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Maior ataque russo perto de Odessa destrói 60 mil toneladas de grãos e deixa feridos

Ataques russos destruíram 60.000 toneladas de grãos para exportação armazenados no porto ucraniano de Chornomorsk, perto de Odessa, no sul do país, informou o ministro da Agricultura ucraniano nesta quarta-feira (19). O presidente Volodimir Zelensky acusa a Rússia de ter atacado "deliberadamente" locais utilizados pela Ucrânia para estoque e embarque de grãos, três dias depois do acordo sobre a exportação desses produtos expirar. 

Ataques atingiram novamente Odessa e seus arredores, em 19 de julho de 2023. Eles atingiram este prédio, do qual vemos uma foto do pátio, com brinquedos infantis e entulhos. O ataque também foi direcionado às instalações portuárias da região, por onde passam os grãos exportados pela Ucrânia.
Ataques atingiram novamente Odessa e seus arredores, em 19 de julho de 2023. Eles atingiram este prédio, do qual vemos uma foto do pátio, com brinquedos infantis e entulhos. O ataque também foi direcionado às instalações portuárias da região, por onde passam os grãos exportados pela Ucrânia. REUTERS - STRINGER
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"Vai demorar pelo menos um ano para reparar totalmente a infraestrutura danificada. No porto de Chornomorsk, foram destruídas 60.000 toneladas de grãos, que deveriam ter sido embarcadas pelo corredor há 60 dias", afirmou Mykola Solsky, em comunicado publicado no site do Ministério da Agricultura. 

"Os terroristas russos apontaram deliberadamente suas armas contra as infraestruturas do acordo sobre grãos", denunciou Volodymyr Zelensky em mensagem pelo Telegram, acrescentando que deseja "reforçar a proteção das pessoas e das infraestruturas portuárias". Em nota, ele ainda mencionou que as forças russas atacaram as regiões de Odessa (sul) e de Zhitomir (oeste). 

A Procuradoria-Geral ucraniana indicou, também através do Telegram, que este é o "maior ataque" russo na região e que "terminais de grãos e petroleiros foram danificados", além de "casas, infraestruturas agrícolas e veículos". 

Algumas horas antes, a Força Aérea ucraniana havia informado sobre a destruição de 23 dos 32 drones explosivos lançados pelas forças russas, e de 13 dos 16 mísseis de cruzeiro Kalbir lançados por Moscou na região de Odessa. 

É nessa região que ficam os três portos utilizados por Kiev para exportar seus produtos agrícolas por meio de um acordo com a Rússia, que expirou na noite de segunda-feira (17). 

Antes do amanhecer, seis mísseis Kalibr e 21 drones explosivos Shahed-136 de fabricação iraniana lançados pela Rússia contra Odessa (sul) foram "destruídos" pela defesa antiaérea ucraniana, afirmou o governador da província, Oleh Kiper, no Telegram. "Infelizmente, os destroços dos mísseis derrubados e a onda expansiva da derrubada danificaram a infraestrutura portuária e várias residências particulares", disse ele.

Os novos ataques deixaram ao menos 12 feridos na região, segundo o governador Oleg Kiper. O Ministério Público, por sua vez, comunicou um balanço de 10 feridos. 

Os combates se concentram no leste da Ucrânia. Na terça-feira (18), 10 civis ficaram feridos em bombardeios russos, indicou nesta quarta-feira pelo Telegram o governador da região de Donetsk (este), Pavlo Kyrylenko. 

"Sem garantias de segurança" 

Na terça-feira (18), a Rússia alertou a Ucrânia sobre o perigo de continuar exportando grãos pelo Mar Negro. Moscou afirmou que não há mais "garantias de segurança", após o fim do acordo de um ano que permitia o transporte de cereais por esta rota. "Na ausência de garantias de segurança adequadas, há alguns riscos", disse o porta-voz do Kremlin, Dmitry Peskov. Ele enfatizou que, se "algo for preparado sem a Rússia, esses riscos devem ser levados em consideração". 

O porta-voz respondia a uma pergunta sobre a vontade declarada da Ucrânia de continuar exportando seus grãos através do Mar Negro, com ou sem o acordo de Moscou sobre a segurança dos navios.  O presidente ucraniano, Volodimir Zelensky, disse que "mesmo sem a Rússia", era preciso "fazer o possível para utilizar esse corredor [para as exportações] no Mar Negro". "Não temos medo", frisou. 

A província de Odessa, às margens do Mar Negro, abriga os principais terminais marítimos para o acordo de exportação de grãos ucranianos entre Kiev e Moscou, que expirou às 18h de segunda-feira, no horário de Brasília.  

O ministro das Relações Exteriores da Rússia, Sergei Lavrov, enfatizou a posição do Kremlin, afirmando ao seu colega turco, Hakan Fidan, que o fim do acordo significava "a retirada das garantias de segurança da navegação", o que torna o noroeste do Mar Negro, por onde circulavam os cargueiros, novamente "uma área provisoriamente perigosa". 

Os pobres são os mais prejudicados

Esse pacto permitiu a exportação de mais de 32 toneladas de grãos ucranianos no ano passado, principalmente milho e trigo, o que ajudou a estabilizar os preços mundiais dos alimentos e a prevenir o risco de desabastecimento.

O secretário-geral da ONU, António Guterres, advertiu que milhões de pessoas terão que "pagar o preço" da decisão da Rússia, que, segundo ele, "afetará as pessoas mais pobres em todo o mundo".       

A União Africana (UA) também "lamentou" hoje a decisão russa e lembrou que a organização regional "apoiou" o acordo "desde o início". 

Na segunda-feira, a Rússia havia sinalizado a sua rejeição ao prolongamento do acordo de exportação de grãos ucranianos, assinado em julho de 2022 com mediação de ONU e da Turquia, e prorrogado várias vezes posteriormente. Moscou denunciou que sua exigência de retirada dos obstáculos à exportação de produtos agrícolas e fertilizantes russos não estava sendo atendida. 

Nesta terça-feira, Dimitri Peskov também acusou a Ucrânia de usar o corredor marítimo aberto no Mar Negro sob o acordo de grãos com "fins militares", um dia depois de Kiev ter atacado a ponte estratégica que liga o território russo à península anexada da Crimeia. 

O Ministério da Defesa russo confirmou ter destruído com mísseis "as instalações onde foram preparados atos terroristas contra a Rússia", assim como o local de fabricação dos drones navais usados no ataque à ponte. 

Na ponte da Crimeia, "a circulação de veículos foi restabelecida no sentido contrário" em uma de suas faixas, informou o vice-primeiro-ministro russo, Marat Khusnullin. 

Na segunda-feira, uma fonte do serviço de segurança ucraniano (SBU) disse à AFP que o ataque à ponte, que matou dois civis, fora obra da Marinha e do serviço secreto ucraniano, com ajuda de drones navais. 

Desde o início do conflito, a Ucrânia tem realizado regularmente ataques à Crimeia, uma região estratégica que serve de base de retaguarda para as tropas russas em sua ofensiva contra a Ucrânia. 

Rússia avança no terreno 

No campo de batalha, o Exército russo anunciou, na terça-feira, ter avançado 1,5 km durante "operações ofensivas" perto de Kupiansk, no nordeste da Ucrânia, área onde Kiev constatou uma concentração de tropas russas. 

O comandante das forças terrestres ucranianas, Oleksandr Sirski, afirmou que a situação é "difícil", mas está "sob controle" no leste da Ucrânia. 

Por sua vez, o general Mark Milley, chefe do Estado-Maior conjunto dos Estados Unidos, relatou nesta quarta-feira que as forças de Kiev estão se deparando com posições russas reforçadas com minas e trincheiras, mas que "estão abrindo passagem de forma lenta, deliberada e constante através de todos estes campos minados, e é uma luta difícil". 

Segundo a Força Aérea ucraniana, 31 drones foram derrubados em todo o país, dos 36 que a Rússia lançou durante à noite. 

(Com informações da AFP)

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