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"Eleição de Al Raisi na presidência da Interpol é desrespeito à lei internacional", diz Anistia

A eleição do general Ahmed Nasser Al Raisi, dos Emirados Árabes Unidos, na presidência da Interpol, confirmada nesta quinta-feira (25) em Istambul, apesar das acusações de tortura que pesam sobre o militar, provoca reações indignadas de defensores de direitos humanos. 

O novo presidente da Interpol, general Ahmed Nasser Al Raisi, dos Emirados Árabes Unidos, foi alvo de denúncias de tortura na França e na Turquia.
O novo presidente da Interpol, general Ahmed Nasser Al Raisi, dos Emirados Árabes Unidos, foi alvo de denúncias de tortura na França e na Turquia. via REUTERS - INTERPOL
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Em entrevista à RFI, Pedro Neto, diretor-executivo da Anistia Internacional em Portugal, disse que "o que está em causa é um desrespeito pela lei internacional, pelas convenções contra a tortura e uma grande arbitrariedade". Ele critica "uma campanha que levou em consideração as doações [financeiras] distribuídas pelos Emirados Árabes Unidos" em detrimento das queixas prestadas contra o major-general emiradense

De acordo com Edward Lemon, professor assistente de aplicação da lei transnacional na Texas A&M University, os Emirados Árabes Unidos doaram US$ 54 milhões para a Interpol em 2017 e cerca de € 10 milhões em 2019.

Al Raisi derrotou a tcheca Sarka Hvrankova, única rival na disputa. Ele foi eleito na presidência da Organização Internacional de Polícia Criminal, um cargo sobretudo honorífico, por dois terços (68,9%) dos 195 estados-membros da entidade. Com sede em Lyon, no sudeste da França, a Interpol é comandada no dia a dia pelo secretário-geral da organização, o alemão Jurgen Stock, reeleito em 2019 para um segundo mandato de cinco anos. Al Raisi já integrava o comitê executivo da organização.

O general foi alvo de várias queixas judiciais por detenção arbitrária e "tortura" apresentadas por advogados na França, onde a Interpol está sediada, em Lyon (sudeste), e na Turquia, onde aconteceu a 89ª Assembleia Geral. Uma das vítimas, o cidadão britânico Matthew Hedges, disse que foi detido e torturado entre maio e novembro de 2018 nos Emirados Árabes Unidos, depois de ser preso sob falsas acusações de espionagem durante uma viagem de estudos. 

A ONG Gulf Center for Human Rights (GCHR) acusa Al Raisi de "atos de tortura e barbárie" contra o opositor Ahmed Mansour. Pedro Neto, da Anistia em Portugal, relata o caso de um homem que foi preso nos Emirados simplesmente por estar vestido com uma camiseta do Catar.   

Essas queixas não resultaram em nenhum processo judicial. Após o anúncio da vitória, Al Raisi reagiu veladamente às críticas. "Vou continuar a reafirmar um princípio fundamental de nossa profissão: o abuso policial ou os maus-tratos de qualquer tipo são hediondos e intoleráveis", disse ele em um comunicado. O general acrescentou que trabalhará "para prevenir qualquer influência inadequada que possa minar ou comprometer a missão essencial da Interpol".

Al Raisi ingressou na Polícia de seu país em 1980, onde fez carreira. Ele ocupou vários cargos de alto escalão, incluindo o de diretor-geral de operações centrais em Abu Dhabi. Em 2015, foi nomeado chefe das forças de segurança dos Emirados Árabes Unidos. Ele tem um doutorado  da London Metropolitan University e ajudou a implantar avanços tecnológicos importantes em seu país, como o sistema de reconhecimento facial. Em seu site, Al Raisi se apresenta com um largo sorriso no rosto, muitas vezes vestindo uniforme militar ou a tradicional túnica longa. É possível vê-lo recebendo medalhas e troféus na Gâmbia, Arábia Saudita, Colômbia ou Itália.

Manipulação do sistema de alerta da Interpol

Mas de acordo com um relatório britânico publicado em março, os Emirados desviaram o funcionamento do sistema de alerta vermelho da Interpol, que divulga avisos de buscas de suspeitos de crimes em todo o mundo, para pressionar opositores políticos. Outros países são acusados ​​de fazer o mesmo.

A eleição de Al Raisi foi saudada por Anwar Gargash, assessor do presidente dos Emirados Árabes Unidos e ex-ministro das Relações Exteriores do país do Golfo. "A campanha de difamação organizada [contra Al Raisi] foi esmagada na rocha da verdade", disse ele.

Al Raisi diz estar "totalmente voltado a tornar as comunidades mais seguras". “Nos últimos 40 anos, desde que era estudante na academia de polícia até hoje, como presidente da Interpol, este princípio simples me guia”, concluiu.

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