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Justiça francesa investiga presidente da Interpol, acusado de tortura nos Emirados Árabes Unidos

A Justiça francesa investiga, desde o final de março, o presidente da Interpol, Ahmed Nasser al-Raisi, dos Emirados Árabes Unidos. Ele é acusado de "cumplicidade em torturas", após a denúncia de dois britânicos.  

O chefe da Interpol, Ahmed Nasser Al-Raisi, durante a assembleia geral da Interpol, em novembro de 2021
O chefe da Interpol, Ahmed Nasser Al-Raisi, durante a assembleia geral da Interpol, em novembro de 2021 AP - Francisco Seco
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A Procuradoria Nacional Antiterrorista (PNAT) confiou a investigação a um juiz de instrução de Paris após uma denúncia sobre "torturas" e "detenções arbitrárias", em 2018 e 2019. Como autoridade policial nos Emirados Árabes Unidos (EAU), Al-Raisi seria considerado cúmplice.

Esse tipo de denúncia na França permite atribuir quase automaticamente o caso a um juiz de instrução. O sistema judiciário do país tem jurisdição universal em casos de tortura se os suspeitos estiverem em seu território. Desde janeiro, Al-Raisi esteve várias vezes em Lyon, no leste da França, onde fica a sede da agência internacional de cooperação policial. 

O primeiro denunciante, Matthew Hedges, é um estudante de doutorado na Universidade de Durham, na Inglaterra, especialista nos Emirados Árabes Unidos. Durante uma entrevista coletiva em Lyon, em outubro, ele explicou a suposta espionagem que sofreu durante uma viagem de estudos aos Emirados Árabes Unidos. Ele disse ter sido detido e torturado entre maio e novembro de 2018 e "forçado a fazer uma confissão falsa". Condenado à prisão perpétua em novembro de 2018 no país, Hedges recebeu indulto uma semana depois, em meio à pressão internacional. 

Durante a coletiva de imprensa, Ali Issa Ahmad, agente de segurança de Wolverhampton (centro da Inglaterra), explicou que foi espancado várias vezes e até esfaqueado entre janeiro e fevereiro de 2019 no emirado de Sharjah. Ahmad foi acusado de apoiar claramente a seleção de futebol do Catar, vestindo uma camisa com a bandeira do país rival dos Emirados Árabes Unidos durante uma partida da Copa da Ásia, o que teria motivado as agressões por ele.

Para os denunciantes, Al-Raissi "é o responsável final pela tortura perpetrada contra eles pelas forças policiais dos Emirados". "Nada disso teria acontecido sem o consentimento ou envolvimento dele", asseguram.

Entrada da sede da Interpol em Lyon, na França.
Entrada da sede da Interpol em Lyon, na França. © AP Photo/Laurent Cipriani

"Sem fundamento"

Diante das acusações, o presidente da Interpol poderia usar sua imunidade diplomática? "Al-Raisi não tem imunidade", declarou em janeiro o advogado britânico dos denunciantes, Rodney Dixon. "Esperamos dele, como presidente da Interpol, sua total cooperação durante toda a investigação sobre seu papel nas torturas e nos abusos perpetrados", acrescentou.

Em seu comunicado, os denunciantes asseguram que iniciaram ações penais na Noruega, Suécia e Turquia, bem como uma ação civil no Reino Unido. A presidência da Interpol é um papel essencialmente honorário, que Al-Raisi obteve em novembro após sua eleição pelos países-membros, apesar dos protestos de defensores de direitos humanos e líderes políticos.

A PNAT também abriu uma investigação preliminar contra o alto funcionário dos Emirados após uma denúncia de "tortura" e "atos bárbaros" pela ONG Gulf Center for Human Rights (GCHR). A denúncia refere-se ao caso de Ahmed Mansoor, um dos principais defensores de direitos humanos nos Emirados. A Interpol disse em janeiro que este caso era "um assunto entre as partes afetadas".Em um comunicado publicado em janeiro de 2020, o ministério das Relações Exteriores dos Emirados rejeitou as alegações "infundadas" da ONG sobre Mansoor.

(Com informações da AFP)

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