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Turquia: há 20 anos, o AKP impulsionou Recep Tayyip Erdogan ao poder

Em 3 de novembro de 2002, na Turquia, eleições antecipadas levaram ao poder um partido fundado apenas um ano antes: o AKP, Partido da Justiça e Desenvolvimento. Esta vitória surpreendente impulsionou um político ambicioso e carismático para o cenário nacional e internacional: Recep Tayyip Erdogan, que se tornaria primeiro-ministro em março de 2003, depois presidente em 2014.

O AKP, partido do presidente da Turquia Recep Tayyip Erdogan, está no poder há 20 anos.
O AKP, partido do presidente da Turquia Recep Tayyip Erdogan, está no poder há 20 anos. AP - Vyacheslav Prokofyev
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Para os cerca de 30% dos eleitores que ainda constituem a base eleitoral do AKP, Recep Tayyip Erdogan é e sem dúvida continuará sendo, aconteça o que acontecer, um líder notável. Um homem que libertou seu país da tutela dos militares, que o tornou essencial no cenário internacional, que deu voz e lugar a setores inteiros da sociedade que se sentiam excluídos pelas elites republicanas - em particular as mulheres com véus - e que desenvolveu muito a economia e a infraestrutura.

Por outro lado, para a maioria dos turcos – aqueles que nunca o apoiaram ou que o apoiaram por um tempo e depois se afastaram – Recep Tayyip Erdogan construiu um regime autocrático, suprimindo pacientemente todos os contrapoderes (Legislativo, Judiciário, mídia…), sucateando instituições, dividindo, polarizando a sociedade como nunca antes e prejudicando a imagem da Turquia no cenário internacional.

"Erdogan acabou com a velha Turquia. (Mudou) hospitais, transportes… Alguns minimizam tudo isso, mas são mudanças enormes. Podemos dizer que, com ele, a Turquia realmente entrou em uma nova era", disse um eleitor do AKP ouvido pela reportagem da RFI

Um regime cada vez mais autoritário

Apesar de todas as dificuldades e do estabelecimento de um regime cada vez mais autoritário, a longevidade de Tayyip Erdogan pode ser explicada por vários fatores, mas o populismo e a polarização são, sem dúvida, os principais.

Para construir esse regime autoritário, Tayyip Erdogan sempre contou com eleições, com o apoio de parte da população. E ao fazê-lo tem utilizado – de forma cada vez mais forte e visível – um discurso de segurança e uma política identitária cada vez mais baseada no islamismo e no nacionalismo, que polariza a sociedade ao excluir todos aqueles que não se reconhecem neste discurso.

Sempre que Tayyip Erdogan se sentiu ameaçado – durante os protestos no Parque Gezi em 2013, quando perdeu a maioria absoluta no Parlamento em junho de 2015 ou durante o golpe fracassado de julho de 2016 – ele acentuou essa estratégia, que chega ao auge hoje com sua aliança com os ultranacionalistas do MHP.

Recep Tayyip Erdogan há muito se beneficia de outros fatores, sobretudo divisões dentro da oposição e inegável desenvolvimento econômico. Este último se traduziu no estabelecimento de laços estreitos com parte do empresariado e na partilha do crescimento com a população, principalmente por meio da ajuda social.

Líder da oposição é acusado de espalhar desinformação

O presidente do principal partido de oposição da Turquia, e provável candidato presidencial no ano que vem contra o atual presidente Recep Tayyip Erdogan, se tornou a primeira pessoa a ser acusada sob a nova lei de desinformação, nesta quinta-feira (3).

De acordo com uma fonte do seu partido CHP (social-democrata), confirmando a informação da imprensa, Kemal Kiliçdaroglu está sendo processado por "divulgação pública de informação enganosa" pela liderança da polícia nacional. De acordo com o artigo 29 desta lei controversa, adotada no mês passado pelo Parlamento turco, Kiliçdaroglu pode pegar até três anos de prisão.

Ele havia denunciado, na segunda-feira via Twitter, a responsabilidade do governo do AKP na disseminação do que ele chamou de "uma epidemia de metanfetaminas" na Turquia. O líder do CHP afirmou, também, que o governo estava recuperando parte do dinheiro sujo desse tráfico para compensar o déficit público. 

O ministro do Interior, Süleyman Soylu, respondeu-lhe no dia seguinte, da mesma forma, considerando que não cabia a um cidadão turco, muito menos a um presidente de partido, caluniar o Estado, a polícia e o Exército".

Para o advogado do CHP Celal Çelik, citado pela agência de notícias Anka (próximo à oposição) “eles (as autoridades) haviam avisado que este artigo (29) seria aplicado a políticas com o objetivo de restringir sua liberdade de expressão. Foi exatamente o que aconteceu."

Adotada em 13 de outubro, apesar das fortes críticas de organizações de direitos humanos e liberdade de imprensa, a lei de desinformação foi publicada no Diário Oficial e promulgada cinco dias depois.

Novas eleições

Com a aproximação de novas eleições, marcadas para junho do ano que vem, e com inflação recorde de mais de 80% em um ano na Turquia e a relativa unidade de sua oposição - que são dois novos elementos - a vitória do presidente turco é menos garantida do que nunca. Mas não é impossível.

Tayyip Erdogan é um líder particularmente habilidoso, que sempre soube tirar proveito das crises. Se a oposição não encontrar a estratégia certa, Recep Tayyip Erdogan terá as cartas na mão para vencer novamente.

(Com Anne Andlauer, correspondente da RFI em Istambul, e AFP)

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