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Rússia alerta Ucrânia sobre exportação de grãos no Mar Negro: “riscos devem ser considerados”

Um dia após ter se recusado a renovar o acordo que permitia a exportação de grãos no Mar Negro, a Rússia fez um alerta à Ucrânia nesta terça-feira (18). Segundo Moscou, não há mais “garantias de segurança” para utilizar as mesmas rotas e Kiev deve considerar “riscos” caso dê sequência ao transporte de cereais na ausência do pacto.

O navio cargueiro "Rahmi Yagci" deixa o porto de Odessa, no sul da Ucrânia, em 9 de agosto de 2022. Foto de arquivo.
O navio cargueiro "Rahmi Yagci" deixa o porto de Odessa, no sul da Ucrânia, em 9 de agosto de 2022. Foto de arquivo. © AP Photo/Michael Shtekel
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O ministro russo das Relações Exteriores, Serguei Lavrov, indicou que o fim do acordo coloca um ponto final nas garantias de segurança de navegação no Mar Negro, uma “zona provisoriamente perigosa”. “Os ministros estão pensando em outras opções para fornecer grãos aos países que mais precisam”, indicou a diplomacia russa em comunicado.

Desde a meia-noite de segunda-feira (17), o acordo assinado em julho de 2022 sob mediação da Turquia e da ONU, e renovado diversas vezes desde então, deixou de valer. O motivo, segundo Moscou, são os entraves ao comércio de fertilizantes e outros produtos russos pelos países ocidentais.

Ataques russos em Odessa

Nesta terça-feira, a Rússia também acusou a Ucrânia de usar o corredor marítimo aberto com o pacto "para fins militares", depois que Kiev atingiu, no dia anterior, a ponte que liga o território russo à península da Crimeia. Em retaliação, Moscou afirmou ter destruído "as instalações onde foram preparados atos terroristas contra a Rússia", bem como o local onde são fabricados drones navais, na região de Odessa, no sul da Ucrânia.

No total, seis mísseis Kalibr e 21 drones explosivos de fabricação iraniana lançados pela Rússia foram interceptados pela defesa antiaérea ucraniana. "Os destroços e o impacto danificaram as infraestruturas portuárias e várias residências de civis", indicou o governador da região, Oleg Kiper, no Telegram.

Odessa abriga três portos através dos quais a Ucrânia podia, desde que o acordo foi firmado, exportar seus produtos agrícolas, apesar da guerra e do bloqueio imposto pelos russos. Em um ano, o acordo permitiu a exportação de cerca de 33 milhões de toneladas de cereais por meio dos portos ucranianos, principalmente milho e trigo, ajudando a estabilizar os preços mundiais e evitar o risco de uma crise mundial de falta de alimentos.

Na segunda-feira, o presidente ucraniano, Volodymyr Zelensky, deixou a entender que as exportações poderiam continuar, mesmo na ausência do pacto. "Tudo deve ser feito para que possamos usar este corredor [para transporte de grãos] no Mar Negro. Não temos medo", declarou.

Temor de crise alimentar

A suspensão do acordo suscita temores de uma nova alta de preços e de uma crise de insegurança alimentar, castigando ainda mais alguns países africanos, que já sofrem com o problema. Imaginamos que haverá um efeito nos preços, um efeito sobre a disponibilidade de produtos que eram exportados com esse acordo de grãos. Alguns países, principalmente na África e também no Oriente Médio, são altamente dependentes do trigo que é exportado da Ucrânia graças a esse pacto, e há temores de aumento dos preços de mercado nesses países”, explicou à RFI Anne Garella, gerente de operações da ONG Ação contra a Fome pela Ucrânia.

Segundo ela, Madagascar e a República Democrática do Congo, por exemplo, são 100% dependentes do trigo ucraniano. “São países já desestabilizados por uma série de fatores que criam hostilidades. Portanto, há razões para temer que um aumento nos preços dos alimentos reforce essas falhas nesses países”, alerta.

Para Garella, a não renovação do pacto também coloca um fim ao único canal de diálogo entre os governos da Rússia e da Ucrânia. “Não há nenhum avanço diplomático, nenhuma discussão - sejam tentativas de negociações lideradas por chineses ou africanos - que leve a uma melhoria nas condições de segurança na Ucrânia. Ainda estamos em um conflito de altíssima intensidade”, destaca.

Ela lembra que desde julho do ano passado, quando o compromisso foi firmado, havia um cessar-fogo na região de Odessa e no Mar Negro. Mas, com o fim do pacto, a situação deve mudar. Para nós, atores humanitários, isso significa que corremos o risco de não ter mais acesso a essas áreas e, acima de tudo, significa que as populações estarão expostas a mais violência”, prevê.

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