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Personalidades francesas cantam em persa para apoiar povo do Irã

A artista franco-iraniana Marjane Satrapi, autora de "Persépolis", e o Coletivo 50/50 reuniram 48 homens e mulheres em um clipe da canção “Barayé” veiculado nas redes sociais nesta quarta-feira (2). O objetivo é fazer a voz do povo iraniano ser ouvida através das personalidades e cidadãos franceses.

Cerca de 50 personalidades francesas interpretam a canção "Barayé" de Shervin Hajipour em persa, em apoio ao povo iraniano.
Cerca de 50 personalidades francesas interpretam a canção "Barayé" de Shervin Hajipour em persa, em apoio ao povo iraniano. © Capture d'écran issue du clip vidéo
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“Para dançar na rua. Pelo medo de um beijo. Para minha irmã, pela sua, pela nossa", diz a letra da música. Sobre um fundo preto, com fones de ouvido, as atrizes Chiara Mastroiani, Camille Cottin, a cantora Yael Naim ou mesmo o diretor Olivier Loustau emprestam suas vozes para interpretar, em persa, o título “Barayé” (“Para”), que se tornou o hino da revolta no Irã.

"Não há nada mais tocante do que quando as pessoas tentam falar na sua língua", sublinha Marjane Satrapi, que chegou à França em 1994 e conta a sua saga para fugir da Revolução Islâmica, em 1979, na história em quadrinhos - que posteriormente virou filme - "Persépolis". 

O músico Benjamin Biolay assina o arranjo musical desta versão de "Barayé".

Barayé

Desde o início da revolta no Irã, em 16 de setembro, com a morte da jovem Mahsa Amini, após sua prisão pela polícia da moralidade por usar o véu considerado impróprio, essa música se tornou o grito de guerra de todos os iranianos que se manifestam.

A canção pode ser ouvida em vídeos sendo cantada por meninas do ensino médio em protesto, por mulheres iranianas sem véus nas ruas das cidades do Irã e em encontros de apoio ao povo iraniano em todo o mundo.

“Uma mensagem do povo francês ao povo iraniano”

"É uma mensagem do povo francês para o povo iraniano", resume Marjane Satrapi, enquanto de acordo com os últimos relatórios de ONGs, a repressão já matou cerca de 300 pessoas e milhares foram presas. A autora e diretora franco-iraniana refuta a maternidade do projeto. A autora e diretora Aïla Navidi e o Coletivo 50/50, que trabalham pela paridade e diversidade no cinema, uniram forças para ecoar a voz dos iranianos além das fronteiras e dos muros da ditadura.

"Ficamos extremamente tocados com este movimento, originalmente iniciado por mulheres, depois acompanhado por homens, e pelo fato de que a juventude de um país inteiro, que só conheceu a ditadura, está se manifestando por sua liberdade", explica Clémentine Charlemaine, copresidente do coletivo, que também lembra que muitos artistas, como o cineasta Jafar Panahi, estão presos no Irã.

Ao final do clipe, os rostos e vozes, aos quais se sobrepõem imagens do filme Persépolis, formam um mosaico cada vez maior. “Podemos dizer: qual é o sentido desse tipo de ação? Mas os iranianos com quem mantenho contato me dizem que, quando recebem sinais de apoio de fora, sentem-se mais fortes, protegidos. Eles não querem uma intervenção, militar ou não. O que eles querem é sentir que o mundo os ouve, que eles são ouvidos, porque é isso também que lhes dá coragem, amanhã, em uma semana, em duas semanas, para sair à rua correndo o risco de morrer, para pedir uma mudança. Não há nada pior do que a indiferença, então, o que quer que façamos, qualquer mensagem que enviemos, é positivo e pode trazer apoio", diz Charlemaine. 

Assim como o clipe, “Barayé” é de certa forma um trabalho coletivo: foi agregando os tuítes que resumem os motivos da raiva dos iranianos sob a hashtag #Mahsa_Amini que Shervin Hajipur escreveu a música. Horas depois de ser postado no Instagram, em 27 de setembro, o vídeo acumulou 40 milhões de visualizações. Preso e liberado alguns dias depois, o jovem foi silenciado e o vídeo deletado de sua conta.

“Há tudo nesta música”, sublinha Marjane Satrapi. “Os 43 anos de humilhação, de repressão, de pobreza... Até alusões à proibição de ter um cachorro". "Absurdos para o mundo ocidental", ela sublinha.

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