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Cúpula dos países mais pobres do mundo destaca falta de vontade política para combater desigualdades

Os líderes dos países mais pobres do mundo se reuniram em Doha, neste domingo (5), sob a égide da ONU, pedindo "ações concretas" contra a pobreza extrema. O encontro evidencia um olhar desiludido sobre o modelo econômico global. Com a participação de 33 países da África, 12 da Ásia-Pacífico e o Haiti, o evento havia sido adiado duas vezes devido à pandemia de Covid-19. Todos os participantes pertencem à categoria de Países Menos Desenvolvidos, (PMDs ou LDCs na sigla em inglês), criada há 50 anos e destinada a garantir apoio internacional especial.

O secretário-geral das Nações Unidas (ONU) António Guterres fala durante a 5ª Conferência dos Países Menos Desenvolvidos (LDC5) em Doha, em 4 de março de 2023. (Foto de KARIM JAAFAR/AFP)
O secretário-geral das Nações Unidas (ONU) António Guterres fala durante a 5ª Conferência dos Países Menos Desenvolvidos (LDC5) em Doha, em 4 de março de 2023. (Foto de KARIM JAAFAR/AFP) AFP - KARIM JAAFAR
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“Chega de desculpas”, afirmou o secretário-geral da ONU, António Guterres, aos países mais ricos, dos quais nenhum chefe de estado ou de governo esteve presente, a não ser o país anfitrião. “Já é hora de os países desenvolvidos cumprirem seu compromisso de fornecer aos PMDs entre 0,15 e 0,2% de sua renda nacional bruta”, acrescentou. Para o líder da organização, o grupo de 46 nações carece de apoio adicional  que deve ser exigido de imediato. António Guterres destacou que este conjunto de economias representa uma em cada oito pessoas do planeta. 

O Emir do Qatar, Sheikh Tamim bin Hamad Al-Thani, falou da "falta de justiça na relação entre os centros industriais avançados e as periferias", apelando a "um mundo novo mais seguro, mais justo e mais livre para hoje e amanhã".

Porém, enquanto um plano de ação foi adotado na Assembleia Geral da ONU no ano passado, nenhuma grande contribuição financeira era esperada na cúpula. Os países menos desenvolvidos deveriam desfrutar de privilégios comerciais e acesso mais fácil a ajuda e outros financiamentos. Desde 1971, seu número - 24 no início - quase dobrou.

Espera-se que o pequeno Butão saia da categoria este ano, enquanto Bangladesh, Laos, Nepal, Angola, São Tomé e Príncipe e as Ilhas Salomão devem permanecer no grupo até 2026.

Crises atuais acentuam a pobreza

Todos os países pobres afundaram sob o efeito das crises recentes: Covid-19, a guerra na Ucrânia, além da inflação dos alimentos e produtos energéticos. A emergência climática é outro problema grave. 

Meio século depois da criação do estatuto de PMD, "a constatação é inequívoca", lamentou o presidente do Djibuti, Ismaël Omar Guelleh. “Estamos aquém dos objetivos perseguidos na maioria das áreas”, afirmou. “Precisamos avaliar criticamente a eficácia de nossos vários planos e tomar medidas corretivas", insistiu.

Faustin-Archange Touadera, presidente da República Centro-Africana (RCA), denunciou as sanções do Conselho de Segurança da ONU, dizendo que seu povo não entendia como o país continuava "um dos mais pobres do mundo" apesar das abundantes reservas naturais, especialmente de ouro, diamantes e urânio. Em meio à uma guerra civil desde 2013, a RCA está no centro da estratégia de influência de Moscou na África. O papel crescente do grupo paramilitar russo Wagner levou a França, ex-potência colonial, a retirar seus últimos soldados do país, no final de 2022.

Para Dereje Alemayehu, coordenador da ONG Global Alliance for Tax Justice, dizer que os PMDs precisam de dinheiro "é a melhor maneira de evitar a reforma das estruturas que os aprisionam na pobreza".

A conferência da ONU dos Países Menos Desenvolvidos foi aberta oficialmente neste domingo, depois de uma rodada de discursos no sábado (4) e deve durar até 9 de março.

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