"Íamos dormir e acordávamos com fome", diz menor palestino após ser libertado de prisão israelense
Mais trinta prisioneiros palestinos foram libertados da prisão na terça-feira (28), incluindo um grande número de menores. Ao todo, são 180 prisioneiros palestinos libertados durante a trégua. O detento mais novo tem 14 anos. Todos eles puderam ver suas famílias novamente, após meses atrás das grades. A RFI conversou com alguns deles no distrito de Silwan, em Jerusalém Oriental.
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Cercado por sua família, Mustafa, de 17 anos, voltou para casa depois de passar 13 meses na prisão. Ele aperta suas mãos, sua perna treme e ele acha difícil ficar quieto. "Tudo mudou depois de 7 de outubro. Retiraram tudo de nossos quartos, todos os dias os guardas entravam e nos batiam, batiam nos jovens e nos velhos, nos torturavam", conta.
"As chuveiradas eram a cada dois dias e, se você não quisesse, não havia outra maneira de tomar banho. Eles pararam de nos dar porções reais de comida. Íamos dormir com fome e acordávamos com fome. Mas Deus estava conosco", testemunhou o menor à reportagem da RFI.
Perguntado sobre o que ele teme agora, seu semblante endurece e Mustafa responde que não "tem o direito de responder", porque tem medo de represálias.
Trauma
Suad Mitwalli é uma psicóloga que trabalha com ex-presidiários há mais de 20 anos e com menores libertados da prisão nos últimos 5 anos. Ela relatou à reportagem que, "muitas vezes, eles têm dificuldade de se adaptar quando saem da prisão."
"É como se tivessem crescido rápido demais. Depende de sua experiência, de sua personalidade e do tempo que passaram na prisão. E de sua experiência na prisão. Alguns deles passaram por muita tortura", denuncia.
"Quando eles saem [da prisão], tornam-se paranoicos em relação às pessoas ao seu redor, têm medo constante. A maioria dos presos tem problemas de sono e distúrbios alimentares", afirma.
Segundo ela, é difícil para os ex-detentos menores voltarem a ter uma vida normal, pois seus sonhos e a inocência da infância foram "simplesmente destruídos".
Conversas no Catar e novas libertações
A trégua entre Israel e o Hamas entra em seu sexto dia nesta quarta-feira (29), com a expectativa de uma nova troca de reféns israelenses por prisioneiros palestinos, enquanto mediadores internacionais intensificam seus esforços para obter um cessar-fogo duradouro.
O primeiro-ministro israelense, Benjamin Netanyahu, não fez nenhum comentário sobre as discussões em andamento para tentar estender a trégua, mas disse que os serviços de segurança acrescentaram 50 nomes à lista de detidos palestinos que provavelmente serão trocados por reféns.
Na terça-feira, o Catar recebeu autoridades de inteligência israelenses e norte-americanas. Eles estudaram os elementos que permitiriam que a trégua fosse estendida e também discutiram maneiras de conseguir um cessar-fogo mais longo, disse uma fonte familiarizada com o assunto.
Em uma declaração conjunta na terça-feira, os ministros das relações exteriores do G7 também pediram que o cessar-fogo fosse estendido e que mais ajuda humanitária fosse entregue ao enclave palestino.
A trégua proporcionou a Gaza sua primeira pausa após sete semanas de combates e bombardeios que reduziram grande parte do enclave palestino a escombros.
O acordo inicial entre Israel e o Hamas para uma trégua de quatro dias deveria expirar na noite de segunda-feira, mas os dois lados concordaram em estendê-la por dois dias para permitir a libertação de mais pessoas.
(RFI e AFP)
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