Papa Francisco viaja para Mongólia de olho na Rússia e na China
O pontífice deixou Roma na noite de quinta-feira (31). O destino não é tradicional, devido à pequena comunidade católica e maioria budista, mas o país é estratégico por conta da localização entre duas superpotências, a Rússia e a China. O papa fica na Mongólia até 4 de setembro e um dos objetivos da viagem é também se aproximar dos dois grandes vizinhos.
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A longa viagem, um voo de nove horas de Roma até a capital da Mongólia, Ulã Bator, será um teste para a saúde do pontífice de 86 anos, que em junho foi submetido a uma grande operação abdominal sob anestesia geral e mal consegue andar.
O papa Francisco disse no domingo que estava “feliz” por conhecer “um povo nobre e sábio” com uma “Igreja pequena em número, mas dinâmica na fé”.
Antigo Estado sob proteção da União Soviética que se tornou uma democracia em 1992, a Mongólia tem uma das menores comunidades católicas do mundo, estimada em cerca de 1.400 membros, num total de cerca de três milhões de habitantes. O país, que tem 25 padres (apenas dois mongóis) e 33 freiras, orgulha-se de ter o cardeal mais jovem da Igreja Católica.
A viagem demonstra o desejo de levar a mensagem da Igreja aos diversos lugares do mundo, longe de Roma, ao mesmo tempo que promove o diálogo inter-religioso. Mas também é inegável a dimensão geopolítica da visita.
A visão de longo prazo do Vaticano é ter “uma presença (...) em países onde isso não é necessariamente óbvio”, estima Paul Elie, do Centro para Religião, Paz e Assuntos Mundiais da Universidade de Georgetown, em Washington, numa entrevista à AFP.
Posição estratégica
“Se a ida à Mongólia mantém as portas abertas para toda esta região, é uma visita que vale a pena e com relativamente poucos inconvenientes”, avalia Elie.
A Mongólia, que já fez parte do império do conquistador Gengis Khan, é três vezes maior que a França e está localizada entre os gigantes Rússsia e China, e sem acesso ao mar. O país depende de Moscou para o fornecimento de energia e de Pequim para vender os seus recursos minerais, principalmente carvão.
O país procura manter a neutralidade entre os seus dois vizinhos, ao mesmo tempo que desenvolve as suas relações com outras nações como os Estados Unidos, o Japão e a Coreia do Sul.
É uma posição potencialmente útil para a Santa Sé, que renovou com Pequim, em 2022, um acordo histórico assinado em 2018 sobre a espinhosa questão da nomeação de bispos na China, num contexto de tensões relativas à situação dos católicos sob o regime comunista.
A Mongólia mantém relações bilaterais com a Coreia do Norte e “não tem diferenças com os seus vizinhos, o que é bastante raro na Ásia”, observa à AFP Julian Dierkes, especialista em ensino da Mongólia na universidade da Colúmbia Britânica.
Primeiro papa a visitar o país, Francisco chega na manhã de sexta-feira (01), mas terá 24 horas para descansar antes de iniciar as suas reuniões oficiais no sábado, com o primeiro-ministro Luvsannamsrai Oyun-Erdene, membros da sociedade civil, diplomatas, padres e missionários.
Mudanças climáticas
No domingo, Francisco vai falar em um encontro inter-religioso (uma das suas cinco aparições públicas) e presidirá uma missa num estádio de hóquei. O programa não prevê viagens fora da capital.
O papa deve aproveitar a viagem para falar novamente sobre o impacto das mudanças climáticas, que juntamente com a atividade de mineração e a pastagem excessiva estão acelerando a desertificação do país.
Eventos climáticos extremos, como inundações, tempestades de areia e secas, dizimaram rebanhos de gado, forçando os nômades, que constituem um terço da população, a migrar para favelas no entorno da capital.
Em dezembro, eclodiu um movimento de protesto em resposta a um escândalo de corrupção na indústria do carvão, aumentado pelo descontentamento generalizado com a inflação e por uma economia lenta, devido à pandemia e à guerra na Ucrânia.
A visita do papa faz parte do cerco diplomático em torno da Mongólia nos últimos meses: o presidente francês Emmanuel Macron esteve lá em junho e o primeiro-ministro Luvsannamsrai foi recebido em Washington em agosto.
No ano passado, uma delegação de monges budistas e padres católicos foi recebida no Vaticano para celebrar o 30º aniversário do estabelecimento de relações diplomáticas entre a Santa Sé e a Mongólia.
A delegação foi liderada pelo cardeal italiano Giorgio Marengo, nomeado no ano passado por Francisco e que aos 49 anos é o cardeal mais jovem da Igreja Católica. Este missionário que está presente na Mongólia há 20 anos é também o seu mais alto funcionário católico.
(Com informações da AFP)
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