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Clima: Calotas polares podem entrar em colapso com apenas meio grau de aquecimento adicional

As calotas polares, cujo derretimento elevaria os oceanos em muitos metros, podem entrar em colapso com meio grau de aquecimento adicional do clima, de acordo com estudos recentes que confirmam suas fragilidades. As calotas polares da Groenlândia e da Antártida perderam mais de 500 bilhões de toneladas por ano desde 2000, o que equivale a seis piscinas olímpicas a cada segundo.

Groenlândia, em 29 de setembro de 2022.
Groenlândia, em 29 de setembro de 2022. © Creative Commons / Wikimedia
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Mas os modelos climáticos até agora subestimaram a contribuição destas calotas para o risco de elevação do nível do mar, contabilizando apenas o efeito do aumento da temperatura do ar no gelo - e negligenciando as interações complexas entre a atmosfera, os oceanos, as calotas polares e certas geleiras.

Pesquisadores baseados na Coreia do Sul e nos Estados Unidos estabeleceram qual será a elevação do nível do mar até 2050 de acordo com os diferentes cenários dos especialistas em clima do IPCC/ONU.

Se as atuais políticas climáticas forem cumpridas – o que inclui compromissos assumidos pelos países no Acordo Climático de Paris de 2015 –, o degelo na Antártida e na Groenlândia resultaria em um aumento de cerca de meio metro do nível da água.

Um número que subiria para 1,4 metro no pior cenário, caso houvesse um aumento significativo nas emissões de gases de efeito estufa.

Derretimento desenfreado

O estudo dos cientistas, publicado esta semana na revista Nature Communication, também aponta quando o derretimento desenfreado e a desintegração incontrolável dessas camadas de gelo podem ocorrer.

"Nosso modelo tem limiares entre 1,5°C e 2°C de aquecimento – sendo 1,8°C nossa melhor estimativa – para acelerar a perda de gelo e o aumento do nível do mar", explicou Fabian Schloesser, da Universidade do Havaí, coautor do estudo. As temperaturas já subiram quase 1,2°C em todo o mundo desde a era pré-industrial.

Os cientistas já sabem há muito tempo que os mantos de gelo da Antártica Ocidental e da Groenlândia – que podem elevar o nível do mar em até 13 metros a longo prazo – têm "pontos de inflexão" além dos quais sua desintegração seria inevitável. Mas as temperaturas associadas a esse fenômeno nunca haviam sido identificadas com precisão.

Outros estudos publicados esta semana na Nature também mostram que a geleira Thwaites, na Antártica Ocidental, está se fraturando de maneira insuspeita. Esta geleira do tamanho da Grã-Bretanha já recuou 14 km desde a década de 1990, mas o fenômeno ainda não havia sido bem compreendido, por falta de dados.

Ameaça à água potável

Uma expedição de cientistas britânicos e americanos perfurou um buraco equivalente a duas Torres Eiffel (600 metros) de profundidade através da espessa camada de gelo empurrada por Thwaites para o Mar de Admundsen. Eles descobriram sinais de erosão acelerada – com formações em forma de escada invertida –, além de rachaduras abertas pela água do mar.

"A água quente se infiltra nas rachaduras e contribui para o desgaste da geleira em seu ponto mais fraco", revela Britney Schmidt, autora de um dos estudos e professora da Cornell University, em Nova York.

Outro estudo, publicado na Earth's Future, aponta que a elevação dos oceanos destruirá terras aráveis ​​e fontes de água potável e forçará milhões de pessoas ao exílio antes do esperado.

“O tempo que temos para nos preparar para uma maior exposição a inundações pode ser muito menor do que se supunha anteriormente”, concluem os autores.

Vulneráveis

Até agora, as estimativas se basearam fortemente em dados mal interpretados: ao medir a altitude das regiões costeiras usando radar, as copas das árvores ou telhados muitas vezes foram confundidos com o nível do solo. A altitude, portanto, é realmente muito menor do que pensávamos.

Dezenas de milhões de pessoas estão particularmente vulneráveis ​​nas áreas costeiras de países como Bangladesh, Paquistão, Egito, Tailândia, Nigéria ou Vietnã.

(Com informações da AFP)

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