está vivendo em meio a uma catástrofe humanitária monumental, diante dos olhos do mundo. Não podemos fechar os olhos", alertou.

Encontrando gás

Para os sortudos que conseguiram um pequeno saco de farinha para fazer pão, o desafio é encontrar gás para cozinhá-lo. Mohaned está exausto. "Minha família tem cinco membros. Como tenho uma casa grande, acolhi pessoas desabrigadas. Somos 21 aqui dentro", diz ele.

"Fiquei na fila por 26 horas para conseguir gás. Dormi do lado de fora, aqui, no frio e na chuva. Fiquei doente. Dada a escala das necessidades, os comboios de ajuda humanitária que entram em Gaza todos os dias estão longe de ser suficientes", suspira o pai de família.

Ataque em Jerusalém

O movimento islâmico Hamas reivindicou a responsabilidade, nesta quinta-feira (30), por um ataque em Jerusalém que deixou três pessoas mortas, depois de concordar em estender uma frágil trégua com Israel por um dia e libertar mais reféns israelenses em troca de prisioneiros palestinos.

O secretário de Estado americano, Antony Blinken, conclamou o primeiro-ministro israelense, Benjamin Netanyahu, a proteger "imperativamente" os civis no sul da Faixa de Gaza, caso a trégua fosse interrompida.

A trégua, que deveria durar até 7h de sexta-feira, entrou em vigor em 24 de novembro, após mais de sete semanas de bombardeios israelenses devastadores na Faixa de Gaza, em retaliação a um ataque sem precedentes lançado em 7 de outubro pelo movimento islâmico Hamas em solo israelense.

Além da volatilidade da situação, três israelenses, incluindo duas mulheres, foram mortos nesta quinta-feira em um ataque a um ponto de ônibus em Jerusalém Ocidental, realizado por dois palestinos afiliados ao Hamas, de acordo com a polícia israelense.

O movimento palestino, considerado terrorista pelos Estados Unidos, pela União Europeia e por Israel, disse estar por trás do ataque. Em um comunicado, o Hamas informou que os dois agressores eram membros de seu braço armado e de Sur Baher, um distrito de Jerusalém Oriental, a parte palestina da cidade ocupada e anexada por Israel.

A polícia israelense confirmou que os agressores, dois irmãos, foram mortos a tiros. Dois soldados israelenses também ficaram levemente feridos em um ataque com carro-bomba em um posto de controle na Cisjordânia ocupada, de acordo com o exército.

Poucos minutos antes de a trégua expirar nesta quinta-feira, o exército israelense anunciou que "a pausa operacional" continuaria, dizendo que havia recebido uma nova "lista" de mulheres e crianças a serem libertadas mais tarde.

(Com AFP)

NewsletterReceba a newsletter diária RFI: noticiários, reportagens, entrevistas, análises, perfis, emissões, programas.

Acompanhe todas as notícias internacionais baixando o aplicativo da RFI

Compartilhar :
Página não encontrada

O conteúdo ao qual você tenta acessar não existe ou não está mais disponível.